30- Nova Vida

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Eu estava imobilizada por cobertores, olhava para os lados e via uma cesta com fibra de palha ao meu redor, tentava gritar para me tirarem dali, mas da minha boca saía um choro infantil que só me deixava mais nervosa e me fazia gritar mais, estava desesperada e com fome, nada me acalmaria, mas de súbito uma voz de anjo se fez ouvir.

_Psiu, calma meu anjo, logo estará segura. _ela começou a cantarolar, um canto triste, meio interrompido as vezes por soluços, mas era lindo, logo me calei para conseguir ouvir melhor.

_ainda bem que veio. _a voz parou de cantar. _Por favor, leve-a para ele, peça-o que a proteja a qualquer custo.

A voz entregou o cesto para outro. Eu comecei a chorar em protesto.

_ei, eu te amo, amo, amo tanto. _ela começou a chorar e eu me calei para ouvi-la novamente. _Tome meu anjo. _ela colocou algo brilhante dentro do cesto, algo como um colar. Em seguida colocou uma carta ao meu lado. _Dê isso ao Marcos. _ela se curvou e me deu um beijo, e foi aí que eu a vi. Cabelos louro prateados como a lua, olhos acinzentados como o céu da tarde no inverno, o semblante dela estava carregado de tristeza e amor. Eu sorri para aquele anjo, ele sorriu de volta, era lindo, tão lindo aquela imagem que eu soltei um risinho. _Cuide do seu pai. _ela me beijou novamente com lábios frios molhados por lágrimas.

Assim que ela se afastou de certo modo compreendi a energia da despedida no ar, então meus gritos se intensificaram.

_Obrigada Jane. _a voz do anjo soluçou.

_Cuidarei dela Ágata. _a voz era pétrea. _Eu farei de tudo para mantê-la segura, e quando chegar a hora vai se tornar forte o suficiente para nosso mundo.

_Adeus. _Ouvi a voz do anjo pela última vez.

A voz severa me levava para longe, eu gritava, tentava ao máximo resistir, mas meus braços eram pequenos e sem força. Depois de um tempo senti minha garganta doer de tanto gritar, então me limitei a choramingar e me debater. A pessoa que me carregava parou, uma mão enfeitada por anéis se enfiou dentro do cesto, ela acariciou meu rosto, mas eu estava furiosa e mordi o dedo dela, ela então retirou a mão e seu rosto apareceu acima de mim. Era bonita, cabelos dourados, olhos negros, um rosto lindo e sério.

_Sua pestinha! _ela disse, mas o sorriso em seu rosto demonstrava carinho. _ficará bem, se acalme. _ela passou a mão em meu rosto novamente.

Dessa vez não a mordi, apenas tentei encontrar conforto naquela mulher, pois o anjo estava longe agora, e algo em meu pequeno coração me trazia certa melancolia, aquilo não havia me parecido um até longo.

***

_Acorde, acorde logo, ou Walter não vai demorar a nos pegar pelo pescoço para desocupar logo o trem!

Abri os olhos, e lá estava Peter, o rosto um pouco amassado pelo longo cochilo que tiramos.

_ei, já chegamos? _estava meio atordoada, lembrava de um sonho totalmente novo, e eu confesso que cheguei a achar que quando acordasse estaria novamente na segurança da minha cama, desceria para o café da manhã, brigaria com Laura e principalmente com Ângela, depois ouviria músicas a caminho da escola no carro com a Luísa e ficaria de mau humor quando minha mãe dissesse que minhas irmãs eram inocentes de qualquer erro, eu é que criava sempre caso. Mas agora estava com meu primo Peter me olhando impaciente.

_É Crys, venha logo! _Peter pegou meu braço e me puxou me pondo de pé, ele era forte.

Olhei para o banco pronta para agarrar minha bolsa, mas ela não estava ali. Peter pegou a intenção no meu ato.

_Eles levam nossas coisas, analisam o que pode e o que não pode ficar com a gente no acampamento, no meu caso penso que meus pertences sofrerão poucas baixas, mas suas coisas de humano serão confiscadas certamente.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora