21- Rose

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Tyler pôs uma mão no meu ombro, ele me olhava com uma preocupação genuína nos olhos. _Você está bem? _ele disse baixinho, como que para sua voz não me incomodar.

A verdade era que nem ao menos eu sabia se estava bem. Até o momento eu estava lidando bem com as coisas, tive meus picos de medo nos encontros com o vampiro desgarrado e com os Vazios, mas eu estava assimilando bem as coisas que estavam me sendo contadas. Todas aquelas coisas loucas e sobrenaturais pareciam um bálsamo refrescante sobre minhas feridas e incertezas, pois por mais que me sentisse perdida diante de um mundo mágico e desconhecido a qual eu pertencia ao mesmo tempo eu me sentia aliviada, aliviada em saber que meu mundo presente estava ruindo mas havia toda uma nova gama de possibilidades que eu podia desbravar. Finalmente eu enxergava um motivo para que eu me sentisse tão deslocada, eu tinha raízes em outros lugares. O desprezo da minha mãe adotiva podia doer mas eu tinha minha mãe biológica, e podia haver razões plausíveis para que ela tivesse me deixado... eu só não esperava que essa razão fosse sua morte.

Eu sempre lidei com a morte de uma mãe irreal, alguém que por um infortúnio morreu em um acidente trágico. Não me tome por fria, mas eu nunca remoí essa história, sempre que pensava sobre isso eu me convencia que ela tinha morrido por que era assim que o destino tinha que ser. Mas agora as coisas eram diferentes.

Minha mãe não morreu em um acidente, ela se sacrificou por mim, se sacrificou pelo bem de todos. Aquela mulher continuava não tendo um rosto para mim, mas ela tinha personalidade, ela tinha uma energia vibrante. Em uma simples carta deixada ela conseguiu despir sua alma na minha frente, se mostrando uma mulher forte e apaixonada, alguém que eu me orgulhava, alguém que eu daria tudo para conhecer! E depois de internamente alimentar essa possibilidade tudo foi tirado de mim novamente.

Eu respondi ao Tyler com um acenar positivo de cabeça, isso não o convenceu _Sabe _ele disse suavemente _não precisa ser forte sabia? _ele bufou _ela era sua mãe, é normal estar triste e confusa, nós somos amigos, eu estou aqui com você!

Aquilo foi a coisa que faltava para que eu desabasse, tinha aguentado a dias as intempéries de um passado de mentiras e traições que parecia estar voltando para me assombrar, mas agora eu não estava mais tentando segurar nenhuma emoção. Tyler me abraçou, eu comecei a chorar por tudo, por uma família que de repente não parecia me pertencer, por um pai que de repente descobrira ter mais segredos do que eu imaginava, mas sobretudo chorei por uma mãe que nunca conheci, uma mãe forte capaz de doar tudo por amor, até mesmo sua alma, doar tudo a mim. Naquele instante eu pensava na vida que eu poderia ter tido ao lado daquele ser desconhecido, mas que ao mesmo tempo parecia ter conhecido de longa data dos meus sonhos, a mãe amorosa a que eu poderia ter chamado de minha se o destino não fosse um roteirista de tragédias.

_Xi... pode deixar as emoções virem, desabafar é o primeiro passo para se curar. _Tyler me oferecia seu ombro, nunca eu havia imaginado que aquele garoto privilegiado em beleza e de ar arrogante pudesse ser um amigo tão companheiro e sensível.

Acho que fiquei mais de uma hora ali, mas com o tempo meu choro se cessou, eu me peguei me sentindo meio boba nos braços de um menino que até a pouco tempo nem cogitava dizer um oi. Me desvencilhei dos seus braços, o olhei meio envergonhada, ele estava com a cara límpida como se nada tivesse acontecido.

_Não sei você, mas eu é que não tenho mais sono, mas também já são quase sete da manhã. Vamos tomar um chocolate quente?

_tá. _disse sem graça limpando os olhos com as costas da mão.

_Vou ir pegar na cozinha, espere só um minutinho. _Tyler saiu da biblioteca apressado.

Nos últimos dias minhas impressões sobre aquele garoto mudaram drasticamente, antes ele era apenas um menino da turma, ou melhor, "o menino", alguém que eu nunca cogitaria um dia ter algum laço. Tyler sempre possuiu um ar de superioridade irritante, sempre havia ao seu redor uma névoa de beleza, inteligência e agilidade que nunca me permitiu ver ele da forma que eu começava a ver. Agora eu via nele um amigo, talvez meu único amigo, pois a Lívia era um tanto quanto inconstante para não dizer algo mais, e a Lú era o que eu ainda podia chamar de família. Ele era a única pessoa que não possuía laço de sangue comigo, mas mesmo assim se importou comigo desde o dia que me encontrou na rua fugida de casa, na verdade até mesmo antes quando me defendeu da Ângela depois da encenação da peça teatral, nossa! Aquilo parecia pertencer a outra vida.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora