81- Lar

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Pensei que, no dia em que tivesse que voltar para a minha casa no mundo humano, estaria me sentindo mais nervosa. No entanto, após atravessar um portal distante de casa e entrar no carro conduzido por um motorista sério e atarracado, que eficientemente esperava por Jane Sullivan nas proximidades do portal, e seguir durante quatro horas de carro até a suntuosa casa de Susan Halle em Huntsville, Texas, só conseguia pensar no quanto já estava com saudades dos meus amigos e de Tyler. O nervosismo de encontrar minha mãe e irmãs depois de tanto tempo – um ano para mim, pouco mais de dois meses para elas – parecia menos importante.

Desembarquei em frente à casa grande, pintada em tons pastéis, que dava ao edifício uma aparência calma, algo que dificilmente vivenciei nos meus últimos meses morando ali. Caminhei decididamente em direção à porta da frente.

— Crystal — minha avó disse com um tom de voz calmo — hoje o seu pai não estava em casa para se despedir de você.

Olhei serenamente para minha avó e respondi sem titubear:

— Não precisa tentar justificar isso, não fiquei chateada. _Bem, eu tinha coisas mais relevantes para me chatear com meu pai, essa não era uma delas.

— Então, meu bem — falou minha avó — ele não estava porque veio mais cedo do que nós para o mundo humano.

Franzi o cenho:

— O que Marcos tem a tratar aqui?

Minha avó deu de ombros:

— Achamos que, para o seu bem, deveríamos deixar claro para Susan que você não é fruto de um adultério.

Meus olhos se arregalaram em surpresa:

— Ele vai contar para ela que é meu pai?

Fiquei subitamente irritada. Minha avó teve quatro horas tediosas de viagem de carro para me contar sobre isso, por que me dizer isso só agora?

_O que exatamente ele irá dizer?

Minha avó deu de ombros como se fosse óbvio:

— Naturalmente não dirá nada sobre a Ordem. Ele apenas dirá que é o seu pai.

Suspirou para me explicar melhor:

— Vamos dizer que Gheorge era um filho adotivo para mim. Deu de ombros. O que não é totalmente mentira, nós o acolhemos como família no mundo dos Guardiões. Bem _continuou _diremos que a namorada do Marcos, Ágata, engravidou e eles tiveram o bebê, mas que Ágata morreu em um trágico acidente. Marcos, de coração partido e sendo muito jovem, não se sentiu preparado e nem capaz de criar uma filha. Gheorge, que já tinha uma estrutura familiar estável, aceitou adotar a criança, retribuindo o gesto de amor que tivemos com ele, e lhe oferecendo uma família melhor estruturada _ela tocou meu ombro _mas a pedido de Gheorge mantemos isso em segredo, para você ter uma família o mais normal possível, sendo assim, o Marcos tentou acompanhar o seu crescimento de longe, para não te confundir.

Após a longa explicação da minha avó, eu a olhei sem muito entusiasmo.

— Vocês são ótimos mentirosos — falei azeda.

— Crystal — disse ela no mesmo tom que uma mãe fala para uma criança birrenta — só fazemos o necessário _ela olhou em volta, apontando para uma BMW preta na garagem _ele deve ter finalizado sua conversa com Susan, então vamos entrar _ela me olhou em tom de reprimenda _ e você vai se comportar bem, sem grandes dramas.

Me senti levemente ofendida:

— Como se eu estivesse fazendo drama o tempo todo. _revirei os olhos, eu tinha motivos para meus conflitos com meu pai _eu vou tratá-lo da melhor maneira possível _disse por fim, já irritada com aquela rede de mentiras.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora