48- Revanche

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Tyler

Eu olhava para Kirk a minha frente. Maya havia lutado bravamente com ele, explorando durante um longo tempo os seus pontos fortes, e quase o vencera assim. O erro fatal de Maya talvez tenha sido o seu ego. Peter costumava acusar os guerreiros de ter, por natureza, um ego inflado, que costumeiramente colocava em xeque o bom senso em frente ao orgulho.

O meu orgulho me mandava dar a Kirk exatamente o que Caios e Natasha pediram. Que eu acabasse com ele, o fizesse sair arrastado dessa luta. E eu felizmente faria isso, por que Natasha merecia uma vingança pelo sofrimento da amiga, e mesmo por Caios, que apesar de não nos termos como grandes admiradores um do outro, havia me pedido para fazer a Kirk o que ele não teria chance de fazer ele mesmo. E não apenas pelos pedidos de Natasha e Caios. Eu também queria de certo modo derrubar Kirk, o humilhar naquela luta, vê-lo coberto de hematomas, com fúria extrema, mas obsoleta diante das suas chances de me vencer. Isso me parecia justo, não apenas porque eu não gostava dele pessoalmente, mas pelo que ele havia feito para Maya.

No mundo humano pareceria horrível um garoto com o triplo do tamanho de uma menina, se engalfinhar com ela, em combate. Fisicamente um homem era mais forte que uma mulher, então seria insano fazer isso, certo?

Bem, não no acampamento de treinamento da Ordem da Lua. Ali as meninas da casta guerreira não eram indefesas, elas tinham em seu DNA o gene guerreiro, poderiam lutar de igual para igual com qualquer garoto, e quando elas venciam não era um motivo para surpresa. Elas eram guerreiras, sem porém.

Mesmo assim algo me deixou enjoado em ver a forma com que o Kirk parecia achar interessante machucar a Maya. Não apenas machucar, ele havia a massacrado, a ferido deliberadamente, pelo vil prazer de causar sofrimento a ela, e provocar seus desafetos, que eram amigos da garota. Isso me fazia ter vontade de socar a cara dele.

Mas agora, vendo Kirk me olhar do outro lado do tatame, parecia ter algo errado com o sorriso afetado dele, como se ele estivesse querendo me derrubar, querendo me vencer... mas não da forma com que havia feito com Maya. Não havia mais ali um visível instinto assassino, apenas a cara retorcida de um garoto que não era gentil, mas que também não parecia ter um gene assassino, como o que havia apresentado dias atrás.

Isso me desconcertou até certo ponto. Talvez a Crystal estivesse certa, e eu não fosse um juiz da verdade, que pudesse compreender tudo que havia acontecido, e decidir qual punição cada pessoa merecesse ter pelos seus crimes. E pelo que tínhamos ouvido na floresta parecia um consenso entre meu grupo que o Kirk agiu daquela forma a mando de alguém.

Mas mesmo a mando de alguém, ele não me parecia exatamente como pareceu dias atrás. Eu agora enxergava nele apenas o menino desagradável que encontrei desde o primeiro dia no acampamento, um menino cruel... mas não ao ponto de tentar matar algum colega de ordem, bater, humilhar, machucar...sim, mas não matar.

_Sabe Montreal, isso vai ser interessante _Kirk me media do outro lado do tatame _naquelas primeiras semanas no acampamento eu me diverti te dando uns chutes, mas até então você era tão medíocre que não chegava a ser nem ao menos um desafio... mas agora você parece estar mais equiparado com os outros guerreiros, pode afinal ser divertido te chutar agora.

_Você acha mesmo Kirk? _ele parecia concentrado, mas não da forma que esteve em golpear a Maya e a torturar. O brilho em seus olhos não possuía a mesma sede assassina de outrora.

Com um salto Kirk se projetou para frente, ele rodopiava o bastão em suas mãos a medida que se aproximava de mim.

Não foi tão fácil me livrar daquele movimento agressivo, eu era rápido, não tanto quanto Natasha provavelmente, mas mesmo assim confiava na minha rapidez, no entanto Kirk havia aprendido um pouco com a luta passada, então talvez ele não estivesse tão inconsciente do que havia acontecido afinal.

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