35- Monstros na curva

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As semanas passaram ferozmente, Peter me emprestou um monte de livros dos místicos para que eu lesse e me ajudasse nos testes, mas meu nervosismo não me deixou aprender nada, e eu li apenas dois deles, eles eram enormes, falavam de forma desconexa de ervas místicas, símbolos mágicos, portais, eu sempre reclamava com o Peter que eles não faziam sentido, mas ele sempre respondia que para os místicos faziam.

Tyler parecia como uma figura irreal, não o vira mais. Eu resumia meus dias a ficar deitada em minha cama em meio a um enorme dormitório de garotas, fingindo que dormia quando as garotas voltavam para seu interior a noite a fim de manter qualquer piada longe, mas mesmo assim eu podia ouvir o tom de nojo de Meandre ao falar de mim e o de desprezo de Maya e Natasha.

A manhã do dia de início dos testes amanheceu pincelada de tons de preto e cinza no céu, o sol era impotente em meio a tanto nevoeiro, ao olhar ao meu redor eu quase pulei de susto, o dormitório estava vazio. E agora? Sabia que os testes teriam início nas arenas da floresta das batalhas esquecidas, eu ouvi dizer que ela ficava perto da praça central, deveria ter um caminho por ali que levava até lá, mas daí eu encontrar tudo sozinha era algo que eu não contava.

Eu me vesti com cota de malha fina negra, mas era flexível e confortável, por cima eu usava um manto cinza escuro com capuz, eles eram novos, foram entregues junto com um monte de roupas e coisas que se usavam por ali para mim, minha família pagava por tudo pelo que sei, família deve ser minha avó, é eu já a chamo de avó, ou meu pai, sei lá, quando perguntei ninguém me respondeu. Penteei meus cabelos rápido e me preparei para a manhã cheia que eu teria. Estava pronta para sair quando Natasha entrou no dormitório correndo, ela foi até sua cama e pegou algo de lá e se preparou para sair novamente correndo quando eu resolvi tentar a sorte.

_Os testes não tiveram início né?

Ela me olhou com uma ligeira preguiça, como se eu fosse inoportuna como um piolho que se abrigava na sua cabeça.

_Só um monte de discursos, e a bela adormecida vai estar bastante encrencada se Lady Sophie descobrir que você ficou dormindo durante todo esse tempo.

_Se alguém tivesse me acordado! _eu acusei.

_A coisinha tem alguma criada aqui? _ela estava petulante e ácida.

_Não, mas... sei lá, pessoas legais fazem esse tipo de coisa.

_Eu não sou uma pessoa legal. _ela disse com um sorriso forçado.

_Posso pelo menos te acompanhar? Não conheço as coisas ainda. _odiava me humilhar, mas era isso ou ter de perder mais tempo, e assim correr o risco de perder os testes.

_Tanto faz. _ela se virou e se pôs a caminhar, eu a segui.

Natasha praticamente corria, eu a seguia aos tropeços pelas ruas. Tudo tinha um silêncio mórbido, corvos cantarolavam para dar ao ar uma conotação ainda mais lúgubre. A floresta das batalhas esquecida era longe, andamos por uns dez minutos, Natasha para meu espanto quebrou o silêncio.

_Como é saber que vai se dar mal? _ela olhou com uma curiosidade ferina e cruel.

_Eu não sei, eu ainda não sei os resultados. _Tentei me manter estável.

_Seu amiguinho vem treinando bem, ele já conseguiu até derrubar o Caios em um duelo de espadas! _ela já parecia odiar menos o Tyler.

_Bom pra ele. _Tyler não era meu assunto favorito.

_E pelo que vi ele voltou a ser amigo da Meandre, ela é um lixo! Mas pelo menos ela tem potencial! _eu a olhei abalada. Tyler virara amigo de Meandre? Ele já deveria ter notado o tipo de pessoas que ela era. _Peter não havia lhe dito né? Ele tenta te poupar de coisas do tipo.

_Não me diz respeito as amizades do Tyler.

_Não o culpe, ele já entendeu que os grandes não podem andar com pequenos. _ela sorriu. _tem certeza que é filha mesmo de Ágata Stowe Sullivan?

_Pelo que me contaram sim. _estava com raiva agora.

_Deveria mesmo conferir isso, teste de DNA também existe aqui, peça uma exumação! _Ela riu _esqueci, ela não deixou restos mortais, consumida em um sacrifício!

_Não gosto de falar sobre isso. _depois de ver uma foto de minha mãe e mim lembrar dela eu comecei a ficar emotiva ao falar ou ouvir dela.

_Deveria gostar, ela é apenas o que você tem, um nome a que tentar se vincular.

_Cala a boca. _disse entre dentes.

_Ei, se você não fosse uma... coisinha, eu quebraria sua boca agora, ninguém fala assim comigo. _ela ameaçou, mas não havia raiva, apenas uma indiferença.

_Ei, o que você pensa que é? _estava começando a perder a linha, na verdade já havia perdido.

_Natasha Salvatore. _ela me olhou erguendo suas voluptuosas sobrancelhas vermelhas.

_Para mim é apenas uma idiota com um superego, tentando diminuir os outros para se sentir melhor, aposto que não passa de uma garotinha assustada. _eu disse de maneira pausada, dando ênfase a cada palavra e conferindo agressividade extra ao ato.

_E você o que é? _ela disse com nojo. _Não passa de uma idiota que de tanto viver no mundo dos humanos se tornou tão negligente com suas obrigações que chega a ser ridículo a ordem te aceitar aqui, deveriam te deixar com aqueles mortais idiotas que se diziam seus familiares. _ela me olhou e me assustei com sua agressividade. _Acha que não sabe os resultados dos testes? Pois eu já sei, ficará em um grupo ridículo, com pessoas que não conseguem fazer jus a marca que tem, junto com pessoas que só não serão mais imprestáveis do que você. _Ela deu uma risada maldosa _ E aí não vai importar se você é prima do Peter ou se já se considerou amiguinha do Tyler Montreal, você será sobrepujada, entregue a vergonha, designada para as piores missões, até que sua total insignificância a presentei com uma morte igualmente ridícula do que foi sua vida.

_Não sabe de nada _tentei garantir um tom forte e decidido, mas na verdade eu tinha medo que ela tivesse razão.

_Ah é? Então por que Marcos Sullivan não esperou por você aqui? Por que ele nem ao menos entrou em contato com você? _ela suspirou com deboche. _ele deve ter vergonha de ter uma filha tão insignificante, e ele sendo um grande mestre deve ter preferido ficar longe daqui a passar vergonha diante de todos se associando a uma cria débil e fraca!

_CALA A BOCA! _eu gritei dessa vez.

Eu não vi quando Natasha se virou, só senti quando uma forte pancada atingiu o meu estômago, eu perdi o ar e em seguida fui acertada por um chute que me lançou no chão. Eu caí com um estardalhaço em meio as folhas secas e a neve, de cara no chão, os gravetos arranharam a minha cara e quando passei a mão no rosto ela veio manchada de um pouco de sangue de um corte na testa. Eu tossi para consegui recuperar o fôlego, quando me virei vi Natasha me olhando com desprezo.

_Disse para não me mandar calar a boca. _ela se virou e continuou a andar enquanto eu fiquei me contorcendo enquanto tentava recuperar um pouco de ar para me levantar.

Assim que me pus de pé comecei a segui-la a certa distância. As lágrimas picavam meus olhos, mas eu as engolia tentando me agarrar aos resquícios de dignidade que ainda me restava. Depois de mais uns cinco minutos Natasha sumiu em uma curva e depois eu escutei um som agourento, parecia o som de alguma fera fictícia vinda da TV, meu sangue gelou, aquilo me era familiar. Eu ouvi um grito e não sei por que mais meus instintos não foram de correr para longe, pelo contrário, vi minhas pernas em uma explosão de adrenalina se pôr a toda velocidade em frente, em direção de onde vinha o grito.

Lá na frente vi Natasha cercada por dois vazios, um aparentava ser um humano, ou algum dia ter sido, o outro era algo mais, tinha no mínimo dois metros e meio, sua estrutura era desumana com músculos permeados por grossas veias negras, seus olhos estavam invadidos por vermes e na mão segurava uma grande clava, de longe eu sentia um fedor purulento de decomposição que me faria vomitar se o medo não estivesse fazendo minhas entranhas se liquefazerem em horror. Natasha havia sido a dona do grito certamente, agora claramente podia notar que a voz havia sido dela, na sua expressão não havia mais a petulância de sempre, a única coisa que eu via era o mesmo medo que eu sabia que eu também transparecia.

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