71- Vigília

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Sabe aquele instante que o ar fica preso em seus pulmões e você parece perder a capacidade motora de respirar ou se mover? Era assim que eu me encontrava naquele instante, estava a metros de distância de onde Cassandra se encontrava. A mística estava ajoelhada no chão olhando para o céu como uma fiel que fazia uma prece silenciosa. A garota trajava um vestido azul celeste que abraçava seu corpo como um amante apaixonado, seus braços estavam desnudos, talvez o frio não tocasse sua pele da mesma forma que tocava a nossa. Ela se levantou do chão, sacudiu a sua cabeleira enquanto fitava o céu da floresta parcialmente oculto pelas copas das suntuosas árvores. No rosto da mística havia felicidade, isso era indicado por um plácido sorriso que brincava em seus lábios de forma divertida.

_Eu odeio a forma que ela parece feliz consigo mesmo _falou Natasha ao pé do meu ouvido.

Mas Cassandra tinha reais motivos para estar feliz, na cabeça dela estávamos presos, ela havia nos vencido na última batalha, me enganado de forma patética, roubado do meu sangue e me manipulado como massinha de modelar em suas mãos. Ficar ali, tendo que ser uma observadora muda era horrível, imagino que Natasha com seu ímpeto de guerreira se sentia ainda pior. Era horrível a nossa tarefa passiva de observar os passos da mística, mas era um mal necessário, Mestre Charlie havia nos explicado que era imprescindível que descobríssemos os próximos passos dos nossos inimigos para que não fôssemos levados pela emoção e agíssemos de maneira precipitada, dando a Cassandra, Theodor e Magda a chance de mais uma vez nos fazer de palhaços. Tyler e Peter haviam ficado junto a Charlie, Peter estava ajudando o Mestre a pensar e compreender quais seriam os planos dos nossos inimigos de agora em diante, Tyler por sua vez havia ficado junto ao mestre como um apoio guerreiro. Meu amigo havia protestado quando o Mestre ordenou que a tarefa de observar nossos inimigos em campo foi designado a mim e a Natasha, dentro do acampamento tínhamos a equipe liderada por Caios e Norman observando os passos de Theodor e Magda, eu e Natasha complementávamos essa tarefa observando os passos de Cassandra fora do acampamento. Tyler queria estar aqui, em campo conosco, mas Charlie havia explicado que ele junto de nós poderia adicionar ímpeto demais a nossa vigília, se juntássemos o temperamento explosivo de Tyler e Natasha nesta tarefa correríamos o risco dos dois se jogarem em uma batalha precipitada contra nossos inimigos. Charlie concluíra que eu junto de Tyler também tinha tendências a fazer coisas impensadas, portanto havia me colocado junto a Natasha, eu iria conseguir balancear melhor as coisas ao lado da ruiva, controlando seus impulsos por meio da minha personalidade mais calma.

Eu estava a ponto de dormir de tanto tédio. Observar Cassandra vagando de um lado para o outro na clareira não era uma visão muito estimulante. Levei um susto quando o ar a nossa volta começou a mudar. O ar pareceu ficar mais pesado, carregado de maus presságios, havia uma energia ali, pesada e nociva.

_O que está havendo? _perguntei enquanto passava a mão em meu pescoço, como que para afastar aquela tensão que me sufocava.

Natasha me olhou de maneira confusa _O que foi o que?

A ruiva não possuía sensibilidade a magia, o que estava prestes a ocorrer deveria ser algo que apenas alguém inclinado para as artes místicas tinha o dom de perceber, eu abri a boca para respondê-la mas fechei em seguida, não houve a necessidade de explicar nada.

Na clareira onde Cassandra estava o ar tremulou, a mística estava de pé em meio a clareira, a sua frente começaram a se projetar faíscas, como se um fio desencapado brincasse no ar. As faíscas começaram a aumentar até virar uma espécie de bola de fogo flutuante, a bola de fogo começou a se expandir até adotar uma forma regular, parecia um espelho formado por fogo. Diante da aparição bizarra daquela energia Cassandra caiu de joelhos no chão.

_És tu Mestre? Não esperava por um contato do Senhor _não houve nenhuma resposta vinda do espelho de fogo _É uma honra finalmente poder falar diretamente com o senhor, não me sinto digna de tal dádiva! Mas mesmo assim eu...

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora