13- Pó De Fada

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Nós andamos por toda a noite sem parar, os raios do sol entravam por entre as copas das árvores. Eu estava muito cansada, mas fazia esforço para acompanha-los. Morgue seguia decidido e sério a nossa frente. O gnomo parecia um boneco andando, suas pequenas perninhas pareciam não encontrar dificuldade em trabalhar em uma grande velocidade. Em um ponto ele se virou e falou em tom explicativo.

_Bem estamos longe do portal, mas acho que tenho ainda pó de fada suficiente para nos deixar mais perto dele.

_Pó de fada? _repeti as palavras do Morgue em um tom de pergunta.

_ Havia me esquecido que vocês não são exatamente guardiões! _Tyler fez uma carranca para ele que fingiu ignorar. _Pó de fada é uma substância obviamente produzida nos mundos das fadas, ela pode nos transportar quilômetros de onde estamos.

_Então por que não usam esse tal pó para se locomover de um planeta para outro? _perguntei extasiada.

_O poder dele não chega a tanto, se tentarmos nos tele portar para muito longe podemos acabar nos perdendo no limite da realidade e tendo que viver como espectros.

_Isso já aconteceu com alguém? _agora não estava mais tão interessada no tal pó.

_Não, quando tentamos nos teleportar para muito longe o pó nos deixa no lugar mais próximo do local que queríamos ir. _eu e o Tyler o dirigimos um olhar de poucos amigos. _Ei, não inventei a história de se perder no limite entre a realidade, apenas os contei uma das histórias do folclore das fadas. O pó apenas não pode cobrir uma distância tão longa como a que existe entre um mundo e outro. _O gnomo parecia fazer piada das nossas caras.

_Então vai ou não utilizar esse tal pó? _Tyler falou asperamente.

Morgue não nos respondeu, apenas retirou um saquinho de veludo do bolso, quando o abriu pude ver um pó semelhante a purpurina brilhar em seu interior. Segurou a mão do Tyler que o olhou desconfiado.

_Pegue a mão da garota agora. _Tyler pegou minha mão. _Precisam estar ligados a mim como uma corrente, pois para se ir a algum lugar com pó de fadas você precisa já ter ido uma vez ao local, como nenhum de você já esteve lá terão que se deixar levar por mim.

_Espera, antes tenho uma pergunta. _o olhei curiosa.

_Fale.

_Se tem esse tal pó porque não se teleportou até o portal?

_O pó que eu tenho não é suficiente para me levar até lá. Ainda teremos que percorrer algum caminho a pé, eu ir sozinho seria burrice, por isso estava procurando guardiões.

_Espere aí, os guardiões simplesmente lhes dão indutos e os mandam para nosso planeta sem nenhuma proteção? _Tyler se inseriu na conversa.

_Não... minha conexão com eles foi perdida... eu....... é....... não sabia o que fazer... então procurei ajuda por aí. _porque tanto nervosismo?

Eu e o Tyler trocamos olhares intrigados, ele apertou minha mão, pelo seu olhar parecia uma pergunta, apertei sua mão de volta para o responder que, podia ser inconsequente, mas eu o seguiria em sua decisão.

_Está esperando o que para irmos Morgue? _ se o Tyler estava apreensivo conseguiu disfarçar muito bem.

Morgue jogou todo o conteúdo do saquinho sobre nós, o pó brilhante arranhou minha garganta, ele deixava um gosto amargo na boca, fechei minha mão mais firme na do Tyler, e em um piscar de olhos estávamos fora da parte acessível da floresta, fomos para dentro de uma mata fechada.

***

Logo começou a anoitecer, arrepios corriam minha espinha de forma perturbadora. Nos embrenhávamos cada vez mais dentro da mata, o vento ainda quente do início da noite golpeava o meu rosto implacavelmente, parecia sei lá, que um perigo nos espreitava, o medalhão parecia mais pesado em meu pescoço, é as coisas estavam um pouco desconfortáveis.

_ É melhor nós pararmos assim que encontrarmos um abrigo. _Morgue estava com a respiração entrecortada, parecia compartilhar os meus temores.

_Se continuarmos a andar chegaremos mais rápido ao tal portal, eu e a Crys podemos aguentar mais algumas horas de caminhada. Certo? _perguntou me olhando inquiridoramente.

_É... _procurei parecer corajosa, mas a verdade era que estava extremamente cansada, mas não queria parecer fraca.

Morgue parou e nos olhou sério.

_Não é uma questão de resistência, é uma questão de segurança, não quer ser atacado no meio da mata quando restar apenas escuridão quer? _ele olhou ao seu redor meio nervoso _a parte do percurso que fizemos a noite era seguro, estávamos as margens da floresta, longe do portal, a partir daqui as coisas podem não ser tão seguras assim.

_Tanto faz. Se quiserem parar paramos. _Tyler não aparentava a menor apreensão.

_É garoto, você realmente tem a marca, outro humano comum estaria se mijando. _falou solenemente, pela primeira vez sendo gentil com o Tyler.

Então talvez eu não tivesse tal marca, pois confesso que estava suando frio. Morgue estava certo, logo tudo começou a se resumir a pura escuridão, não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Tyler segurou minha mão para que não me perdesse deles, ao que parece ele havia desenvolvido subitamente algum tipo de visão noturna, era a única explicação para que ele pudesse andar assim com tanta segurança, eu estava lutando com as raízes tentando me derrubar, ele parecia desviar delas graciosamente.

_Como consegue andar assim tão confiante? Para as coisas ficarem mais esquisitas só falta você dizer que desenvolveu visão infravermelha. _falei aos sussurros.

Uma risada aveludada e encantadora que eu já estava começando a me habituar chegou até meus ouvidos.

_É só se concentrar em seus outros sentidos Crys, a visão não é tudo sabia?

Concentrar em meus outros sentidos! Fechei os meus olhos e parei de tentar lutar contra a escuridão. Concentrar em meus outros sentidos. Concentrar em meus outros sentidos.

_AU! _tropecei em uma raiz e meus dedos começaram a latejar.

_o que foi? _Tyler perguntou, mais sua voz parecia um pouco carregada, por risadas! Idiota! Ele já imaginava o que havia ocorrido.

_Vai para o Japão com esse seu "concentre em seus outros sentidos!", meus outros sentidos quase arrancaram meus dedos!

_Você então não confiou tanto assim neles! _agora ele liberou a risada que estava presa.

_Vão mesmo entregar nossa posição aos nossos inimigos? _Morgue ao meu ver era meu paranoico.

_Calma duende... Gnomo. Desculpe. _Tyler pareceu soar inocente. E não parecia nem ao menos preocupado com os inimigos que Morgue mencionava.

_Tudo bem. Posso avistar uma caverna ali, vamos nos abrigar nela e de manhã podemos continuar a caminhada.

Morgue nos conduziu até uma pequena área coberta com rocha, ali a luz da lua penetrava levemente entre a copa das árvores, isso me possibilitava ver a tal caverna. Na verdade mal poderia ser chamada de caverna, a abertura na rocha era mínima.

_Isso não é exatamente uma caverna, nós mal podemos nos mover aqui sem empurrar uns aos outros para fora do abrigo! _Tyler resmungou.

_Se não gostou saia e procure um lugar para você garoto irritante. _Morgue não pareceu feliz com o comentário do Tyler, mas Tyler tinha razão. Morgue conseguia até se pôr de pé dentro da caverna, mas nós dois tínhamos que ficar sentados embolados ao lado um do outro para caber dentro daquele abrigo precário.

Logo uma fina chuva começou a cair lá fora, começou a subir um calor escaldante do chão, cortesia da alta temperatura do dia. Sentia o braço suado do Tyler colado ao meu, minha roupa pinicava, mas apesar do desconforto logo estava inconsciente, entregue a sonhos agitados.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora