61- Como Um Dia No SPA

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Com a mordida do vampiro eu pensei que viria dor, mas para minha total surpresa não veio. A sensação era apenas de torpor, meus sentidos pareciam aos poucos estarem sendo suprimidos, sugados de mim, eu não conseguia emitir som algum, pedir para ele parar ou gritar por socorro pareciam tarefas impossíveis para mim. Eu pensei que aquele fosse o meu fim, por um lado eu ansiava que não fosse, pois eu ainda tinha muito a fazer, mas por outro lado a paz do esquecimento me parecia incrivelmente atrativa.

A voz do Tyler bradou, por mais que no fundo da minha consciência eu soubesse que meu amigo se encontrava ao meu lado parecia que a voz dele estava vibrando bem longe de mim, através de um túnel de névoa e inconsistência. Eu senti os dentes do vampiro se soltando do meu pulso e como uma pessoa ferida que vê o efeito dos seus anestésicos passarem eu pude constatar a forte dor em meu pulso, bem como também a dor de cabeça e zumbido nos ouvidos trazidos com o afastamento do sugador de sangue do meu corpo. Tyler me puxou contra si, o que foi bom, se não fosse meu amigo me segurar eu cairia de cara no chão com estrema facilidade.

Em uníssono as vozes dos meus três amigos se fizeram ouvir _Você está bem?

Eu pisquei várias vezes, eu estava bem? Bem, eu estava com a cabeça bem machucada e doendo horrores, o cabelo empapado se sangue, o corpo coberto de hematomas escuros e doloridos, meu pulso parecia queimar como uma fogueira crepitando em um deserto, mas eu estava bem? Se a pergunta me fosse feita no mundo humano certamente eu encheria a boca para dizer que não, se eu tivesse um milésimo da falta de paciência de Natasha eu ainda mandaria a pessoa se foder pela pergunta idiota, mas no mundo dos guardiões era bem diferente. Como uma espécie considerada fisiologicamente evoluída nós deveríamos estar preparados para suportar situações bem piores, então se eu não estava com algum membro faltando ou em eminência de morte a minha resposta se tornava fácil de ser dada _Sim _falei tranquilizadora _estou bem!

Aos poucos a minha visão foi entrando novamente em um foco normal, eu olhei para os lados e todos me olhavam apreensivos, até mesmo Morgue, e se eu não conhecesse bem aquele picareta dissimulado eu poderia jurar que o homenzinho estava genuinamente preocupado comigo, bem, talvez estivesse preocupado somente pelo fato de eu possuir um papel fundamental em nosso plano de fuga, se tratando do gnomo não havia como saber. Meus olhos foram instintivamente focados em direção a cela do meu algoz, mas eu não pude ver o vampiro ali, ele parecia ter se escondido novamente em meio as sombras sobrenaturais da sua cela.

A voz atrevida de Natasha me tirou do meu estado de contemplação _Então o diabinho feio teve palavra, resolveu não te espremer igual um tomate atropelado por um caminhão.

Peter abriu a boca, penso que pela sua cara ele ia fazer alguma reclamação para minha amiga ruiva desbocada, mas ele foi interrompido por uma charmosa voz vinda da cela ao lado.

_Eu disse que tenho palavra, não?

O que saiu de dentro das estranhas sombras sobrenaturais de maneira alguma era o mesmo ser horrendo com o qual havíamos feito um trato, a criatura que saiu das sombras não possuía a mesma aparência e muito menos a voz ou postura do ser horrendo que havia sugado o meu sangue avidamente a poucos segundos. A pele dele era lisa e perfeita, não havia uma única mácula visível, era como um mármore branco muito bem polido. O seu cabelo continuava escuro e comprido, mas agora ele reluzia em contato com a luz do candeeiro que agora invadia a sua cela da mesma maneira que invadia a nossa. Os olhos da criatura não eram mais dois poços escuros e sem íris, os olhos reluziam em um tom carmesim brilhante. Os dentes com filamentos semelhantes ao de um tubarão não estavam mais lá, a única coisa que se enxergava eram dentes brancos e perfeitos emoldurados por uma boca vermelha e carnuda. O corpo da criatura não era mais esquelético, era atlético, o corpo estava vestido com uma calça suja e esfarrapada que agora se fazia visível fora do nevoeiro preto. Nem mesmo suas unhas apresentavam a aparência feia de antes, eram unhas normais, lisas e claras.

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