38- Os Melhores Perdedores

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Tyler

Cheguei na arena com péssimo humor, esse era meu estado desde minha conversa com Crystal. Ela era teimosa e subestimava a ela e minha capacidade de ter afeição por ela. Mas a verdade era que eu nada havia feito para mudar isso, droga, a verdade era que eu tinha um jeito prático as vezes e esquecia que nem todo mundo seguia a minha mesma linha de raciocínio. A realidade é que em toda minha vida eu nunca aceitei ser um retardatário, sempre quis ser bom, e por bom quero dizer o melhor. Me importar ou cuidar de alguém nunca foi do meu feitio, e os raros amigos que eu tive até então não eram do tipo que precisavam de cuidado.

Nunca soube o porquê e continuo a desconhecer, mas aquela menina pálida, inocente e absurdamente linda que se sentava em todas as aulas na mesma turma que eu me desconcertava. Ela não era o tipo que usava maquiagem, e nunca tentou me passar uma cantada ou me dar mole, ela simplesmente ficava ali sentada conversando com uma menina irritante chamada Lívia. Me irritava o fato de que quando ninguém estava olhando eu costumava a olhar e conjecturar como ela devia ser, do que ela gostava, como era sua personalidade, e vi a oportunidade perfeita de descobrir tudo isso quando tive que fazer um trabalho idiota junto com ela.

Eu me diverti quando constatei que ela se sentia desconfortável perto de mim, sei que ela tinha quinze anos, mas era engraçado ver alguém passar de pálida para vermelho só por conversar com um garoto. Depois ela sumiu, e eu a procurei e encontrei, e procurar por uma desconhecida não me pareceu estranho, o que foi ainda mais desconcertante, só depois analisei os fatos e percebi o quanto agi de forma absurda. Depois disso os acontecimentos foram, bem, eu mal consigo classificar. Viajamos com um duende, ou gnomo, tanto faz! Lutamos com zumbis, e descobrimos que éramos Guardiões da Lua, seja lá o que isso implique! Nem eu sei ao certo ainda!

Mas o fato é que quando cheguei ao acampamento eu fui prático! Precisava ser bom. Antes de embarcar no trem para aquele lugar minha mãe havia me chamado e dado um belo sermão sobre como não queria ter um filho fraco, então eu tentei ficar forte. Fiz contato com Meandre, ela era uma mística e me ajudou com ensinamentos do gênero, e seu amigo Kirk e Tereza me ajudaram com técnicas de duelo. Eles não foram generosos, me ensinaram superficialmente, não queriam que eu fosse tão bom assim a ponto de ser concorrência para eles, então eu depois do treino tentava aperfeiçoar o que me ensinavam, depois ia atrás do Caios. O mané adorava me chutar, então era perfeito para que eu testasse se estava evoluindo ou não.

Os ensinamentos sobre coisas dos Guardiões que eu precisava saber ficavam por conta de Peter. Peter é um cara legal, ele me ensinou um monte de coisas e me emprestou livros. Mas na verdade, com exceção do Peter, eu não gostava de nenhum daqueles idiotas, eu os usava para melhorar, foi isso que minha mãe me ensinou. Use o que tiver ao seu alcance, quando não precisar mais descarte. Mas a Crys era o tipo de pessoa que eu nunca usaria, eu me importava com ela, mas não era sua babá! Merda, mas se ela precisasse da porcaria de uma babá eu estaria disposto a ser!

Então aí as coisas ficaram estranhas, eu não achava que tinha agido mal em usar o que estava ao meu alcance para evoluir, mas também nunca tive que pensar em função de mim e de outra pessoa ao mesmo tempo, e eu acho que afinal de contas essa foi uma coisa que eu não fiz bem.

Enquanto eu estava focado apenas em meus interesses a Crys estava se ferrando, pelo que sei Peter a ajudou com alguns livros e lhe ensinou algumas coisas, mas arrogante como ela era não deve ter se saído bem apenas com a leitura e não quis o procurar para perguntar mais a respeito. Na verdade ela deveria era ter procurado alguma mística e pedir ajuda, se pelo menos ela não andasse por aí com aquela aura de delicadeza escancarada pudesse se mostrar forte o bastante para alguma mística resolver ajuda-la, mas isso não aconteceu, ao invés de se adaptar as pessoas e a sua nova realidade ela passou dias trancada naquele dormitório lendo livros às cegas, e quando acabou tendo que usar seus conhecimentos na prática apenas se deixou ludibriar pela Meandre. Não sei se fico com mais raiva de Meandre ou dela.

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