44 - Primavera

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No outro dia, acordei sentindo algo macio sobre as minhas feridas

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No outro dia, acordei sentindo algo macio sobre as minhas feridas. Fiz uma careta porque a maciez me machucava e depois eu abri o olho bom. Logo me deparei com a expressão de desapontamento da minha mãe, a empregada nova também estava no quarto e observava tudo calada, claramente assustada.
     — O que você pretendia ao fazer isso, Harry? — quis saber a minha mãe, muito séria.
      — O que aconteceu?

As lembranças eram vagas e a minha cabeça doía um pouco, com certeza aquilo não foi um sonho e eu levei uma surra bem feia. Eu nem conseguia pensar em mim, só queria saber se aquilo tinha ajudado Henry a melhorar um pouco.
      — Você estava desmaiado quando chegou aqui e Henry não me explicou nada, então me diga você! — mandou ela, irritada. Vi a empregada pedir licença e depois ela saiu carregando uma bacia azul cheia de roupas. — O que você fez?
      — Como ele está? — perguntei, tentando sentar. Avistei remédio para dor sobre a mesa de cabeceira e me coloquei a engolir um comprimido. Eu até queria continuar sentindo as dores, mas eu não conseguiria resolver nada com a cabeça pulsando.
      — Como assim?
      — Como o meu irmão está?
      — No trabalho, é claro.
      — Merda, o trabalho!... — exclamei, lembrando da Daw. Levantei rapidamente enquanto ignorava as dores e fui para o banheiro. — Que horas são?
      — Não adianta mais, já está quase na hora do crepúsculo — lhe ouvi dizer, o que me fez xingar algumas vezes.
     — Por que não me acordou?!
     — Olha o seu estado, garoto! — ela gritou mais alto que eu, gesticulando na minha direção quando voltei ao quarto.
      — Mesmo assim, eu não queria faltar na Daw! — contestei, muito insatisfeito. Peguei o celular sobre a mesa e fui direto nos meus e-mails, a fim de falar com a Nicole.
     — Ah, pronto, eu sou a culpada agora pelo fato de você ter sido um imbecil ao sair daquele jeito?! — disse a minha mãe, muito furiosa e pegando de supetão o celular da minha mão. — O que se passou pela sua cabeça ao tomar essa atitude irresponsável?
      — Irresponsável? Eu só queria conversar com o meu irmão! — exclamei, muito óbvio.
      — Você por acaso se esqueceu de tudo o que aconteceu? Ele precisa de tempo, Harry, está processando tudo o que aconteceu e você chega assim do nada perto dele?! — disse, os olhos marejando. — Ele já estava mal o suficiente pelo fato de ter agido daquela forma no casamento e agora ele quase te deixou cego, você não consegue entender que passou dos limites ao ir até lá?!     
     — Mas ele não teve culpa de nada, eu que resolvi visitá-lo, eu que fiz com que ele se desequilibrasse — joguei, muito agitado.
     — Só que você está esquecendo de que o Henry está se sentindo mal por tudo isso, droga! Como você acha que ele vai melhorar quase matando você por espancamento?!

Fiquei calado, porque no fim das contas ela tinha razão. Eu passei do ponto ao desestabilizar o meu irmão, ao ter cutucado as suas feridas de um jeito muito sujo, naquele momento eu funcionava apenas como um gatilho para as suas sensações ruins. Ele estava afastado porque queria tempo e eu invadi totalmente o seu espaço.
     — Me desculpe, eu só precisava… — sussurrei, passando a sentar na cama. — Eu só precisava vê-lo.
      — Ele precisa de tempo, de tempo! — mamãe voltou a repetir, ainda alterada. — Você não vai conseguir resolver nada fazendo as coisas sem pensar, saindo no meio da noite feito um louco. Algo de pior poderia ter acontecido, Harry, você poderia ter agravado mais ainda toda essa situação!
      — Eu não ligo se ele fizesse algo de pior — murmurei, começando a sentir sono de novo. Encostei as costas na cabeceira e voltei a fitar a minha mãe, que limpava o rosto bruscamente.
     — Dá pra parar?!
     — Estou sendo sincero.
     — O que você disse a ele, afinal?
     — Nada que ele já não soubesse — dei de ombros, e aquele gosto metálico ainda estava na minha boca. Além do mais, eu ainda me sentia fraco e mole. — Não foi algo planejado, eu apenas fiz aquilo porque queria que ele também fizesse alguma coisa.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now