19 - Momento

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     — Eu… — Eu não sabia mentir e não poderia sair correndo novamente. De qualquer jeito eu teria que falar e me preparei mentalmente pro caso da mamãe contar para o Henry sobre aquilo. — Como descobriu?
     — Eu vi o jeito como você olha pra ela — respondeu, mas não vi acusação na sua expressão, apenas o medo (e talvez alguma tristeza?). — Por que não me contou quando isso começou? Eu poderia…
     — Poderia o quê? — lhe interrompi, já irritado. 
     — Ah…, daríamos um jeito, querido.
     — Você acha mesmo que eu quis sentir isso? — joguei, e veio uma vontade de chorar que eu não soube explicar. Por que se apaixonar por alguém às vezes poderia ser tão doloroso? — Eu não quero machucar o meu irmão e nem a Melissa, mas você acha que eu poderia evitar não sentir alguma coisa? Acha que eu tinha a opção entre escolher alguém e escolhi exatamente ela porque eu sou um cretino?
     — O quê? Não!... — exclamou a mamãe, e vi os seus olhos lacrimejarem. Ela então abriu a porta da cozinha, a fim de ver se havia alguém por perto, e a fechou novamente, para depois se aproximar de mim, muito discreta. — É só que isso é muito complicado, Harry, alguém vai sair ferido e eu não quero que seja nem você e nem o Henry. Eu amo vocês dois, como acha que eu estou agora? 
     — Eu também ‘tô mal! Pensei muito no que fazer, até ir embora daqui e pedir transferência do emprego pareceu ser uma ideia melhor — confessei, e então dei um suspiro. — Mas não acho que isso vai ser o suficiente. Estou apaixonado por ela e sinto que não devo desistir disso. Nunca precisei lutar por alguém, mãe, era tudo muito simples, mas agora eu preciso fazer isso para tê-la pra mim. Então, você não acha que isso significa alguma coisa?
     — Harry, para com isso…
     — Não posso!
     — Mas e o seu irmão? 
     — Vamos ter que resolver esse problema uma hora ou outra. Você sabe muito bem do vício dele, acha mesmo que o Henry vai conseguir construir uma família com ela depois de se casarem? No dia em que fomos pra praia com os amigos dele, ele deixou a Melissa sozinha pra ir trabalhar, acredita? Era um dia de folga, mãe! E eu tenho certeza que não foi a primeira vez.
     — Ele prometeu que iria se curar… — Mamãe já estava chorando, triste por estarmos naquela situação. Eu não queria fazê-la sofrer, mas era um problema que eu precisava resolver de uma forma que eu não fosse sair ferrado. — Seu irmão é um homem bom, ele só tem que melhorar nisso.
     — Eu sei disso, conheço o Henry desde que eu me lembro — falei, passando a secar os pratos novamente. — Mas eu também sou um homem bom e, no momento, sou o melhor pra Melissa. 
     — Isso não é uma competição, certo?
     — Claro que não — respondi rapidamente, lhe fitando —, Henry e eu sempre nos demos bem, nunca tivemos grandes discussões. Eu gosto do meu irmão, mas também gosto da Melissa, e eu vou lutar por ela. Tudo bem..., se ela decidir que o ama mesmo, então quem sabe eu não vá embora pra sempre? Eu vou entender e não vou forçar a barra, mas preciso ter certeza antes. A Victoria está grávida, mas ela vai me entender e vamos resolver qualquer problema que tivermos, eu dou um jeito.
     — Quando pretende contar à Melissa? 
     — O quanto antes… — Não seria fácil, mas eu não estava em busca de facilidade. Os momentos se tornam mais especiais quando você luta por eles. Algo que vinha fácil nunca era tão valioso, e ficar com a Melissa com todos sabendo que éramos um casal não seria uma tarefa fácil. — Estamos mais próximos, ela gosta de estar comigo, eu só preciso deixar tudo muito claro. — Mamãe ficou me observando trabalhar e permaneceu em silêncio. Suspirei e a fitei mais uma vez. — Eu prometo resolver isso logo, ‘tá bom? 
     
Ela assentiu e me abraçou. 
     — Quantas pessoas já sabem disso? — perguntou, ao me soltar. 
     — Só a Victoria.
     — Victoria? — Ela franziu o cenho. — Como assim? 
     — Eu contei a ela.
     — E ela aceitou isso numa boa? — Mamãe quase ficou perplexa, como se tivesse imaginado essa situação com ela e o meu pai. — Esse mundo está mudado mesmo, hein? — Como sempre, esqueci que a minha família não sabia do meu término com a Victoria.
     — Não estamos mais juntos — contei, um tanto envergonhado por revelar mais algo que na verdade mamãe já deveria saber. — Faz umas semanas já, talvez um mês..., não sei. 
     — Como é que é? — Mamãe abriu a boca para falar algo, mas depois desistiu. Repetiu o gesto  novamente e não o completou. No fim, ela acabou falando: — Que droga, Harry, o que mais você ‘tá me escondendo?! Você por acaso é adotado e eu não sabia? 
     — Claro que não, eu saí do seu útero, mãezinha — sorri, e então ela começou a lavar o restante das louças, fazendo um bico, coisa que acontecia quando ela não gostava de alguma coisa. — Resolvemos não contar porque foi uma rápida decisão. Eu não queria pegar ninguém de surpresa, já que ela tinha acabado de descobrir que estava grávida. Sem contar que você conhece os nossos vizinhos…, eles adoram uma fofoca, iriam inventar um monte de coisa em cima dessa história.
     — É, vejo que vamos ser a discussão do jantar do bairro inteiro — resmungou ela, se referindo ao nosso primeiro assunto. Ela tinha razão, provavelmente seríamos alvo de fofocas, mas como evitar? — Certo, eu só espero que fique tudo bem. E é melhor você contar aos outros sobre o término com a Victoria, ‘tá? 
     — Hoje não, acho que vou embora. 
     — O quê? — Mamãe me olhou rapidamente, não gostando do que ouviu. — Não, filho, fica mais um pouco, por favor… 

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें