12 - Perfume

193 28 238
                                    

Victoria seguiu à risca tudo o que eu tinha falado, então resolveu tirar uma pequena folga do trabalho, a fim de passar alguns dias com uma amiga do tempo da faculdade. 

Ela prometeu que não ficaria fuçando as redes sociais para ver o que o Aaron estava fazendo, bloqueou o número dele e fez de tudo pra não ter nenhum tipo de contato. Observei bem aquilo o quanto pude, a fim de ter a certeza de que ela realmente seguia com o que dizia.

Fiquei orgulhoso, na verdade, porque ela se esforçou de verdade. Vicky tirou um tempo só pra si mesma, para se cuidar e ter a boa e velha saúde mental de volta. 

Obviamente, resolvemos terminar – uma decisão tomada pelos dois. Ela continuava morando comigo e não tive tanto problema com isso. Dormi no outro quarto e deixei a minha cama só pra ela, a fim de evitarmos qualquer coisa. Vicky estava economizando dinheiro para comprar o seu próprio apartamento e eu senti que tínhamos uma boa amizade. Nós nos apoiávamos. 

Como disse, eu já tinha enviado um e-mail me candidatando a uma vaga de emprego na Daw. Fui para a entrevista um tanto nervoso, porém confiante. A entrevista era individual e o cara que me conheceu era simpático, o que fez com que eu me sentisse mais confortável e leve. 

Consegui a vaga e passei a trabalhar na semana seguinte. Meus pais gostaram daquilo e o Henry ficou orgulhoso. Eu também estava orgulhoso de mim mesmo, porque finalmente senti que andaria pra frente. 

O meu primeiro dia de trabalho foi tranquilo. Conheci bem o lugar, alguns funcionários, um dos gerentes e, por fim – mas não menos importante – o próprio dono da empresa, que gostava de ver quem estava entrando no lugar que era dele.

Seu nome era Cesar Muller, um homem alto e careca; seus olhos eram azuis e ele tinha um leve sotaque do interior. Ele dava um ar de segurança, confiança e foco, algo natural de um líder. Sua educação e simpatia, inclusive, fez com que eu o visse como alguém bom e justo. 

De alguma forma ele conhecia o meu sobrenome e perguntou pelo Henry. Obviamente estranhei, mas achei que fosse coisa da Melissa, que adorava falar e falar. Não duvidei que ele tivesse gostado dela assim que a viu, uma pessoa que emanava uma luz esquisita, porém própria. Mesmo sendo nova na empresa também, ela já tinha conquistado a simpatia do seu chefe. 

O Sr. Muller me fez perguntas sobre a minha vida pessoal, se eu morava na minha própria casa, quais eram os meus propósitos, o que eu achava da empresa, etc. Fui sincero e falei até mesmo do acidente que sofri. O fato foi que ele pareceu satisfeito com todas as respostas e me deu um voto de confiança, tudo o que eu precisava.

Aquele dia serviu para que eu conhecesse somente a política da empresa, mesmo que eu já tivesse lido sobre ela várias vezes a fim de garantir a minha vaga. Como eu disse antes, eles já haviam ganhado prêmios em sustentabilidade e estavam dispostos a ganhar naquele ano também. Aquilo, obviamente, era ótimo pra mim e eu estava feliz com a oportunidade. 

Dei de cara com a Melissa enquanto eu conversava com um dos supervisores que me conduzia pelos setores. Ela segurava alguns papéis e parecia apressada. Seus cabelos estavam soltos e os seus olhos só me lembravam aquele dia na praia. Ela poderia não estar ali caso algo de pior tivesse acontecido...

Enquanto eu me recordava daquele episódio, Melissa me viu e abriu um sorriso enorme. Aquele desconforto veio em mim de novo e senti como se fosse até mesmo gaguejar, caso abrisse a boca. 

O supervisor contava algo sobre a ética dos funcionários e eu me distraía com aquele sorriso brilhante. Sorri também (afinal, quem não poderia retribuir?) e acabei não conseguindo desviar o olhar para prestar atenção no supervisor. Melissa também não se acanhou ao se aproximar de nós dois, toda saltitante e bem-humorada. 
     — Bryan — ela cumprimentou o homem ao meu lado, que rapidamente retribuiu a gentileza daquele sorriso —, conheceu o meu amigo? 
     — Vocês se conhecem? — perguntou ele, me olhando. — Que mundo pequeno, né? — Pequeno mesmo, eu não podia negar.   
     — É, ele é irmão do meu noivo — contou ela, e eu assenti, sentindo aquela coisa estranha que eu não sabia nomear. Tive que dar um pigarro pra poder falar, com medo de que passasse vergonha. — Tudo bem, Harry? Ainda bem que você aceitou a minha sugestão.
     — 'Tô ótimo — respondi, sorrindo —, achou mesmo que eu iria recusar? — Melissa sorriu, toda satisfeita, e então, distraidamente, lambeu e mordeu um dos lábios, o que foi péssimo pra mim, é claro. Aquele sonho surgiu como um raio na minha cabeça e então eu vi nós dois nos beijando. Tive certeza de que fiquei vermelho e precisei até me mexer um pouco. Com certeza voltei com algum defeito depois do acidente. 
     — Enfim, eu tenho que ir — ela se despediu de nós dois e saiu. Não evitei em olhar, até porque ela era uma mulher bonita. Agradeci mentalmente por ela ter saído e voltei ao meu normal. Sorri pro Bryan e pedi para que prosseguisse com as suas regras da empresa. 

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now