34 - Medo

122 24 87
                                    

Antes que a Melissa estivesse de volta, tomei um banho rápido, cuidei dos meus ferimentos e vesti algo confortável, me sentindo extremamente mal e com a cabeça prestes a pegar fogo. 

Quando Melissa voltou, estava quieta e calada. Seus olhos se encontravam inchados e o cabelo meio desarrumado. Imaginei até que, por se sentir mal pelo Henry, ela iria atrás dele até a casa dos meus pais, a fim de conversar. Mas ela estava de volta e, assim que passou pela porta, sem me olhar, foi direto para algum quarto. 

Deduzi que iria tomar um banho e tentar descansar. Continuei sentado no sofá enquanto olhava pra TV e segurei a vontade que eu tive de ir atrás dela, pedir desculpas por algo que eu sequer sabia o que era. Talvez por me apaixonar? Por fazê-la se apaixonar por mim e estragar o seu casamento? Por ser irmão do seu ex-noivo? Ou então pediria desculpas pelo fato de eu existir? 

Só que eu preferi não forçar a barra. Eu queria conversar sobre aquilo, mas senti que não seria uma boa ideia naquele momento. Estávamos cansados e o próximo dia seria um dia comum de trabalho, mesmo que eu estivesse de luto e pudesse avisar ao Sr. Muller. 

Percebi até que eu já cochilava no sofá com a Aster no meu colo e me sobressaltei quando Melissa apareceu ali na sala de estar, vestindo roupas minhas. Por um momento, fiquei um tanto aliviado, só que então vi que ela parecia pior do que antes.
     — Poderíamos não dormir juntos hoje à noite? — perguntou, a voz baixa e meio trêmula. Aquilo, obviamente, me machucou e eu logo murchei. — Eu sei que você perdeu alguém hoje…, mas é que eu não tenho lugar para dormir e preciso mesmo ficar sozinha. 

Provavelmente eu estava tão infeliz que nem consegui responder nada. Apenas assenti com a cabeça e a vi se afastar, pegando sua bolsa que estava por ali e saindo das minhas vistas logo em seguida. Eu acreditava que ela me amava, mas por um momento tive receio de novo de que ela talvez tivesse se arrependido da decisão de ficar comigo. 

Fiquei até meio aflito e paranóico, então resolvi colocar comida para a Aster, depois desliguei a televisão e fui dormir. Assim que abri a porta do quarto de hóspedes, vi que Melissa decidiu ficar lá. Percebi o relevo e as suas curvas debaixo do lençol e tive vontade de acordá-la para pedir que dormisse na minha cama, já que eu sabia que aquela cama de hóspedes não era lá muito boa.

Quase fiz isso, mas então a ouvi fungar. Ela estava de costas para mim, porém percebi que estava chorando. Mudei de ideia e fui pro meu quarto, também sentindo vontade de chorar. Mesmo que tivéssemos magoado o Henry, tínhamos que estar juntos e dando apoio um ao outro. Por que aquilo não estava acontecendo? Por que eu sentia que seria rejeitado caso me aproximasse? 

Ao deitar na cama, agarrei um travesseiro tentando imaginar que a Melissa estava ali comigo e esperei o sono me dominar. Graças aos céus consegui dormir rapidamente, tive sonhos muito aleatórios e, no meio da noite, um barulho me acordou. Logo me sentei e foi então que lembrei do problema de sonambulismo da Melissa. 

Ao sair do quarto, fui para a sala de estar e a vi próxima do balcão da cozinha. Aster já olhava a Melissa atenciosamente, mas infelizmente não pôde fazer nada, pois Melissa já havia feito um sanduíche, porém daquela vez se cortou feio. O seu dedo sangrava e quase se misturou à comida. Quando ela já ia cortar rodelas de tomate, tirei a faca de sua mão delicadamente, guardei as coisas que ela havia tirado pra fora, joguei no lixo aquele sanduíche recheado de sangue e puxei Melissa pela sala de estar, a fim de levá-la ao banheiro.

Não fiz barulho e ela também não acordou, como se soubesse o que eu iria fazer. Assim, peguei o kit de primeiros-socorros e fiz um curativo no seu dedo, tentando ser o mais ágil possível, afinal, eu ainda não tinha me acostumado com o fato de que a Melissa podia sair por aí andando e dormindo. Não aconteceu em nenhuma das vezes que ela dormiu junto comigo. 

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now