13 - Causa

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Durante toda a minha vida eu fui um garoto normal, desde a querer virar um astro da música, ser o mais popular do ensino médio e até mesmo conseguir completar um cubo mágico em um minuto – nunca completei.

Tudo bem, eu não fui o mais popular ou (graças aos céus) o que sofria bullying; também não fui um astro da música, não ganhei nenhum Grammy ou qualquer outra premiação especial. Contudo, eu consegui ser retribuído na maior parte das vezes em relação aos meus sentimentos, principalmente quando se tratava de paixonites.

A verdade era que, em grande parte da minha vida, eu fui respeitado e pude lidar com os problemas que batiam de frente comigo. A minha família, mesmo com as suas regras, era a melhor, porque todos me davam suporte, amor e carinho.

Minha avó era incrível em me dar conselhos quando eu estava triste, já a mamãe me protegia do mundo com os seus braços. Eu conseguia ser o que o meu pai queria que eu fosse e ele tinha orgulho de mim. Já o Henry, era o meu irmão e amigo. Os meus tios, padrinhos, primos, bisavós me amavam e eu não tinha um problema sequer com eles (pelo menos era o que eu gostava de pensar). Cada um respeitava o espaço do outro.

Eu lembrava perfeitamente que nunca havíamos tido inimigos na vizinhança ou em qualquer outro lugar. As pessoas gostavam da gente, nos convidavam pros seus aniversários, falavam conosco e nós éramos bem vistos em qualquer lugar.

Certo, os vizinhos não nos conheciam de verdade e nós não éramos a família perfeita – longe disso, tínhamos os nossos defeitos: mamãe, papai, a minha avó, Henry e eu. A diferença era que sabíamos lidar com os nossos erros, tentávamos melhorar a cada dia, afinal de contas, já existiam pessoas o bastante sujando o mundo inteiro – nos dois sentidos da palavra.

O fato é que eu não me importava se estavam falando bem ou mal de mim. Meus pais – principalmente o meu pai – achavam importante que falassem bem de todos nós, mas isso era uma coisa deles, que fazia parte deles. Eles me deram uma boa educação, porém nem sempre dava pra seguir as regras ou o caminho bom. Às vezes o outro lado falava mais alto, como das vezes em que eu bebi o bastante pra falar bobagem e chegar em casa depois da madrugada (durante a faculdade). Ou então quando eu tratei alguém mal por achar que eu era o melhor. Eram coisas que falavam mais alto do que eu.

Além disso (e de outras situações que eu preferia não comentar), havia aquela coisa em relação à Melissa Lee. Sabe-se lá o que diabos era, mas era uma situação que eu não podia controlar.

Todo aquele mês trabalhando na Daw foi horrível, tentando ao máximo não esbarrar com ela nos corredores ou mesmo no elevador – algo que era quase inevitável, é claro –, buscando não me importar se havia funcionário que não tinha ido com a minha cara e me esforçando para não ter nenhum tipo de relação sexual com as mulheres que passaram a fazer parte da minha vida profissional.

Melissa não tinha ideia do que se passava na minha cabeça e era extremamente simpática, me convidando para almoçar com ela, conversando comigo, sorrindo pra mim e ainda me chamando para algumas reuniões e convenções que ela tinha sobre os mau-tratos a animais e o aquecimento global.

Aquele mês inteiro foi daquele jeito, e cheguei à conclusão de que eu precisava pedir demissão ou então algo de pior aconteceria.

Talvez eu estivesse precisando de um terapeuta?

Talvez, só que eu não sabia se iria resolver algo que eu nem sabia se dava pra resolver, ou ao menos qual era o nome do tal problema. Eu não era um cretino e não queria trair o meu irmão, só que a vida parecia me levar exatamente para onde eu não queria ir.

Melissa e eu ficamos mais próximos naquele primeiro mês e eu acabei ignorando tudo, aceitando que, de fato, eu gostava de ficar junto dela, ouvindo o que ela tinha pra falar, conversando sobre o que eu pensava do meu futuro, entre outras coisas. Era errado?

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now