48 - Claridade

77 23 162
                                    

HARRY

Autoperdão é uma coisa difícil de se lidar, você é um ser humano, tem suas próprias convicções e ideias, por isso, quando comete um erro grave, fica voltando aos mesmos pensamentos adversos e isso se torna um ciclo vicioso, porque você se pergunta...

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Autoperdão é uma coisa difícil de se lidar, você é um ser humano, tem suas próprias convicções e ideias, por isso, quando comete um erro grave, fica voltando aos mesmos pensamentos adversos e isso se torna um ciclo vicioso, porque você se pergunta o que poderia ter acontecido caso tivesse feito isso ou aquilo. Foi o que aconteceu comigo, também acontecia com você?

A gratidão que eu sentia pela proeza do meu irmão não poderia ser expressa em palavras. Ele me desculpou e, mesmo que de algum jeito eu acreditasse que não fosse digno, foi importante para a minha recuperação durante os dias de terapia que se seguiram. Daquela vez estava a família junta, falando sobre o que tinha acontecido conosco e sobre o que estávamos fazendo para melhorar.

Eu ainda não me sentia no direito de sequer olhar para o meu irmão, porque eu me via traindo-lhe e ficava embaraçado. É claro que eu estava culpando somente a mim mesmo, por isso Melissa não aparecia naqueles pensamentos. Não deixei de falar isso nas sessões, porque eu queria sair do meio daqueles espinhos.

Mamãe disse que eu estava mais encolhido e reservado, e eu sequer tinha percebido. Meus amigos me chamavam para sair ou para que jantássemos em algum lugar como fazíamos antes, mas a minha vontade tinha se esvaído. Me perguntei se estava entrando no buraco chamado depressão e passei a me desesperar. Contei aquilo à terapeuta e mais uma vez ela disse para que eu me perdoasse.

Perdão…

Por que tinha que ser tão difícil? Até Henry, que foi o mais prejudicado, conseguiu ultrapassar aquilo. Ele estava como era antes e muito melhor, porque tinha vencido sua batalha contra o vício no trabalho. Depois de alguns meses depois do descanso para a sua melhora, Henry foi promovido. Ele quis comemorar e chamou a família e os amigos para a casa dos nossos pais.

Meu irmão estava formidável, seu sorriso era resplandecente, seus olhos brilhavam, ele abraçava todo mundo e estava incrivelmente feliz. Vê-lo daquela forma era tudo o que eu queria e eu me perguntava por que ainda me sentia meio lesado. Henry era uma parte de mim e eu tinha plena certeza de que aquela parte já estava bem estruturada e em paz.

Depois daqueles meses de terapia e estando de volta no relacionamento com o meu irmão, eu também estava muito bem. Fui voltando ao normal e aquela culpa também foi me dando adeus. As coisas estavam voltando ao seu rumo, mas é claro que havia algo fora do eixo que me deixava triste.

Fazia um tempinho que Melissa e eu não nos falávamos mais. O “bom dia/boa noite” se transformou em nada, apenas um espaço sem palavras e interações. Eu não sabia como ela estava, suas aparições na TV não aconteciam mais e era mais como se ela tivesse ido morar em outro planeta. Em momentos de um transe esquisito antes de dormir, eu duvidava que Melissa Lee havia existido, que ela foi apenas fruto da minha imaginação quebrada.

Mas é claro que durava poucos segundos, porque eu tinha fotos dela comigo, eu tinha lembranças, ainda sentia o seu cheiro e o gosto do seu gloss de morango. Se eu fechasse os olhos e a imaginasse na minha frente, poderia até tocá-la, ver o seu sorriso e sentir aquele seu abraço forte que me deixava sem fôlego.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now