33 - Decepção

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Melissa estava agitada e chorava. Ela não olhava pro meu pai e nem pra mim, e deduzi que estivesse envergonhada por todo aquele estardalhaço. Eu não estava envergonhado, havia mesmo traído o meu irmão, mas eu não podia simplesmente fugir daquele problema. 

Percebi que alguns vizinhos tinham ouvido a nossa discussão e estavam espiando pela porta. Tive que contar até cinco para não gritar com eles e mandá-los cuidarem de suas vidas. Na verdade, agradeci mentalmente ao Sr. Stwart quando este percebeu que o clima estava tenso e pediu licença, a fim de afastar as pessoas dali e seguir pro seu trabalho. Mamãe também chorava e ela não demorou muito para correr atrás do Henry. 
     — Eu vou até lá — a voz da Melissa soou de repente, decidida. Olhei pra ela muito perplexo, mas fiquei sem saber o que dizer. Toda a situação com a Victoria, o fato de termos perdido o nosso filho me deixou no chão. A discussão com o Henry apenas fechou a noite como sendo uma das piores que já tive na vida. 

Quando Melissa saiu rapidamente, senti que os olhos dos meu pai estavam sobre mim. Provavelmente ele e mamãe estavam na casa de algum amigos, devido às suas roupas. Ele usava um blazer cinza sobre uma camisa preta de botões, vestia calça no mesmo tom que a camisa e sapato social. Papai sabia se vestir bem por causa da minha mãe, mas a sua expressão não combinou nada com as suas roupas. Seu rosto estava vermelho, seus braços cruzados e ele estava tão sério que eu me intimidei. 
     — Eu sei que você quer que eu vá pedir desculpas a ele, mas vai adiantar em alguma coisa? — eu falei, passando as mãos pelo cabelo. — Eu me apaixonei por ela.
     — Mas bem que você poderia ter sido um pouco mais honesto, certo? — ele disse, se aproximando mais. — O que você fez foi errado, o seu irmão ia casar com aquela mulher, Harry, como diabos você deixou tudo isso se tornar tão grande?! 
     — Eu...
     — Você resolveu esconder tudo dele, até a sua mãe sabia de toda essa história, mas você resolveu fazer o Henry se sentir um otário. Estou muito decepcionado com o que você fez — continuou ele, a voz dura e bem clara. — Eu sei que se apaixonar é muito bom, mas traição é uma coisa séria. A noiva do seu irmão foi infiel com ele e, como se não bastasse, traiu com alguém da própria família! 
     — Você não pode culpar a Melissa.
     — Ah, eu posso sim!
     — Se quiser culpar alguém, culpe a mim!
     — Não conheço mais você depois daquele acidente, o Harry de antes nunca faria algo como isso — jogou ele, apontando um dedo no meu peito, muito grosseiro. — Você se tornou uma vergonha pra mim,  sequer se casou com a mulher que você mesmo engravidou e agora está tudo uma bagunça, ela já vai casar com outro cara, Harry! 
     — Escuta, eu não sou perfeito! — exclamei, já de saco cheio dele. Ele queria me moldar e fazer com que a minha vida fosse tão certa como foi a dele. Ele vivia falando que nunca deu dores de cabeça pros nossos avós, que sempre tirou boas notas na escola, que teve o seu primeiro emprego logo depois do estágio, que é bem-sucedido e que só teve filhos com a minha mãe depois de alguns anos depois do casamento. Blá, blá, blá…, eu fiz a maior parte de todas aquelas coisas, assim como o Henry e, só porque eu saí da sua linha de “coisas certas”, eu era a pior pessoa do mundo. — Beleza se você acha que eu sou uma vergonha agora e que eu decepcionei você, mas você acha que eu vou ser feliz apenas fazendo o que você quer? Que droga!, eu não queria que as coisas fossem assim, o que você quer que eu seja?! 
     — Você deveria ser como o seu irmão!
     — Mas eu não sou! — As palavras do meu pai foram o suficiente para que eu sentisse os meus olhos arderem. Eu não queria chorar na frente dele, mas não pude evitar. Seguir sempre um mesmo caminho era desgastante, fazia com que eu me sentisse numa jaula, e saber que o meu pai não me amava como eu era e que, sendo uma pessoa, eu também errava, era muito ruim. — Eu fiz tudo o que você disse o tempo todo, eu morria de medo de tirar nota baixa nas provas da escola e até mesmo o Henry teve que falsificar as dele algumas vezes, sabia disso? — Meu pai logo franziu o cenho, mas eu já não ligava pra mais nada. — É, ele sabia o que iria acontecer se não fosse o melhor da turma, assim como eu. 
     — Para de mudar de assunto, não estávamos falando disso — ele reclamou, o rosto ficando mais vermelho pelo fato de eu falar com ele daquele jeito. — Tudo o que eu fiz foi pro bem de vocês. 
     — Verdade? Henry quase ficou doente depois desse vício maldito no trabalho dele, ele ficou obcecado com aquilo, mas você não queria ver porque estava mais preocupado demais com essa droga de imagem que você insiste em passar pras pessoas — joguei, limpando os olhos bruscamente. — Que se dane o que elas vão pensar de mim, eu não me importo com isso. Ela serão todas hipócritas se apontarem o dedo pra mim, e você também! 
     
Depois de falar aquilo, meu pai me deu um tapa no rosto. Obviamente fiquei com raiva, mas eu já esperava. Aster, que estava por ali observando toda a confusão desde o começo, foi correndo até o meu pai e começou a rosnar para ele, enquanto mordia a sua calça.      
     — Você não sabe o que ‘tá dizendo, Harry — disse ele, buscando a todo custo se soltar da mordida da Aster. — Qual a droga do problema com esse cachorro?!
     — O nome dela é Aster — reclamei, então chamei pela Aster, que parou de morder o meu pai, e a peguei no colo. — É agora que você vai dizer que a Melissa fez a minha cabeça? — Eu me sentia mais livre, na verdade, por finalmente ter falado algo que estava enterrado nas profundezas da minha mente. Se o meu pai não me aceitava como eu era, com os meus defeitos e aprendendo com os erros, eu não o obrigaria a fazer aquilo. — Eu sou o mesmo de sempre, pai, e não me arrependo de estar com ela. 'Tô de saco cheio de tentar ser a melhor pessoa pra você. Não, eu definitivamente não sou a melhor pessoa, ninguém nem sempre faz tudo da maneira certa ou ética, nem mesmo o Henry. Ele pode ser a pessoa que mais erra no mundo e eu não o julgo por isso, porque ele é uma pessoa, assim como eu e você. Nós não somos perfeitos. Ninguém nessa merda de mundo é perfeito.

Provavelmente o meu pai queria dar muito na minha cara por falar naquele tom com ele, contudo ele simplesmente me olhou por alguns segundos, muito sério e puto da vida, depois deu meia-volta e foi embora.







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a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now