16 - Erro

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     — Escondendo alguma coisa? — repeti, apertando o celular e desejando sair dali logo para me encontrar com a Melissa. — Isso é bobagem, não 'tô escondendo nada.
    
Falar aquilo foi errado, afinal de contas, era uma mentira das grandes, e a minha mãe, desde que eu me lembrava, odiava mentiras assim como odiava carne, sempre dando um tapa forte no braço de quem tinha a ousadia de mentir pra ela. E foi o que eu recebi: um tapa no braço, que o deixou vermelho sob a minha tatuagem.
     — Seu bobalhão! — exclamou ela, o que acabou chamando a atenção de algumas pessoas, até mesmo do meu pai, que nos olhou assustado. — Vem aqui, me segue. 

Ela não falou mais nada nem deu satisfações ao meu pai, apenas saiu dali e eu tive que segui-la, tentando imaginar o que ela poderia estar pensando. Só que ela era uma mulher e era quase impossível adivinhar o que uma mulher pensava. Assim, respirei fundo e esperei. Quando ela se afastou o suficiente das pessoas e me olhou, já em um corredor longe do barulho, desejei sair correndo.
     — Eu vi a Victoria aqui, Harry, e ela estava com um outro homem! O que ‘tá acontecendo que eu não sei? Que coisa é essa que vocês têm, é um tipo de relacionamento aberto? Vocês estão juntos, mas liberdade é o lema? — jogou ela, com as mãos na cintura. — E por que não explicaram isso direito? Afinal, ela está grávida e vai ser uma bagunça quando esse bebê nascer, ou não?
    
Droga, foi a primeira palavra que se passou na minha cabeça. Mamãe tinha visto a Victoria com o Aaron no estádio, algo que nem me preocupava tanto mas que me deixava acanhado. 

Eu queria que as pessoas pensassem que estávamos juntos apenas para preservar a imagem dela, já que o mundo adorava julgar todo mundo. Tudo bem, meus pais eram legais, mas, como eu tinha falado antes, eram “certos” perante os vizinhos e gostavam das coisas nos seus devidos lugares. 

Mas aquilo tudo aconteceu comigo e com a Victoria, nos deixando um tanto fora dos “padrões” familiares. Além do mais, na cabeça das pessoas, Victoria estaria me traindo com o Aaron. Ou seja, uma confusão que eu preferia evitar, mas que pelo jeito não daria certo.
     — Fala alguma coisa! 
     — Não podemos conversar uma outra hora? — perguntei, pensando na Melissa me esperando calmamente. — É sério, tenho que sair.
     — Sair pra onde? — pressionou mamãe, séria. — Porque, pelo que vi, você não vai se encontrar coisa nenhuma com a Victoria, já que ela está aqui e não do lado de fora do estádio, a não ser que você conheça uma outra mulher chamada Victoria, o que eu acho difícil. 
     — Vou me encontrar com um amigo.
     — Ah, amigo? — ela sorriu, sem achar a menor graça. — Você acha que eu nasci ontem, Harry? Você 'tá atrevido demais, sabia?, mentindo pra sua família, escondendo coisas da sua mãe. Eu faço de tudo pra você e pro seu irmão e é assim que eu sou recompensada? Eu só queria confiança, mas cadê a confiança?! — Era o momento em que ela se fazia de vítima e aquilo só me deixava mais e mais impaciente, algo raro. — Que amigo é esse que você precisa mentir pra mim?
     — É uma amiga...
     — Certo, estamos chegando a algum lugar… — Ela cruzou os braços e esperou que eu continuasse. Fiquei me perguntando se falar a verdade seria uma boa ideia, porque a Melissa era noiva do Henry e eu estava mentindo para a minha mãe a fim de encontrá-la. Ninguém sabia que eu iria encontrá-la, a não ser a Melissa e eu, o que fazia as coisas parecerem pior, porque era como se estivéssemos nos encontrando às escondidas, o que talvez fosse verdade mas que na verdade era nada de mais (eu queria que não fosse nada de mais). — Harry, fala de uma vez!
     — Olha, eu tenho que ir, tchau e até mais — falei rapidamente e fiz o que nunca tinha feito antes na vida: deixei a minha mãe falando sozinha e muito irritada. 

Quase saí correndo, na verdade, e imaginei o problema que estava criando ali. Eu não queria ser o inimigo da minha família, mas falar o que eu estava sentindo me deixaria sem as minhas defesas, e eu também correria o risco de falarem mal de mim pelas coisas. Eu disse que não me importava com a opinião alheia, e é verdade, mas a Melissa estaria no meio da situação e eu não queria prejudicá-la em nada. 

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now