11 - Victoria e sua história com o Parker

171 27 92
                                    

Mandei o meu currículo via e-mail para a Daw, que estava contratando. Demorou uma semana e dois dias para que ela me contactasse e me chamasse para uma entrevista de emprego. Antes daquilo acontecer, no entanto, segui com a minha rotina no apartamento e nas ruas (ao correr com Aster e me alongar). Visitei alguns amigos que puderam ir me ver poucas vezes no hospital por causa da distância e do trabalho. Eu mesmo resolvi conduzir até lá, na verdade, a fim de me entreter um pouco. Conversamos sobre as suas vidas e eu fui embora tarde naquele dia.

Felizmente era algo que vinha de mim, isto de ser comunicativo com todos. Além do mais, eu também não podia negar que estava sentindo falta da faculdade e dos professores. Os meus amigos do colégio aliviaram aquilo, porque no fim éramos os mesmos, apenas tínhamos amadurecido um pouco. 

Victoria continuava a mesma de sempre. Não entendi muito bem, mas Parker pareceu recuar um pouco com ela, o que me fez estranhar. Não tinha sido a minha intenção intimidá-lo ou coisa do tipo, porque ele era livre para ir e vir.

Aquilo só não aconteceria, contudo, caso eu percebesse que Victoria estava desconfortável e incomodada. Mas ela não estava, não. Um dia desses mesmo a peguei sentada no sofá com a sua distração de sempre, porém com um vestígio de sorriso. O celular estava na sua orelha e ela ouvia alguém falar – era o Parker e eu apostava todas as minhas economias –, enquanto provavelmente se lembrava de algo lá no passado. Ela com certeza ainda o amava.

No entanto, como eu disse, Parker deu alguns passos para trás. Então, não vi mais conversas entre ele e Victoria. Percebi logo a preocupação dela, já que ela era péssima em guardar o que sentia. Victoria, contudo, apenas mentiu dizendo que era algo com a sua mãe. Mas que nada, a mãe dela estava ótima, inclusive tinha conversado comigo perguntando se estava tudo certo.
     — Por que você não liga pra ele? — eu perguntei, quando a peguei olhando pro celular, muito indecisa. Vicky se assustou comigo e logo tentou mostrar que estava tudo certo (algo que falhou, é claro).
     — Pra ele quem? — revidou, sem me olhar. Assim, seguiu para trás do balcão da cozinha e se pôs a secar algumas louças que estavam ali. Estava nervosa, porque não queria assumir que estava sentindo falta das ligações do seu ex-namorado.
     — Você sabe de quem estou falando.
     — Não sei, não…
     — Parker.

Ela bufou e acabou deixando um copo cair.
     — Droga... — O copo se espatifou ali no chão, o que me assustou, afinal de contas, por que ela estava tão nervosa? — Para com isso, Harry, não tem nada a ver — continuou, e se agachou para juntar os vidros quebrados, toda apressada.
     — Deixa que eu limpo isso — pedi, lhe puxando delicadamente pelo braço. — Olha, eu não entendo por que você não se abre comigo… — Não demorou para que eu processasse o que tinha dito e então dei uma risada. — No outro sentido da palavra, é claro... Nunca fui um namorado que pegava no seu pé ou enchesse o seu saco. Eu estou numa boa, Victoria, então não tem porquê ter medo de me contar o que você está sentindo.

Ela ficou me olhando, enquanto pensava.
     — Não tem nada, é sério.
     — Eu fui até a casa dele — deixei claro, para que ela finalmente parasse de ficar negando. Por que as pessoas continuavam mentindo mesmo estando na cara toda a verdade? — Perguntei o que aconteceu, já que você não me diz nada.
     — E o que ele disse? — ela se interessou.
     — Disse que ama você e que não vai desistir tão fácil. Falou que se arrependeu, que pediu desculpas e que sabe que você não o perdoou de verdade — contei, muito calmo. No fundo, eu queria resolver aquilo entre os dois. — Não adianta você se relacionar com alguém pouco tempo depois de terminar com outra pessoa. Eu gosto mesmo de você, eu juro, mas não concordo que fique comigo para esquecê-lo. Eu não vou ajudar em nada, a não ser em confundir você ainda mais. Você tem que fazer isso sozinha, tem que ter a certeza do que o seu coração quer, entendeu?

Vicky tirou os olhos de mim e deu pra perceber que ficou triste. Passaram-se poucos segundos e ela estava chorando, com aquele ar de culpa. Obviamente, fiquei desconcertado e com medo de ter ferido os seus sentimentos de alguma forma – mulheres são difíceis de ser compreendidas às vezes.
     — Desculpa, Harry — falou, segurando o meu rosto e depois me puxando para um abraço. — Fui mesmo uma idiota.
     — Para de bobagem — eu disse, quando a fitei. — Você só se enganou. Quem nunca? Não tem problema nenhum, eu não estou irritado.
     — É sério mesmo?
     — É claro — sorri, sincero.

Victoria limpou os olhos e assentiu.
     — Ele foi um filho-da-puta — desabafou, e aquela sombra passou pelos seus olhos novamente. — Como pôde me trair com a minha melhor amiga? Era a minha melhor amiga, Harry! Aquele cretino ficou com ela mais de uma vez enquanto estava comigo, dizendo que me amava e toda essa bobagem... — Novamente ela voltou a chorar, mas daquela vez era de decepção. Me senti mal e de novo tive vontade de quebrar a cara do Parker. Que merda ele teve na cabeça? — É uma coisa que eu não consigo esquecer. Eu peguei os dois juntos, na cama dela…, você não imagina como eu me senti, parecia que alguém tinha enfiado um desses cacos aqui — ela apontou pro copo quebrado — no meu peito. Juro que não estou exagerando. Eu odeio e amo ele ao mesmo tempo!... E ele ainda passou a porra de todo esse tempo que ficamos separados falando várias coisas, dizendo que estava arrependido, que me amava de verdade e que foi um erro. Ele me machucou muito e eu acho que quero esquecê-lo.
     — Você já pediu um tempo pra ele? — perguntei, depois de esperá-la se recompôr. Victoria logo negou com a cabeça, fungando.
     — Eu não devia ter ficado com ele naquela noite — murmurou, e realmente parecia arrependida. — Eu traí você, como ele fez comigo.
     — Escuta — segurei a sua mão e dei um suspiro —, as pessoas erram. Sabe, o ser humano é assim, ele faz as coisas e depois se arrepende. Mas sabe o que é interessante? É que a gente pode evoluir e se tornar alguém melhor. É só se esforçar com isso, ter um objetivo e segui-lo. Eu te perdoo por ter ficado com ele estando comigo e não a culpo por sentir o que sente, quem sou eu para julgá-la? Não escolhemos o que vamos sentir, quem me dera… O fato é que você ainda ama o Parker e deveria passar um tempo longe dele, só pra esclarecer a cabeça. Se você sentir que não vale a pena, então siga a sua vida como achar melhor. Está tudo bem, fica calma.

Ela já tinha parado de chorar, para a minha felicidade.
      — Sabe de uma coisa? Você é um anjo — disse, após alguns segundos me fitando. — Eu ainda não gosto de ter feito o que fiz, mas eu vou melhorar, você vai ver.
     — Eu acredito em você.
     — Obrigada, Harry.

E então Vicky me abraçou, bem melhor e mais aliviada. Eu não era um anjo coisa nenhuma, também tinha errado no decorrer do tempo e tratado mal as pessoas; eu já tinha mentido, já tinha sido arrogante, insensível, hipócrita, egoísta…, e poderia fazer uma lista com mais erros. Mas era aquela coisa: o ser humano podia evoluir, e era isso o que estava acontecendo.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now