20 - Beijo

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Eu gostaria de dizer que tinha sido um beijo apaixonado, que a Melissa havia agarrado os meus cabelos e aprofundado aquela sensação de meros segundos. 

Mas não. 

Foi apenas um selinho. Um selinho que eu esperei muito, mas que infelizmente não foi bem recebido por ela. Pois, assim que percebeu o que tinha feito, Melissa me olhou assustada e levantou. Fiz os mesmos gestos e então a minha bochecha ardeu. 

É, ela me deu um tapa.

Fiquei meio atordoado com aquilo porque fazia um bom tempo desde que eu tinha recebido um tapa na cara. Esqueci que doía pra caralho e a minha mão logo foi de encontro à minha bochecha, a fim de diminuir a ardência. 

Melissa poderia me culpar? Poderia, é claro, mas ela não poderia negar que foi a responsável pelo beijo. 

Contudo, eu não queria discutir aquela questão, apenas tentar resolver o que eu sabia que seria um problema, apenas pelo jeito como ela me olhou e quis sair da sala de descanso.
     — Ei, espera — lhe chamei, sem me sentir no direito de agarrar o seu braço —, por favor, não sai assim sem falar nada. 

Para a minha sorte, Melissa me fitou. Ela não parecia irritada, parecia mais amedrontada e triste. Novamente o meu corpo me alarmou sobre aquilo e eu senti que havia algo a mais a favor de mim; que provavelmente ela se sentiu atraída, como eu me senti por ela, e agora estava se sentindo culpada por causa do Henry. 
     — Isso não deveria ter acontecido — disse, apontando o indicador pra mim e buscando ser discreta, a fim de não acordar os dois funcionários que roncavam. Tudo bem..., eu esperava uma rejeição no começo, porque a Melissa não era qualquer mulher – ela se sentiria mal por causa do que poderíamos fazer ao meu irmão. Mas ouvi-la falando aquilo não era algo que eu poderia ignorar. Toda a excitação que eu senti, o frio na barriga, as mãos suando e a minha cabeça fervilhando… simplesmente murcharam e fizeram os meus ombros caírem. Eu estava mal. — Eu… — Melissa tirou os olhos de mim e passou a mão sobre o cabelo. — Eu acho melhor a gente se evitar.
     — Não… — murmurei, mas ela já estava caminhando em direção à porta. Chamei por ela, mas o que mais eu iria falar? Eu poderia dizer que estava apaixonado, mas e aí? 

Desabei no sofá e acabei esquecendo o meu horário. Tive hora extra e precisei ficar até mais tarde na Daw. Não encontrei com a Melissa nos corredores e fiquei sem notícias suas naquele dia. Eu não tive mensagens e nem ligações dela, o bastante para que eu sentisse a força necessária para desistir. 

Só que aí eu fiquei pensando naquele beijo, que nem era lá O Beijo Dos Beijos, mas que era o nosso beijo. O nosso primeiro beijo. Paguei por ele com uma bochecha vermelha, mas a sensação de beijá-la era maior do que qualquer dor que eu viesse a sentir. No fim do meu expediente, me vi empolgado de novo, sem querer desistir. 
     — Pensando na morte da bezerra, Sr. Styles? — ouvi uma voz e acabei saindo dos meus devaneios. Era a Nicole, que estava séria e segurava uma bandeja com uma xícara que antes tinha o meu chá. 
     — O quê? 
     — Você estava bem absorto — acusou ela e senti um tom esquisito no ar. Levantei, juntei os meus papéis e os pus na minha bolsa, já me preparando para ir embora. Nicole, percebendo o meu silêncio, colocou a bandeja sobre a mesa, se esquivou na minha direção e arqueou uma das sobrancelhas. — Espero que tenha pensado em nós dois — sussurrou, puxando a minha gravata e se aproximando dos meus lábios.

Eu não queria mais aquilo. 

Delicadamente tirei a sua mão dali e dei a volta na mesa, a fim de seguir até a porta. Apenas avisei que tinha que ir embora, mas ela se firmou na minha frente, barrando a minha saída.

Seu olhar me deu medo, na verdade, então acabei ficando ali, esperando que ela falasse. Minha sala não tinha nada de privacidade, pois 75% das paredes eram de vidro e cobertas por persianas. No entanto, já era tarde e só o que havia do lado externo da minha sala era o zelador, que tinha um fone de ouvido e nem dava bola pra nós dois. 
     — Quer me dizer alguma coisa? — perguntei, pondo as mãos nos bolsos e esperando impacientemente. 
     — Não vai passar no meu apartamento? — ela jogou de volta, e aquilo mais parecia um ultimato. — Eu quase não encontrei você mais cedo, parecia até que estava me evitando. 
     — Eu?
     — Escuta aqui, eu sei o que você ‘tá escondendo — disse ela, se aproximando mais e com um certo tom de ameaça. — Se você pensa que vai me fazer de idiota, Harry, está muito enganado. Você não vai querer jogar comigo, porque vai perder.
      — Como é que é? — joguei, sem estar nada intimidado. Como ela simplesmente falava aquilo e daquela forma, como se tivesse poder sobre mim? Quem ela pensava que era? — Do que você está falando? 
     — Eu vou dar duas opções a você — Nicole cruzou os braços e me deu um pequeno sorriso —, ou você vai pro meu apartamento foder comigo pelo resto da noite, a fim de me fazer feliz, ou volta pra sua casa no seu silêncio solitário. — Eu quase engasguei com aquilo. Nicole estava cometendo um erro e me deixando muito irritado. A sorte dela era que eu estava com a cabeça cheia demais para lhe dar algum espaço ou a total atenção. — E então? 
     — Você ficou louca — bufei, em seguida a afastei pro lado e abri a porta, a fim de ir embora. Era mais do que eu poderia imaginar pro meu dia e eu estava mais do que arrependido de ter me deixado levar pela sua sedução. Eu sequer tinha um motivo para pedir uma substituta, porque Nicole era perfeita no trabalho que exercia e eu não falaria pro meu chefe que havia tido um caso com a minha secretária.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt