17 - Segredo

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Chorei tanto que a minha cabeça começou a latejar. Era uma situação um tanto constrangedora pra mim, afinal de contas, eu nunca fui tão dramático a ponto de me entupir de álcool e chorar por causa dos meus problemas. Eu conseguia manter o foco e pensar em uma solução de uma maneira mais adulta. Só que daquela vez a coisa me atingiu de uma forma tão dolorosa, que eu não pude me conter. O que a Melissa fez comigo? 

Ao sentar, fungado e puto da vida, bebi mais, na esperança de que a dor parasse, mesmo que eu soubesse que só iria piorar e que eu precisava mesmo era da boa e velha água pura. Talvez eu desmanchasse e sumisse do mapa?

Achei que finalmente eu tinha atravessado a barreira que separava o mundo dos vivos com o mundo dos mortos e ouvi vozes ao longe. A porta foi aberta e enxerguei dois corpos, um muito bem delineado e o outro mais alto e magro. Só que eram apenas a Victoria e o Aaron, que conversavam alguma coisa pelo corredor. 

Bebi mais. 
     — Harry? — a voz da Victoria soou assustada e a senti se aproximando de mim, muito apressada. — Caramba, que merda ‘tá acontecendo aqui? Eu pensei que você tivesse ido pra casa dos seus pais com a sua família!
     — Não fui — balbuciei, depois tentei me levantar, a fim de sair das vistas do Aaron, que provavelmente se divertia com a minha situação. — Vou pro quarto de hóspedes, fiquem à vontade.
     — A gente não vai ficar aqui, só vim pegar o meu celular, eu tinha esquecido sobre a cama — explicou a Victoria, sem saber se me ajudava a caminhar ou se me deixava em paz. 
     — Ele continua lá.
     — Harry, por que está bebendo tanto assim? Você nem gosta de exagerar desse jeito — disse ela, aflita e com medo de que eu caísse. — Ei, fala comigo!!! 
     — Eu ‘tô bem! — reclamei, mas ela ignorou o meu mau-humor e me ajudou a caminhar até o meu quarto oficial (que não era o de hóspedes), juntamente com o Aaron, que provavelmente fez aquilo só porque ela deve ter pedido. — Pode ir, eu vou dormir. 
     — Você precisa de um banho gelado.
     — Você vai mesmo dar um banho nele? — ouvi Aaron perguntando, perplexo. Eu não queria trazer discórdia pro relacionamento dos outros, mas como a vida estava me levando àquilo, eu não falei nada para evitar que a Victoria me levasse ao banheiro.
     — Acha que ele vai conseguir sozinho? — jogou ela, já tirando a minha camisa. — Me ajuda aqui, eu já vi o Harry pelado várias vezes, não vai ser nenhuma novidade. 
     — Mas pra mim vai, certo? — revidou o outro, irritado.
     — Não ‘tá vendo que ele está mal? — Victoria persistiu e já estava tirando a minha calça, com o outro cara morrendo de ciúmes. — Harry é o meu amigo, não posso deixá-lo assim.
     — Beleza, deixa que eu faço então — Aaron tirou o meu braço do ombro da Vicky e o colocou sobre o ombro dele, para que me ajudasse a andar até o banheiro.
     — Tem certeza?
     — Tenho, trás algo pra ele beber. — Nesse instante o meu celular começou a tocar e imaginei quem poderia ser. Poderia ser a Melissa? Poderia, mas também havia uma probabilidade grande de ser a minha mãe ou o Henry. — O celular dele ‘tá tocando. 
     — Se for o meu irmão, pode falar que eu morri — pedi, nervoso ao me perguntar se a Melissa já estaria lá com ele, falando que eu fui um grosso ao deixá-la sozinha no parque, e de repente. Ou talvez ela ao menos falasse que esteve comigo. 

Entrei no banheiro e o Aaron me ajudou sem falar nada. Ele até trancou a porta para que a Victoria não me visse, mesmo que ela tivesse afirmado minutos antes que já me viu pelado várias vezes. Quem poderia culpá-lo? 

Apenas resmunguei algumas coisas e depois me enrolei com uma toalha, já um pouco lúcido porém ainda sem tanto equilíbrio. Sentei na cama e senti aquele mal-estar subindo pelas minhas costas, tanto por conta da bebida quanto por causa daquela mulher.
     — Era o seu irmão — informou Victoria, me trazendo um copo cheio de água —, ele queria saber onde você estava e o porquê de ter deixado a Anne nervosa. Você deixou a sua mãe irritada com o quê, afinal?
     — Ela queria saber aonde eu iria e eu não podia falar — respondi, muito sincero. — Depois eu saí sem que a gente terminasse o assunto. O que você disse ao Henry? Disse que eu morri? 
     — Claro que não — ela bufou, pegando roupas limpas das mãos do Aaron e colocando ao meu lado, na cama. — Qual é o problema, Harry? Dá pra perceber de longe que tem alguma coisa errada. — Dei de ombros. Eu queria desabafar com alguém sobre os meus sentimentos e a Victoria parecia ser a pessoa certa. Contudo, eu estava me sentindo um lixo e a minha cabeça parecia que iria explodir. Naquele momento eu só queria a minha cama e dormir pelo resto do dia e da noite. — Podemos conversar amanhã? 
     — Podemos.
     — Certo, eu vou pra casa do Aaron — avisou ela, para depois me dar um beijo na testa. — Se precisar de alguma coisa ou se tiver alguma problema, me liga, dessa vez não estou esquecendo o celular. 
     — Se você ligar, eu te quebro — murmurou o Aaron, que me deu um leve soco no ombro, algo que eu só soube que tinha acontecido porque o vi fazendo (não senti nada).
     — Ele ‘tá brincando, Harry — avisou Victoria, puxando o Aaron pela mão enquanto ele ria de alguma coisa. — Nos vemos amanhã! — Bebi toda a água e caí na cama, sem me preocupar em tirar a toalha.

a new life • hs | book 2 (CONCLUÍDO)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora