CAPÍTULO 39

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Khonsu Ramessu

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Khonsu Ramessu


"Não sei quem sou, que alma tenho.

Quando falo com sinceridade, não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).

Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.

Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.

Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Páginas íntimas e de auto-interpretação - Fernando Pessoa


Sempre me surpreendia, com a capacidade que algumas pessoas tinham de possuir o dom das palavras, para conseguir descrever aquele sentimento, confuso e difícil, que muitas vezes se perdia no silêncio de nossos próprios pensamentos. Há muito tempo havia abandonado as esperanças de voltar a forma humana, durante muitos séculos me resignei e me frustrei na forma felina...

À medida que os anos se passavam, pouco a pouco minha mente ia se apagando, esquecendo de como era ser um humano, pois não sabia exatamente como deveria seguir carregando aquela maldição, mas não me arrependo, qualquer consequência que viesse por conta das minhas escolhas, eu as repetiria quantas vezes fossem necessárias. Afinal foram estas decisões que permitiram, que minha irmã tivesse uma boa vida... Sem isso, tanto seu corpo, quanto sua alma estaria perdida no vazio.

Como poderia permitir que minha irmãzinha tivesse sua alma usada como parte de um sacrifício sombrio em nome de Anúbis. As pessoas buscam justificar suas ações com uma fé cega e desvirtuosa, fazendo as crenças mais sinceras se tornarem corruptas.

O tempo pode ter passado, mas estas pessoas ainda existem, e acredito que sempre existirão, tudo que queria era viver uma vida de forma tranquila, mesmo meus pais dizendo que tinha um dever a cumprir. Que deveria me sentir honrado e sortudo por fazer parte daqueles poucos escolhidos, mas que sorte era essa que tanto falavam? Se soubesse tudo que sei hoje, talvez minhas atitudes poderiam ser um pouco diferentes.

Tentei evitar enxergar o que estava diante de meus olhos, mesmo que algumas situações fossem quase palpáveis. Naquele tempo era jovem e queria apenas conhecer o mundo, sempre me perguntei o que havia além dos limites daquela nossa cidade, se soubesse que meu desejo seria realizado teria sido mais específico, pois o preço que paguei foi muito alto.

Aprendi da pior maneira que é preciso ter cuidado com o que se deseja, às vezes podemos conseguir o que queremos, mas o preço a ser pago e igual ou maior do que o que se procura. Acho que meus devaneios se encontram muito a frente, acredito que para tudo isso fazer sentido, preciso voltar no tempo... Para ser mais preciso tenho que voltar para a época onde tudo desmoronou.

Estava a poucos dias de completar dezoito anos, meus pais queriam que assumisse o posto de aprendiz. Sempre que me recordava do passado conseguia ver o rosto da minha mãe brilhando de orgulho.

— Isso é uma grande honra, meu filho!

Poderia até ser, mas não conseguia enxergar isso naquele tempo, me tornar um aprendiz, significava horas de estudo, e tudo que menos queria era me tornar sumo-sacerdote! Não queria aquele "fardo", mesmo com todos me dizendo que era uma dádiva, que não havia nenhuma recompensa maior que essa para aqueles que serviam a deusa Bastet. Apesar de toda aquela devoção e crença, poucos tinham visto, ou ouvido a deusa, eu mesmo nunca tinha conseguido presenciar tal fenômeno.

Então como saber se era verdade? Como não pensar que aquilo era apenas uma historinha contada, uma lenda passada de pai para filho, mesmo pensando isso nunca falei para meus pais destas minhas dúvidas. Minha irmã também acreditava no que não podia ver, sendo parte do grupo de fiéis convictos que mesmo sem ver, ou ouvir, confiavam em sua fé invisível e inabalável.

Como poderia dizer a eles, que seu primogênito não acreditava naquelas baboseiras? Toda aquela honra que diziam ser motivo de orgulho, não significavam nada para mim, queria apenas aproveitar a pouca diversão que aquele lugar proporcionava. Minha irmã por sua vez era uma estudiosa, adorava aprender... Sabia todos os rituais, orações e agradecimentos que eram oferecidos para a deusa gato.

Mais tudo mudou tão rápido, e inesperado assim como o sol que tem seu brilho escondido pela sombra da lua, um conflito interno entre famílias estava acontecendo e aumentando a cada dia. Os seguidores de Anúbis estavam plantando mentiras e intrigas, ganhando mais força com isso, mas não estavam agindo sozinhos, estavam em aliança com outras famílias.

Aqueles que serviam Bastet não se uniram aquele complô, ou qualquer que fosse o nome dado para aquele movimento, mesmo sem reunir todos a semente do mal havia sido inserido entre todos. E estava germinando, pois o ato de não se unir a tudo aquilo, foi a oportunidade para fazer todos acreditarem que os fiéis que seguiam Bastet, queriam reinar sobre os demais, se achando superiores a todos, que cobiçavam o poder para si mesmo, e por isso eram distantes das demais famílias.

Haviam armado sua armadilha com cuidado, para amarrar todas as pontas soltas, pois estes mesmos questionamentos serviram como pretexto para inflamar ainda mais a inveja e a cobiça daqueles que sempre se sentiram excluídos e nas sombras. Porém, a verdade era que os devotos de Bastet conseguiam enxergar o mal, por isso se afastavam de tudo que poderia contaminar. Entretanto, nem todos viram as coisas assim... Isso acabou causando o levante de outras famílias e inflamando a ira e a caça dos "filhos de Bastet". Eram assim que os devotos abençoados pela deusa eram conhecidos, a cólera fora tão intensa que tentaram até mesmo assassinar todos que ameaçavam seus objetivos, um ato completamente impensável.

Mesmo sem acreditarem em que rumo as coisas estavam seguindo, um plano de contingência para aquele tipo de situação estava em andamento, na tentativa de impedir toda aquela loucura que parecia se alastrar como fogo na plantação. Vários anciões que faziam parte do conselho principal dos filhos de Bastet preparam um encantamento em um dos templos da deusa, para lançar uma proteção que pudesse assim protegê-los. Tudo que precisariam fazer era se esconder no templo principal, onde os cultos e rituais eram feitos em homenagem à deusa.

Todos sabiam as instruções menos eu... Poissempre que tinha uma reunião dava um jeito de escapar, à medida que todos osfilhos de Bastet se organizavam para irem para o tempo. Minha irmã preocupadacomigo e não me encontrando saiu a minha procurar, Zahra me conhecia muito bempara imaginar onde poderia estar, mesmo sabendo que fugia sempre que podia dasminhas responsabilidades, não me dedurava para meus pais.


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Este capitulo tem: 1.175 palavras

Pessoal aqui termina este capítulo, se gostou deixe seu voto e seu comentário, isso ajuda e incentiva a continuar trazendo o melhor para vocês.

O DESTINO DE KHONSUWhere stories live. Discover now