O DESTINO DE KHONSU

CAPÍTULO 47

Apesar de toda minha procura e esforço em tentativas das mais diversas, não consegui encontrar nenhuma maneira de realizar aquele meu objetivo, cheguei ao ponto de tentar diversas formas de morrer, mas nada parecia eficaz. Tentei tomar veneno, entrar na frente de uma bala, perfurar minha cabeça com uma faca, me joguei na frente de um caminhão. Tudo isso foi em vão... Apesar dar dor sobre cada morte, sempre acabava voltando ao meu estado original, até mesmo sem comer fiquei para ver se teria um resultado diferente, mas acabou se mostrando ineficiente.

Com tudo isso, apenas me resignei a aceitar aquele meu destino, vivendo como um gato literalmente falando, coloquei minha mente em ponto morto, como se estivesse em um sono profundo, agindo puramente por instinto. À medida que o tempo ia passando me tornava mais animal do que humano, e pouco a pouco mergulhava mais fundo no meu subconsciente, sendo enterrado dentro de mim mesmo.

Neste processo passei por diversos lares, encontrando pessoas incríveis! Porém, que tinham sua hora para partir, sempre sendo deixado para trás, após acompanhar toda a trajetória deles, carregando apenas aquelas velhas e boas lembranças, que se fundiam, com as do homem que um dia fora. Fazendo com que recordasse de cada detalhe deles, fosse suas aparências, personalidades, ou histórias. Tudo vivia em mim.

Contudo, alguma coisa estava acontecendo comigo, mudanças começaram a acontecer desde que havia me encontrado com Sabina, até mesmo minha consciência que dormia profundamente em meu subconsciente, estava se agitando. Durante muitos séculos nada foi forte o suficiente para balançar meu lado humano, pelo menos até encontrá-la.

Pouco a pouco minha mente começava a ser o que era. Carregada de pensamentos humanos que inundavam minha cabeça, que haviam sido enterrado séculos atrás, apenas não entendia como aquilo estava acontecendo. Não tinha como descrever as sensações, e transformações que pareciam entrar em ebulição dentro de mim, tudo era novo e desconhecido, um terreno completamente e inexplorado, mas sentia que alguma coisa estava ocorrendo, apenas não compreendia o que era. Sensações confusas começavam a percorrer meu corpo de felino, como se reagisse a alguma coisa.

O primeiro contato que tivemos foi em um sonho, em seguida fragmentos do meu passado, as lembranças da minha família... A dor de partir e deixar minha irmã para trás, que morreu sem que estivesse por perto. Me questionava o que havia acontecido, se tinha cumprido seu débito com Anúbis, ou se havia se tornado uma espécie de serva dele.

Hoje percebo o quanto fui egoísta e covarde, pois tomei a decisão sozinho de partir, não me coloquei no lugar da minha irmã, ou dos meus pais, o que poderiam pensar que aconteceu, deveriam ter ficado preocupados, quantas noites acordadas não enfrentaram, na esperança que retornasse...

Mesmo que minhas intenções fossem as melhores, não agi da maneira correta, à medida que minha mente começava a clarear percebia, o quanto fui um idiota! Porém, agora era tarde, para se chorar pelo leite derramado, teria que conviver com tudo aquilo, fosse para o bem, ou para o mal. Mesmo assim era impossível não imaginar como teria sido ter ficado com minha irmã até seus últimos momentos, conhecer meus sobrinhos, isso me fez questionar se ainda existia algum descendente da minha família vivo, muitos anos haviam se passado, mas não tinha como saber, pelo menos por enquanto. Sabina poderia ser a chave para destrancar os segredos que me prendiam na forma de um gato, pois conseguir voltar a forma humana foi graças a ela, mesmo que não durasse muito tempo.

A primeira vez que retornei fiquei eufórico, não conseguia acreditar... Imaginei que era um sonho, olhei minhas mãos abrindo e fechando com uma atenção surreal, claro a vivacidade de tudo... Algo que não conseguia fazer na forma de um felino, era caminhar como um humano, foi um grande desafio, era como retornar a ser uma criança que precisava aprender a andar e se equilibrar, o centro de gravidade estava todo bagunçado, não somente na minha cabeça, mas em todos os meus movimentos.

Minha cabeça doía com frequência, sempre que assumia a forma humana, pois imagens vinham em minha mente sem nenhum tipo de aviso, como se as lembranças de quando era um gato quisessem se fundir as minhas como humano. Organizar tudo aquilo não era uma tarefa nada fácil, era como se houvesse duas pessoas diferentes em mim, uma sendo Khonsu, e outra sendo o gato. Cada vivência da época de felino parecia querer sair, como se quisesse dizer que não podiam ser apagadas, ou esquecidas, cada família, dono e história faziam parte de um todo.

No entanto, tudo parecia se acalmar, quando estava perto de Sabina, quando a mesma saia para ir para escola, aproveitava para assumir a forma humana, e ficava o máximo de tempo que conseguia, tinha medo que aquilo não durasse muito. Sendo assim queria poder aproveitar o máximo que pudesse... Quantos séculos passei procurando uma forma de voltar a ser humano, ou de morrer definitivamente, mas sem sucesso, e apenas quando abandonei as esperanças, deixando apenas as coisas acontecerem isso aconteceu.

Pensar nisso me abriu outros questionamentos, como do que adiantava isso agora? Voltar a ser humano não era mais o que queria, pois todos os que me eram importantes já haviam partido, o que desejava era poder revê-los, e para conseguir isso, talvez apenas a morte verdadeira poderia me conceder isso. Se conseguisse por fim a esta imortalidade, teria a chance de seguir o curso natural das coisas, e com sorte talvez rever minha família.

Queria muito ter a chance de me desculpar com todos, pelas minhas escolhas, por ter abandoná-los, tinha medo que não me perdoassem, mas era uma pergunta que teria que descobrir a resposta quando a hora realmente chegasse e estivesse de frente com eles.

Este capitulo tem: 963 palavras

Pessoal aqui termina este capítulo, se gostou deixe seu voto e seu comentário, isso ajuda e incentiva a continuar trazendo o melhor para vocês.