CAPÍTULO 45

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Tudo estava tão diferente comigo, percebi que meu olfato estava muito mais aguçado, era como se pudesse sentir mais do que apenas cheiros, mas que fosse capaz de farejar sentimentos, e o que senti em minha irmã foi tristeza com uma pitada de pesar...

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Tudo estava tão diferente comigo, percebi que meu olfato estava muito mais aguçado, era como se pudesse sentir mais do que apenas cheiros, mas que fosse capaz de farejar sentimentos, e o que senti em minha irmã foi tristeza com uma pitada de pesar, tentei mais uma vez falar. Porém, sem sucesso, ainda não tinha caído a ficha que agora eu era um gato.

Os olhos de Zahra me observavam com atenção, como se tentasse de alguma forma ver meu verdadeiro eu, ou pelo menos a versão humana que ela conhecia. Deu um meio sorriso, como se tentasse animar nós dois, porém não havia calor, nem emoção, mas seu carinho era agradável... Com suavidade alisava minhas costas, fechei os olhos sentindo toda aquela onda de satisfação que percorria meu corpo felino.

Ver minha irmã daquele ângulo, me fez ter uma perspectiva diferente dela, pois sempre a vim como uma criança, uma menina que precisava ser protegida e cuidada. Tinha apenas treze anos, mas naquele momento não passava a sensação de ter a idade que tinha, talvez fosse sua postura, ou o seu olhar, porém sabia que tinha alguma coisa diferente nela, apenas não conseguia identificar o que exatamente era.

— Para ancorar sua alma neste plano, precisei usar um feitiço dos servos de Anúbis, porém como era uma magia poderosa e fora da nossa linhagem, precisei fazer um acordo... — Parou de falar, como se tentasse encontrar as sentenças certas.

Aquelas palavras fizeram todos os pelos do meu corpo de felino se arrepiar, estremecendo, como se pudesse entender por instinto que aquelas palavras não podiam significar uma coisa boa. Queria muito ser eu mesmo naquele momento para poder segurar em seus ombros e exigir que me contasse o que tinha feito! Que tipo de pacto havia aceitado se submeter?

Entretanto, tudo que podia fazer naquela situação era encarar com olhos atentos, na esperança que entendesse que queria saber, abri a boca e outro miado saiu, me irritei com tudo aquilo.

— Acredito que queira saber o que foi que fiz, não é mesmo? — Não sabia se conseguia ler minha mente, mas agradeci por estar me entendendo. Dessa vez dei um miado como uma forma de confirmação. — Conhecendo você, se pudesse falar, estaria me bombardeando de perguntas e teria me sacudido até tudo girar. — Deu um sorriso, mas de tristeza do que de alegria.

Tinha que reconhecer que minha irmã me conhecia muito bem, mas não conseguia afastar a sensação que algo estava errado, os olhos dela parecia sem vida, como se parte do seu brilho tivesse sido arrancado de seu interior.

— Antes de qualquer coisa, quero que saiba que sinto muito... Não era isso que queria, pode até me achar egoísta, que pensei apenas em mim, apesar disso não me arrependo, não estava pronta para ver você desaparecer, mas lamento por deixar você assim... Não sei dizer se um dia conseguirei fazer você voltar a ser humano. Nesta sua condição atual você não irá morrer, ou envelhecer, não precisará se preocupar com doenças ou ferimentos, de certa forma está protegido, mas preso nesta forma.

Enquanto Zahra falava sentia sua angústia crescer, me aproximei dela roçando em sua perna, como se aquele pequeno gesto demonstrasse que não a culpava, que era minha irmã e que estava feliz por estar bem. Em meio a tudo isso, sabia que o acordo era um problema sério que precisava ser resolvido, qual teria sido a barganha que teve que aceitar para impedir que minha alma fosse levada, que poder usou para equilibrar a balança da minha morte.

― O que irei te revelar é algo que precisa saber, e que ninguém mais terá conhecimento, então escute. Sei que está consciente mesmo nesta sua nova forma, seus olhos me revelam isso, então ouça... Para conseguir manter sua alma neste plano, usei o encantamento de Anúbis, mas por ser uma devota de Bastet e muito jovem, não importava o quanto tentasse não estava funcionando, o estava perdendo, sua respiração encontrava-se cada vez mais fraca, sabia que era apenas uma questão de tempo. Sem muitas opções fiz uma barganha com Anúbis, se me ajudasse em troca daria a única coisa que possuía... Minha vida!

Não estava acreditando no que estava ouvindo, após todo meu esforço, e até mesmo me jogar contra uma adaga para impedir que aquilo acontecesse, Zahra estava me dizendo que havia feito uma troca com Anúbis por minha vida, dando a dela no lugar, não podia ser verdade, estava ouvindo errado, pensei quando miei em um tom mais agressivo, como se mostrasse que não concordava com aquilo.

― Sei que deve estar furioso, mas foi minha escolha, e não é como se fosse cair morta, eu ofereci anos da minha vida, não foi minha alma e nem minha vida totalmente que entreguei a ele. Em meio a toda aquela confusão ofereci vinte anos da minha expectativa de vida que pode ser interpretada de muitas formas, sendo ela literal, ou não, para ter o poder necessário para realizar o encantamento, claro que isso não tem o mesmo peso de sua vida, mas tive quase certeza que os olhos da estátua de Anúbis brilharam como se concordasse... Claro que aquela representação dele não ganhou vida, ou falou diretamente comigo, mas vi as chamas azuis que estava no braseiro se apagarem, ao mesmo tempo que uma energia sombria e fria me envolvia, as chamas se acenderam como magica, mas estavam em um tom roxo, não era azul e nem vermelha.

Como alguém que não acreditava em nada daquilo, poderia aceitar que tudo que minha irmã estava me contando tinha de fato acontecido, saber que ela cedeu vinte anos de sua vida, apenas para ancorar minha alma neste plano me feria por dentro, mas aquilo não estava certo... Como Anúbis aceitou aquilo, mesmo que tenha me transformado em um gato, ganhei a imortalidade que Edjo e os seus queriam, e minha irmã teve que dar apenas alguns anos de sua vida? Com certeza havia mais coisas por trás daquilo.

― Quase consigo ver seu cérebro trabalhando, tentando entender tudo isso, mas existem coisas que não conseguimos compreender, sempre soube que não acreditava nas crenças dos nossos pais e respeitei isso, mas isso não significa que elas sejam vazias. Não pense demais nisso, e acredite em mim quando digo que não irei morrer, ou ficar velha do dia para a noite, que esse pacto realmente significa é que agora sirvo não somente a Bastet, mas também a Anúbis. ― O que aquelas palavras significavam? Era possível servir duas divindades?


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Este capitulo tem: 1.086 palavras

Pessoal aqui termina este capítulo, se gostou deixe seu voto e seu comentário, isso ajuda e incentiva a continuar trazendo o melhor para vocês.

O DESTINO DE KHONSUWhere stories live. Discover now