CAPÍTULO 46

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Para alguém que sequer acreditava que deuses realmente existiam, ali estava eu me questionando se era possível servir, ou adorar à dois deuses, não sabia como colocar aquilo em um contexto

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Para alguém que sequer acreditava que deuses realmente existiam, ali estava eu me questionando se era possível servir, ou adorar à dois deuses, não sabia como colocar aquilo em um contexto. Mas acredito que ser transformado em um gato quando estamos à beira da morte, pode ser um fator decisivo para mudar nossas próprias concepções.

Minha irmã tentava justificar suas ações com explicações, como se aquilo fosse mudar o que tinha feito...

— Minha barganha concede a Anúbis vinte anos de minha vida, que pode ser usado da forma que a divindade julgar mais vantajosa, caso morra antes de pagar meu débito, serei enviada ao submundo para servi-lo como uma de suas servas. Porém, esta condição é muito específica e só vai acontecer caso, morra de formas não naturais, assim que o débito for pago volto a ser uma filha de Bastet, caso deseje isso.

Ouvir aquelas palavras me causou diversas sensações, refletindo nos dias atuais era como se os deuses fossem os pais e tivessem que compartilhar a guarda dela, onde iriam alternar os dias de visita e ficar um tempo na casa de cada um. Senti uma certa dúvida na voz da minha irmã, e aquilo me deixou inquieto, pois sempre se orgulhou de ser uma serva da deusa gato...

— Não precisa se preocupar tanto... E este acordo não incluí você, não está vinculado a nenhum destes termos, ainda não entendo o porquê foi transformado em um gato, mas prometo que irei procurar até achar alguma coisa! Não descansarei até que consiga desvendar este mistério.

Soltei um miado mais longo quase como se fosse um suspiro, porém entendia que o que estava feito, não podia ser desfeito e não tinha nada que pudesse fazer a respeito. Se fosse para salvá-la, faria tudo de novo quantas vezes fosse necessária... Por isso não podia julgar as escolhas que minha irmã fez, mesmo não concordando com elas.

— Ninguém mais sabe disso, e continuará assim. Apesar deste acordo, não pretendo deixar você nesta forma de gato, isso será temporário, apenas não sei quanto tempo pode levar, a única coisa que me consola de certa forma é que enquanto estiver assim estará seguro e protegido... Dedicarei este meu tempo como serva de Anúbis para encontrar uma maneira de quebrar esta maldição. Apenas confie em mim, nosso pai viu quando você mudou de forma, para ele isso foi um milagre da deusa Bastet, pelo simples fato de ter se transformado em um gato.

Entendo o desejo de Zahra de deixar aquilo em segredo, por diversos motivos diferentes, saber que seu filho foi transformado em um gato pelo poder de Anúbis e não de Bastet, seria um grande choque, acho que até maior do que ver seu primogênito se transformar diante seus olhos em um felino. Também saber que sua filha, trocou vinte anos de sua vida para salvar o irmão, recorrendo ao poder de Anúbis ao invés de Bastet seria uma grande desgraça para nossa família.

Poderia ter sido história para um filme, ou um livro, mas era apenas a nossa nova realidade, o tempo ia passando enquanto acompanhava minha irmã, percebi que havia um elo entre nós dois, como se nossos espíritos de alguma forma houvessem sido ligados, conseguia sentir as emoções dela, ou saber se estava com algum tipo de problema. Sempre tivemos uma ligação forte, mais isso subiu de nível após me transformar, fora que com a ampliação de todos os sentidos era tudo mais intenso.

Começava pouco a pouco me acostumar com minha nova condição, o peso do meu corpo, a agilidade e o equilíbrio preciso, além é claro a falta de força... Mais com esforço e dedicação estava controlando melhor tudo que envolvia aquela nova perspectiva. Até mesmo minha visão que foi o que mais me atrapalhou, além é claro do óbvio que era não poder falar... Tudo seria muito mais fácil se conseguisse usar as palavras, não apenas em meus pensamentos, mais vocalmente.

Percebi com isso o quanto os felinos eram extraordinários, a visão deles, era diferente do que estava acostumado, os espectros eram incomuns, mudando as cores e focos, ao mesmo tempo que a amplitude do campo visual e a capacidade de enxergar mais longe aumentaram drasticamente. Perceber um movimento ao longe não era uma tarefa tão difícil usando todos os sentidos felinos que possuía agora.

Entretanto, não havia me transformado em um gato comum, todas as minhas capacidades eram maiores que as convencionais, me fazendo saltar cinco, ou dez vezes mais alto do que um felino faria em suas melhores condições, notei isso após vários testes de observação e aplicação prática. Um item que jamais imaginei que seria útil eram os fios de bigode, que não entendia sua utilidade quando era um humano, e apenas quando me transformei em um felino compreendi melhor.

Porém, expressar com palavras é um tanto quanto difícil, o que posso tentar fazer é usar uma analogia, para poder servir como uma base de parâmetro, o bigode era uma espécie de sensor aranha, que tinha a capacidade de alertar dos perigos que se aproximavam, pois os mesmos agiam como sensores que captavam os menores movimentos e vibrações. Uma habilidade inerente que fazia parte da própria constituição do corpo de um gato, porém amplificada muitas vezes em meu corpo.

Apesar de tudo isso, a vida de um felino podia ser bastante maçante e monótona, na maior parte do tempo, mas como um humano preso no corpo de um gato, buscava sempre aproveitar o máximo que minha condição podia me proporcionar. Sendo um imortal, o tempo não era algo que me afetava, mas não era assim com minha irmã, neste processo a vi crescer e se casar, sem deixar de pesquisar uma forma de me ajudar.

Como prometido, ela nunca revelou para ninguém o real motivo da minha condição, as pessoas iam envelhecendo e morrendo, enquanto outros iam nascendo, mas continuava parado no tempo, apenas vendo todos que amava partirem. Aquilo aos poucos começava a me consumir, sem outra escolha decidi partir, sei que não foi a escolha mais inteligente, mas não suportaria ver todos simplesmente seguirem para o outro lado e ser abandonado aqui.

Mesmo minha irmã se empenhando não havia conseguido muita coisa, pensei que se partisse poderia esquecer tudo aquilo e viver sua vida, pois merecia ser feliz. Acreditei de coração que Zahra estaria melhor sem o fardo de salvar seu irmão nos ombros, pois acabou tomando isso como um propósito que estava sugando suas energias. Hoje me culpo por minhas escolhas, sequer pude me despedir, mas sabia que minha irmã entenderia que estava bem, onde quer que estivesse, afinal era um imortal, sem olhar para trás viajei pelo mundo afora sozinho buscando uma forma de quebrar aquela maldição, ou pelo menos por fim na imortalidade que me impedia de descansar.

 Hoje me culpo por minhas escolhas, sequer pude me despedir, mas sabia que minha irmã entenderia que estava bem, onde quer que estivesse, afinal era um imortal, sem olhar para trás viajei pelo mundo afora sozinho buscando uma forma de quebrar aque...

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Este capitulo tem: 1.129 palavras

Pessoal aqui termina este capítulo, se gostou deixe seu voto e seu comentário, isso ajuda e incentiva a continuar trazendo o melhor para vocês.

O DESTINO DE KHONSUWhere stories live. Discover now