CAPÍTULO 72

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Peguei o papel em minhas mãos. A textura era mais áspera, e o tom amarelado diferia dos papéis convencionais. Apesar dos olhares, ninguém parecia prestar atenção de verdade em nós. Começamos a caminhar sem que percebesse.

— O que é isso? — Desenrolei o papel, vendo uma escrita estranha.

— Este é o encanto que libertará Khonsu; no entanto, só deve ser proferido quando a chama ancestral for restituída ao templo de Rá. Com a realização desse ato, a missão dele estará concluída, e será finalmente liberto.

— Assim tão simples? — Indaguei, cética.

— Simples é uma palavra que pouco se aplica aqui. Vocês terão a árdua tarefa de atravessar o submundo, de conduzir o barco solar Mesektet. E quando as águas se partirem, o barco se transformará no Mandjet, que os levará ao templo do deus Sol. Lá, você terá a responsabilidade de recitar o encanto. — Meus olhos se arregalaram diante da magnitude da tarefa.

— Mas eu nem consigo decifrar o que está escrito aqui! — Exclamei, elevando a voz involuntariamente.

— Não há motivo para preocupação. Quando você estiver no templo, a leitura lhe será possível, conforme previsto na visão de Atena.

— As visões de sua filha são incrivelmente precisas, não acha? — Comentei, impressionada com a capacidade dela em resolver tudo com uma simples visão.

— Isso acontece devido à linhagem dela, pois é uma mistura poderosa, a maior até o momento. Carregando duas heranças, ela tem a habilidade de ver mais à frente, mesmo sendo humana. Mas lembre-se, o futuro não está escrito em pedra. O que Atena vê são possibilidades, caminhos que podem ser escolhidos. Nada é definitivo. — Ele concluiu, enfático. — Apesar do destino desafiador que vocês enfrentam, serão suas escolhas que determinarão o desfecho.

Com estas suas palavras, se afastou, desaparecendo em meio aos diversos alunos. Fiquei ali parada por alguns segundos, digerindo tudo que tinha sido dito, ainda segurando aquele pedaço de papel. Afastei meus devaneios, voltando à realidade. Enrolei o papel e o guardei enquanto seguia para o refeitório. Encontrei Kim me esperando em uma mesa afastada, me aproximei e me sentei de frente para ela.

— E aí, o que o curador queria? — Perguntou antes mesmo de eu me sentar.

— Apenas perguntar por que não participei da aula. — Menti, querendo poupá-la de saber coisas que seriam mais difíceis no futuro.

— E demorou todo esse tempo? — Os olhos afiados de Kim pareciam procurar por alguma coisa.

— Também comentou sobre outras coisas, que não julguei muito interessante, sabe. — Tentei dar consistência àquela história.

Pude ver nos olhos de Kim que não tinha comprado aquela história, mas não fez mais perguntas. Assim que terminamos de comer. Seguimos para a aula, agora apenas nos encontraríamos no último período. As demais aulas passaram rapidamente, à medida que minha mente ficava à deriva em tantos pensamentos. Teve aqueles sonhos estranhos, a missão de levar a chama ancestral, ajudar Khonsu a ser libertado, mas me questionava quem iria me ajudar com meus próprios problemas.

Quando a última aula chegou, nem havia percebido. Kim se sentou em minha frente, focada na aula, pois teria uma prova daquela matéria. Todos estavam tentando absorver o máximo de conhecimento, menos eu. Não estava mais focada naquilo, afinal, não sabia se teria tempo para me preocupar com uma prova. Era engraçado como as prioridades e preocupações podem mudar drasticamente de uma hora para outra.

Logo após o término das aulas, saímos da sala, e Kim caminhou ao meu lado. Ela provavelmente já havia percebido que algo estava diferente, mas agradeci mentalmente por não fazer perguntas que não conseguiria responder, pelo menos não com a verdade.

O DESTINO DE KHONSUWhere stories live. Discover now