CAPÍTULO 70

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Sua orelha se agitou ao som do clique da porta fechando

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Sua orelha se agitou ao som do clique da porta fechando. Ao virar a cabeça, os olhos amarelos do gato brilharam sob a luz tênue. Ele soltou um miado suave, e eu me aproximei, acariciando sua pelagem macia. Era surreal pensar que aquele felino se transformava num homem cuja pele carregava as marcas do sol, alguém mais antigo que toda a minha linhagem. Desviei o olhar, contemplando a lua.

— Você acredita que conseguiremos vencer? — Perguntei, sem desviar os olhos do céu prateado pela lua.

O gato miou, um som quase articulado, como se prometesse tornar aquele desejo realidade. Mas o futuro era incerto. Khonsu e eu havíamos sido tragados pela tempestade de areia que obscurecia nosso caminho, onde parar não era uma opção.

— Sabe, nunca pensei que terminaria assim. Que abrigar um gatinho sob a chuva pudesse gerar tamanha confusão. Mas não me arrependo, pois isso expandiu meus horizontes, ensinou-me a lidar com as adversidades. Viver da forma como eu vivia... só poderia ter um fim...

Calei-me, relutante em verbalizar os pensamentos sombrios que me assolavam desde que Sam tinha partido do meu mundo. Pensei em desistir de tudo, em buscar a saída mais fácil, como dizem. Mas decidir pelo fim da própria vida não é simples, tampouco fácil como supõem. É um ato complexo e profundo, que só quem enfrenta compreende a dor, e muitas vezes, nem mesmo quem está no epicentro consegue expressar em palavras.

Não notei quando Khonsu saltou da janela, roçando em minha perna num gesto de conforto. Seu toque me trouxe de volta à realidade. Sentei-me na cama, peguei o celular e lembrei de enviar uma mensagem para minha avó. Tinha esquecido de avisar que chegara bem. Pedi desculpas e disse que já estava em casa há algum tempo. Ela respondeu com um áudio, sua voz denotava preocupação. Pedi desculpas novamente e desejei-lhe boa noite. O breve tempo que passamos juntas era insubstituível, e independentemente do que acontecesse em dois dias, jamais esqueceria.

O mesmo valia para meus pais. Foi reconfortante vê-los felizes, tentando seguir em frente, não se concentrando apenas no trabalho. Embora eu suspeitasse que parte dessa mudança fosse por minha causa, temia que minha atitude os estivesse afastando. Lamentava por isso, mas era um reflexo do momento sombrio pelo qual passava... Por fim, havia Kim. Eu a veria amanhã e teria a chance de me despedir à minha maneira, pois não revelaria o que estava prestes a fazer. Ela certamente me consideraria louca, mas quem não pensaria o mesmo?

Ouvi duas batidas suaves na porta antes dela se abrir.

— Querida, a pizza chegou. — Anunciou meu pai, sua voz precedendo sua entrada no quarto.

— Ótimo! Já estou descendo — Respondi com um sorriso.

— Pedimos metade catupiry, e metade muçarela — Informou sobre o sabor da pizza.

— E o refrigerante gelado? — Perguntei, esperançosa.

— Você sabe que não sou a favor de refrigerantes, mas admito que um copo gelado com uma rodela de limão é tentador.

O DESTINO DE KHONSUWhere stories live. Discover now