8 • Harvard

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Maio, 1999 • Boston – MA Christopher Evans

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Maio, 1999 • Boston – MA
Christopher Evans

Quando a carta de admissão para o curso de Direito em Harvard chegou em minha casa, os meus pais estavam em horário de trabalho e até onde eu me lembrava, a minha irmã mais nova, Carly, estava estudando na casa de alguma colega, já que Scott e Shanna, por serem mais velhos, moravam no campus de suas respectivas faculdades.

Eu estava há uma hora, parado, olhando o envelope com o escudo da instituição sobre a mesa redonda da cozinha, sem a mínima coragem para ver o conteúdo em seu interior. Eu estava com medo de não ser aceito. Não por não ter segundas opções. Eu perdi as contas de quantas faculdades me inscrevi, mas eu queria Harvard porque ela também estava torcendo para ingressar nessa faculdade.

O ano passado ao lado de Scarlett havia sido mais fácil e eu surtava só em imaginar ficar anos sem vê-la. Óbvio que ela não sabia disso e eu manteria dessa forma pelo prazo mais longo possível.

Meu corpo sacolejou na cadeira ao ouvir batidas frenéticas na porta de entrada, acompanhadas do som da campainha que era bruscamente tocada. Respirei fundo antes de pegar o envelope e criar forças para caminhar até a visita que havia chegado inesperadamente.

— Você recebeu?

Foi a primeira coisa que Scarlett disse quando eu abri a porta. Sua aparência era de quem havia corrido até aqui, mas nem por isso ela estava cansada. Eu teria vomitado as minhas tripas se tivesse corrido por três quarteirões. Em sua mão direita, ela tinha o mesmo envelope que estava entre os meus dedos, o que me deixou ainda mais nervoso.

— Eu não consegui abrir — admiti.
— Nem eu — Scar soltou o ar — Vamos abrir juntos!

Sua mão pousou em meu pulso e eu precisei empurrar a porta com o pé antes da ruiva me puxar para a cozinha, praticamente me atropelando pelos móveis da casa. Colocamos simultaneamente os envelopes sobre a mesa e ela foi até a geladeira e se serviu de um copo de água.

— Eu acho que irei infartar — ela disse após beber todo o líquido.
— Não estou tão longe desse destino — admiti, sentando na cadeira e apoiando o rosto sobre as minhas mãos — E se não passarmos?
— Sem negatividade, Christopher! — Scar me repreendeu, sentando-se em minha frente — Vamos lá, é só um envelope.

A ruiva disse tão baixo que eu predirei repensar para entender que aquela frase não era para mim. Os dedos de Scarlett tamborilavam a superfície de carvalho demonstrando nervosismo e seus olhos não desgrudavam do envelope ainda fechado. Nem quando ela assumia o seu posto de co-capitã num jogo em que os Wild Wolf's estavam perdendo, ela ficava nervosa dessa forma.

E era compreensível. Johansson sempre desejou estudar em Harvard e se esforçou durante todos os anos do colégio para esse momento. Lembro que um dia, Hunter me disse o quanto ela estava esgotada por querer tudo de vez, ser a melhor aluna em cálculo e animadora de torcida. Poderia até parecer fácil para quem não via por trás de toda aquela beleza descomunal que só ela tinha.

— Vamos abrir juntos — sugeri, a fazendo concordar — Um, dois...
— Três — abrimos o envelope.

Um nó alcançou a minha garganta quando meus olhos rapidamente encontraram a frase: "Parabéns! Em nome da Harvard Law School, tenho o prazer de informar que a sua inscrição foi aprovada para o curso de Direito a partir de 17 de agosto de 1999". Em um solavanco, saltei da cadeira e gritei, comemorando a minha admissão, mas automaticamente parei quando percebi que Scarlett ainda olhava a folha de papel em suas mãos.

— Scar? — ela me olhou, com os olhos cheios de lágrima.
— Eu... — sua voz embargou e eu coloquei as mãos na cabeça em um ato desesperador. Ela não passou.
— Me dá isso aqui!

De modo brusco, peguei o papel da sua mão a fim de ver o motivo de Johansson estar quase morrendo na cozinha da minha residência. O medo de ter sido aprovado e ela não, me consumiu, mas logo os meus ombros cederam de tensão. Ela havia sido aprovada.

Uma gargalhada atingiu a minha audição e encontrei Scarlett debruçada sobre a mesa, reagindo a minha cara de desespero. Ela acabou de contracenar?

— Eu já falei para você parar com isso! — ela ainda ria.
— Você precisava ver a sua cara! — eu cruzei os braços.
— Seis meses de teatro e acha que pode ganhar o Oscar? — a provoquei.
— Se não desse certo com Harvard, pelo menos teria uma segunda opção — ela pegou o papel que continua a sua admissão de minha mão — Cara! Eu passei! — a ruiva sorriu abobalhada e eu tive a certeza que me inscrever para Harvard foi a melhor coisa que fiz.
— NÓS PASSAMOS, SCARLETT! — gritei e ela me acompanhou, pulando em meu colo.

Rodei os nossos corpos ainda entre gritos mas acabamos caindo no chão em seguida, graças a meus dois pés esquerdos, mas aquilo não foi o suficiente para nos abalar. Muito pelo contrário, Scarlett ria de toda a euforia que causamos após realizar parte do nosso sonho.

Foi aí que eu percebi que eu nunca havia ficado tão perto dela como naquele momento. Estávamos com os corpos colados, um em cima do outro. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. O cheiro do seu shampoo de baunilha invadia o meu olfato e suas mechas ruivas brincavam em minha face, provando que nem sempre o ouro era melhor do que o bronze. Eu podia ver detalhadamente as suas sardas, que pareciam respingos de tinta, deixando a pintura ainda mais delicada, como se tivesse sido lapidada a mão. Scarlett tinha no rosto a sua própria constelação.

— Eu já deveria saber que seus pés esquerdos te trairiam — foi inevitável olhar para os seus lábios. Eu os queria, mas não poderia arriscar fazer merda e perder a amizade de Scarlett.

 Eu os queria, mas não poderia arriscar fazer merda e perder a amizade de Scarlett

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