17 • Perfume de baunilha

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Outubro, 2018 • Boston – MA Chris Evans

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Outubro, 2018 • Boston – MA
Chris Evans

Nossos amigos podiam não ter reparado na tensão que Scarlett teve em se levantar durante aquele assunto, mas eu percebi. Ela levantou tão rápido que por pouco não tropeçou nos próprios pés.

Eu imaginei que a minha virgindade um dia viria a tona, já que sempre davam um jeito de me zombarem sobre isso, porém nunca passou pela minha cabeça como aquilo poderia afetá-la.

O assunto foi trocado, entrando a pauta de quando Zoe e Anthony planejavam ser pais, pois estavam casados há dez anos. Aproveitei a deixa para recolher o restante da louça na mesa e levar para a cozinha, enquanto a residente ajeitava alguns pratos no lava-louça.

— Tudo bem? — perguntei ciente que poderia não ter uma resposta verdadeira.
— Tudo — por algum motivo, ela estava sendo grossa.
— Eu te conheço, Scarly — sua postura ficou ereta, combinando com a frustração dos seus braços cruzados em minha frente — Algo está te incomodando.
— Você me conhecia, Evans! — não era um bom sinal quando ela usava o meu sobrenome — Se passaram quinze anos.
— Isso não quer dizer nada — fechei o lava-louça após colocar o restante dos pratos usados — Nós nos conhecemos o suficiente.
— Será? — o deboche estava claro em sua tonalidade — Se não fosse por essa fofoca, eu mal saberia que namorou com a Hayley.
— Você já sabia disso — cruzei os braços, imitando a sua postura — Gwyneth não te contou na época?
— E você acha correto eu saber algo desse tipo por outra boca, em vez da pessoa de quem se dizia ser o meu melhor amigo? — engoli em seco.
— Nós perdemos contato antes disso — indaguei.
— Perdemos, Evans? — ironia no ar — Ou você perdeu?

Um silêncio pairou entre nós antes do celular de Scarlett tocar no bolso e ela dar as costas entrando em uma das portas do corredor, que provavelmente seria o seu quarto. Passei tanto tempo longe dela que havia esquecido o quanto precisávamos conversar sobre alguns detalhes pendentes. Apenas não imaginei que isso poderia acontecer hoje.

Direcionei o meu olhar para o restante do grupo, que tinham se transferido da área de jantar para o sofá, fingindo não terem prestado atenção na pequena cena no cômodo conjugado. Mesmo que o diálogo tivesse sido algo discreto, eu sabia que eles tinham escutado o suficiente, até porque Johansson bateu a porta do quarto mais forte que o normal. Um hábito que ela não havia perdido.

— Não vai atrás dela? — Anthony perguntou.
— Não sei se é uma boa ideia — sentei no chão, próximo ao sofá.
— Se ela realmente estiver irritada com você, aconselho não ir — Lizzie comentou — Se tem uma coisa que não deve ter mudado na nossa ex co-capitã é o estresse explosivo.
— Garanto que não mudou — comentou, o único Johansson do ambiente.
— O que foi mesmo que aconteceu, em? — Seb, curioso como sempre.
— Ela não sabia da Hayley — Zoe indagou — Quer dizer, não sabíamos que tinha durado tanto tempo.
— Durou até demais — Thony completou.
— Isso aconteceu há mais de quinze anos. Tem algo a mais nisso — Brie se levantou.
— Onde você vai? — a morena perguntou.
— Falar com ela.
— Espero que volte viva — zombou, Stan.

Quando a mão de Brianne ousou encostar na porta do quarto para bater, Scarlett a abriu, deixando explícita a tensão em sua face. Eu pude sentir que poderia ser algo além da leve discursão que tivemos.

— O que foi? — Scar perguntou.
— Está tudo bem? — Brie coçou a nuca, observando a amiga.
— Apenas fui atender uma ligação — a vi engolir em seco.
— Era o seu marido, não é? — senti o olhar de todos sobre mim, mas não dei importância. Eu realmente queria saber.
— Ex-marido — ela me corrigiu — E sim, era ele.
— O que esse babaca queria? — seu irmão perguntou irritadiço, mas Scarlett apenas balançou a cabeça de um lado para o outro e sentou no chão ao meu lado.
— O que acha de assistirmos um filme? — Zoe sugeriu.
— Há grandes chances de eu dormir na metade — risos acompanharam o comentário de Brie.
— Não julgo, porque estou na mesma situação — disse, Sebastian.
— Por que será, Seb? — Scar brincou, deixando a Lizzie igual a um tomate.
— Coloca logo aí! — a morena protestou, tomando o controle da mão do esposo, o deixando reclamar sozinho.
— Você pode passar em meu escritório na segunda? — perguntei a Scarlett, baixo o suficiente apenas para ela ouvir.
— Para quê?
— Precisamos resolver o seu divórcio — ela respirou fundo e aproximou o rosto do meu.
— Romain está se recusando a aceitar o divórcio — Johansson estava claramente desanimada.
— Pena que ele não têm querer — disse com firmeza — Não atenda mais nenhuma ligação dele. Ordens do seu advogado — discretamente, a loira sorriu. Eu precisava passar confiança para ela poder enfrentar o seu ex-marido de frente — Agora ele irá tratar tudo comigo.
— Eu trabalho durante todo o dia. Você poderia vir aqui? — seus olhos verdes brilhavam de curiosidade.
— Então deixarei a minha noite vaga para você.

Após debater com Anthony e Brie, Zoe acabou escolhendo um filme aleatório da Netflix, e de início todos estavam se esforçando para manter a atenção nas cenas projetadas na televisão, mas era impossível depois de trinta minutos.

Um grupo com oito pessoas acima dos trinta e cinco anos, que trabalhavam o dia inteiro de segunda a sexta e ainda passaram a madrugada em um bar... era óbvio que o sono iria derrubar todos.

Mantendo a sua discrição, Scar, que estava próxima a mim sentada no tapete da sala, tombou com cuidado a cabeça para o lado, encontrando o meu ombro coberto pelo meu suéter azul-marinho. Ela estava dormindo e provavelmente nem tinha noção do que estava fazendo.

Seu familiar perfume de baunilha me fez viajar ao passado, no tempo em que éramos inseparáveis. Na época, Scarlett tinha o hábito de encostar a sua cabeça em meu ombro sempre que achasse uma oportunidade, e eu nunca consegui lhe negar qualquer tipo de aproximação, afinal, tê-la por perto sempre foi o principal motivo para manter um sorriso pelo resto do dia, por mais que as coisas tenham desandado entre nós por um tempo.

Agora eu estava ali, como um bobo, sentindo o aroma dos fios dourados do seu cabelo, imaginando como teria sido a nossa vida se as coisas tivessem seguido um caminho diferente. Sem ter a capacidade de entender como eu pude deixar uma mulher daquelas fugir.

 Sem ter a capacidade de entender como eu pude deixar uma mulher daquelas fugir

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