9 • Atingida pela saudade

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Outubro, 2018 • Boston – MA Scarlett Johansson

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Outubro, 2018 • Boston – MA
Scarlett Johansson

A temperatura em Boston já havia caído bruscamente no final do primeiro mês do outono. A maioria das pessoas lotavam as cafeterias a procura de uma bebida quente, deixando as ruas apenas decoradas com folhas cor de laranja e amarela sobre as calçadas. Com o frio, a empolgação para sair de casa era praticamente escassa, já que os casacos e cachecóis agora eram de extrema necessidade, além da chatice de tirá-los e colocá-los sempre que adentrar e sair de algum estabelecimento.

Eu não tinha outra opção a não ser me aventurar para poder trabalhar, já que ainda não descobriram um modo das contas serem pagas sozinhas, mas a pior parte era voltar para casa, com a sensação de 10°C sobre a epiderme e o aquecedor do carro sem funcionar direito.

Foi a primeira coisa que eu fiz ao chegar em meu apartamento, após ligar as luzes da sala. Acionar o aquecedor, pois eu já sentia os meus dedos gelados ao ponto de mudarem de cor. Sem procrastinar, tomei um banho bem quente e vesti uma roupa confortável o suficiente para me fazer aguentar passar a noite sem incômodos devido ao frio. Agradeci pelo aquecedor de casa estar funcionando, e anotei em um bloco de anotações ao lado da cama que eu deveria levar o carro em uma oficina.

O som familiar do toque do meu celular ecoou no cômodo ao lado e caminhei rapidamente até ele antes que a ligação encerrasse sem ser atendida.

Que demora para atender — a voz de Brie anunciou sua irritação.
— Boa noite para você também, cara amiga — usei o meu melhor tom de sarcasmo.
Posso saber por que não respondeu o meu e-mail?
— Porque eu sabia que você iria me ligar da mesma forma.
Você nem abriu o e-mail, Scarlett! — ela me repreendeu.
— E agora você está do outro lado da linha para me contar o que tinha no e-mail que parecia ser tão importante — a ouvi bufar do outro lado da linha.
Argh! Eu te odeio! — ri de sua atitude imatura.
— Desembucha.
Reunião na sexta da turma de 1998 — eu gargalhei alto.
— Você só pode estar de brincadeira, Brianne!
Não me chame de Brianne e não, não estou brincando. Eu mandei e-mail para todos da turma.
— Eu nem me lembro de todos da tur... — parei após um pensamento me atingir — Como você conseguiu o e-mail de todos após vinte anos sem contato?
Google — minha amiga disse como se fosse algo óbvio.
— E os nomes?
Anuário — respondeu, Brie.
— Você ainda tem o anuário de 1998? — disse, surpresa.
Eu era representante da turma, OK? Eu tenho duas páginas em destaque sobre mim. É obvio que eu iria guardar para o resto da vida. Ainda mostrarei para os meus filhos e... — a interrompi.
— Acho melhor adiantar a parte dos filhos. Você já está perto dos quarenta.
Cala a boca, Johansson! — eu gargalhei — Não é como se você fosse nova.
— Mas eu já desfrutei do casamento e não gostei nada — foi a vez de Brie gargalhar.
Vamos nos casar e ter bebês gêmeos.
— A ideia até que não é ruim — nós rimos.
Voltando ao assunto: você vai! — minha amiga insistiu.
— Vou para onde? — me fiz de desentendida e ouvi um gritinho de irritação da minha amiga.
Você vai para a porra da reunião! Você, Zoe, Thony e Hunter tem a obrigação de comparecer nessa merda! — segurei o riso devido ao seu nervosismo.
— Se é merda, por que marcou essa reunião?
Porque eu quero ver como todo mundo ficou após vinte anos.
— Ou você quer ver o Hemsworth? — Brie tossiu — Eu achei que você já tinha superado o fato de ter dado um fora nele no High School.
— Eu era uma idiota, ok?
— Ele também era. Ou ainda é?
Não sei. Espero descobrir sexta-feira.
— Eu realmente preciso ir?
Sim! Além de você ter sido a co-capitã das Wolf's, o Sebastian me prometeu convencer o Christopher de ir também.

Um silêncio invadiu a linha telefônica. O ar em volta de mim havia ficado rarefeito após ouvir aquele nome. Fazia exatamente dezesseis anos que eu não o via, e ainda assim o efeito que ele me causava era descomunal. Era completamente estranho aquela sensação de saudade que me atingiu ao perceber o tanto de tempo que tenho sem vê-lo.

Me concentrei em voltar a respirar em ritmo normal, focando na voz de Brie na ligação, mas falhei miseravelmente nas tentativas. Minha atenção estava inteiramente perdida após ouvi aquele nome.

Você ainda gosta dele, não é? — Brie perguntou.
— Óbvio que não! — uma risada invadiu minha audição.
— Consigo sentir o cheiro de mentira de longe, Scarlett.
— Para de ser chata, Brianne. Isso faz anos. Eu me casei, me divorciei... — ela me interrompeu.
— E agora você é uma mulher livre.
— Não me sinto pronta para qualquer outro relacionamento, Brie — admiti, derrotada — Estou com trinta e cinco anos, não é como se um amor fosse cair do céu.
— Seu amor nunca saiu de Boston — suspirei.
— Já faz muitos anos — falei novamente.
Eu entendo a sua situação, não irei te forçar a ir. Só achei que seria legal reunir a turma e perturbar o Robert com a história do ombro — foi inevitável não rir.
— A ideia é boa, não minto, mas a vontade de sair está completamente escassa. Ainda estou me recuperando do meu término com o Romain.
Promete que vai tentar ir? — ela insistiu — Vai te fazer bem, te distrair.
— Farei o possível.
Não se esqueça o quanto você era querida no High School. Aposto que o pessoal vai adorar te ver.

A verdade é que eu não estava interessada em saber se o pessoal quer ou não me ver. Tudo o que eu pensava, desde quando a minha amiga citou o nome dele ao telefone, era se Christopher Evans iria para essa reunião na intenção de me ver.

Ingenuidade da minha parte me deixar levar por essa concepção. Se ele quisesse me ver, teria me procurado, dado um jeito de me encontrar. Se Brianne consegue o e-mail de todos da turma, ele com certeza conseguiria o meu.

Nossos anos em Harvard iniciaram do modo mais perfeito possível. Eu tive o meu amigo próximo de mim, todos os dias, mesmo sendo de campus diferentes. Dávamos sempre meios de pular a catraca do dormitório para ficar deitados na grama atrás do prédio central, olhando as folhas sob a árvore, conversando sobre tudo e sobre nada. Porém a aproximação que Harvard nos deu, Harvard também foi capaz de tirar.

 Porém a aproximação que Harvard nos deu, Harvard também foi capaz de tirar

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