Capítulo 16

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Passou uma semana desde a morte do Filipe. As investigações para apurar as causas continuaram após o funeral, mas ainda nada é concreto. Tenho falado todos os dias com a mãe do Harry e as perspetivas são boas, tem evoluído bem e espera-se que volte para casa em breve. Não o fomos visitar por estar num estado demasiado frágil, assim pelo menos ajudámos a prevenir uma possível infeção, ao não ter contacto com mais ninguém, além dos pais.

Entretanto, vou hoje voltar ao trabalho. Deram-me estes dias para poder recuperar, aproveitar para pôr as ideias em dia e desligar do mundo, para refletir na minha vida. Visto a minha saia preta e um top de alças branco e faço-me à estrada.

Chego à empresa e começo por fazer um resumo daquilo que aconteceu nos últimos dias e daquilo que está na agenda para os próximos. Após estar a par de tudo, faço alguns telefonemas para confirmar as reuniões. Chega alguém junto a mim. É o Marcos.

– Muitos bons dias, minha cara amiga.

– Bom dia, senhor Marcos.

– A dizer que sou velho... Bem, vim aqui deixar-te uns documentos para o Santiago e dizer-te que ainda não me esqueci da conversa que ainda não tivemos.

– Que conversa?

Aproxima-se de mim e fala-me ao ouvido.

– Sobre ti e o Santiago – sussurra.

Nesse momento, aparece o Santiago e lança-lhe um olhar meio furioso.

– Não sejas doido! Está na hora de voltares para o teu escritório.

O Santiago entra no escritório e fecha a porta com toda a força, fazendo um eco que se ouviu por todo o piso.

– Já estou a ir, bom trabalho! – diz o Marcos, ao virar costas.

Deixo passar uns minutos até ir entregar os papéis, atendo mais uns telefonemas e vou entregar alguns ficheiros a outros colegas.

Bato à porta e entro. Sinto-me a tremer.

– Está aqui a pasta que o Marcos trouxe há pouco – digo.

– Podes deixar aí – diz, sem tirar os olhos do computador.

Pouso as coisas e viro-me para ir embora.

– Alice?

– Sim?

– Quando quiseres namorar, não o faças no teu local de trabalho.

– Desculpa?!

– Entendeste bem o que eu disse.

– Que eu saiba, o último namorado que tive está morto e não, não me enfiei logo na cama com outro, a última coisa em que penso neste momento é em namorados! Mas obrigada pela tua compreensão com o que passei, és realmente um amor – digo e bato a porta, sentindo as lágrimas a encherem-me os olhos.

Atrasado! Ainda hoje acabei de voltar ao trabalho, depois de passar os dias fechada no quarto. Infelizmente insensibilidade é do que mais se vê por aí.

Sento-me na secretária, respiro fundo e sinto que estou demasiado tensa para voltar ao trabalho, aproveito para fazer a minha pausa do café.

Volto e tenho uma pasta com um papel em cima.

"É para deixar na receção. Desculpa".

É tudo o que tem escrito. Deito o papel fora e vou fazer o que me compete. O meu telemóvel toca. É a mãe do Harry.

– Estou? Alice? – ouço do outro lado.

– Sim? Aconteceu alguma coisa?

– Não, minha querida. Quer dizer, sim, mas foi uma coisa boa.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now