Capítulo 28

22 4 3
                                    

O tempo passou a voar e rapidamente chegou o momento da partida. Os pais do Santiago foram-nos buscar e levaram-nos até ao aeroporto.

– Espero que vocês saibam aquilo que vão lá fazer... – diz o Henrique, ao tirar as malas do carro.

– Não te preocupes, pai, só falamos o necessário. Às vezes, nem o necessário.

Ele olha para mim e eu desvio o olhar. Pego nas minhas coisas, despeço-me e sigo o meu caminho.

Passo por todos os passos necessários antes de entrar no avião e sento-me numa cadeira à espera da hora, sem olhar para trás ou procurar o Santiago. Já vamos estar bastantes horas sentados no mesmo avião, lado a lado. Preciso de tempo para pensar.

Em poucos minutos ouço a chamada para o nosso voo. Levanto-me e dirijo-me para a porta de embarque. O meu lugar ficou junto à janela, o que é ótimo para uma primeira experiência a andar de avião.

– Parece que vais ter de levar comigo ao teu lado a viagem toda – diz o Santiago, ao sentar-se.

– Desculpa... – acabei por dizer.

– Pelo quê?

– Por andar a evitar falar contigo, por não olhar para ti, por tudo... Eu sei que não tens culpa, nenhum de nós tem, mas não deixa de ser uma situação complicada.

– Eu entendo. Mas acho que podemos ser amigos, não?

Olho-o finalmente nos olhos.

– Claro que podemos – digo, abraçando-o.

Sinto uma dor tão forte no meu peito. Tento que ele não perceba o que sinto, mas ainda não sei como é que vou aguentar estar perto dele sem lhe poder tocar, sem o poder beijar, sem poder dizer que o amo... Porque é que a vida tem de ser tão dura comigo, porquê?

Desfazemos o abraço e apertamos o cinto, o avião está prestes a descolar. Sinto o nervosismo apoderar-se de mim.

– Nunca andaste de avião? – pergunta ele, sentindo-me irrequieta.

– Não. Nunca saí de Portugal. Mal temos dinheiro para viver, viagens são só um "extra" que não conhecemos.

– Não precisas de te preocupar, vai correr tudo bem. Eu estou aqui. Dá-me a tua mão.

Ele estende-me a mão e entrelaçamos os dedos.

– Confia em mim – diz.

Do nada, o avião começa a andar e aperto a mãe dele com força. Sinto a firmeza com que me segura, transmitindo uma confiança que me começa a acalmar.

– E se isto cair? – pergunto, ainda um pouco assustada.

– Temos duas hipóteses: sobrevivemos e ficamos com uma história para contar um dia aos nossos netos, ou morremos e poderemos ficar juntos para sempre – responde, esboçando-me um sorriso.

Não sei se esta resposta me acalma ou me deixa em pânico. Eu sei que os acidentes de avião são raros, mas também sei que acontecem. E, infelizmente, é difícil sobreviver. Sempre foi um motivo que me deixou receosa com voos.

Em pouco tempo estamos no ar e começo a sentir sono. Não consegui dormir quase nada e o stress deixou-me exausta.

Não sei quanto tempo passou, não sei como é que adormeci. Não sei sequer quando é que adormeci. Acordo encostada ao Santiago e com a cabeça deitada sobre o ombro dele. Gosto da sensação e deixo-me ficar.

A viagem é tão longa, que volto a adormecer. Afinal, é a melhor forma de passar o tempo.

A comida também não é nada demais, mas tudo se come quando a fome aperta. E numa viagem qualquer coisa marcha.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now