O tempo passou a voar e rapidamente chegou o momento da partida. Os pais do Santiago foram-nos buscar e levaram-nos até ao aeroporto.
– Espero que vocês saibam aquilo que vão lá fazer... – diz o Henrique, ao tirar as malas do carro.
– Não te preocupes, pai, só falamos o necessário. Às vezes, nem o necessário.
Ele olha para mim e eu desvio o olhar. Pego nas minhas coisas, despeço-me e sigo o meu caminho.
Passo por todos os passos necessários antes de entrar no avião e sento-me numa cadeira à espera da hora, sem olhar para trás ou procurar o Santiago. Já vamos estar bastantes horas sentados no mesmo avião, lado a lado. Preciso de tempo para pensar.
Em poucos minutos ouço a chamada para o nosso voo. Levanto-me e dirijo-me para a porta de embarque. O meu lugar ficou junto à janela, o que é ótimo para uma primeira experiência a andar de avião.
– Parece que vais ter de levar comigo ao teu lado a viagem toda – diz o Santiago, ao sentar-se.
– Desculpa... – acabei por dizer.
– Pelo quê?
– Por andar a evitar falar contigo, por não olhar para ti, por tudo... Eu sei que não tens culpa, nenhum de nós tem, mas não deixa de ser uma situação complicada.
– Eu entendo. Mas acho que podemos ser amigos, não?
Olho-o finalmente nos olhos.
– Claro que podemos – digo, abraçando-o.
Sinto uma dor tão forte no meu peito. Tento que ele não perceba o que sinto, mas ainda não sei como é que vou aguentar estar perto dele sem lhe poder tocar, sem o poder beijar, sem poder dizer que o amo... Porque é que a vida tem de ser tão dura comigo, porquê?
Desfazemos o abraço e apertamos o cinto, o avião está prestes a descolar. Sinto o nervosismo apoderar-se de mim.
– Nunca andaste de avião? – pergunta ele, sentindo-me irrequieta.
– Não. Nunca saí de Portugal. Mal temos dinheiro para viver, viagens são só um "extra" que não conhecemos.
– Não precisas de te preocupar, vai correr tudo bem. Eu estou aqui. Dá-me a tua mão.
Ele estende-me a mão e entrelaçamos os dedos.
– Confia em mim – diz.
Do nada, o avião começa a andar e aperto a mãe dele com força. Sinto a firmeza com que me segura, transmitindo uma confiança que me começa a acalmar.
– E se isto cair? – pergunto, ainda um pouco assustada.
– Temos duas hipóteses: sobrevivemos e ficamos com uma história para contar um dia aos nossos netos, ou morremos e poderemos ficar juntos para sempre – responde, esboçando-me um sorriso.
Não sei se esta resposta me acalma ou me deixa em pânico. Eu sei que os acidentes de avião são raros, mas também sei que acontecem. E, infelizmente, é difícil sobreviver. Sempre foi um motivo que me deixou receosa com voos.
Em pouco tempo estamos no ar e começo a sentir sono. Não consegui dormir quase nada e o stress deixou-me exausta.
Não sei quanto tempo passou, não sei como é que adormeci. Não sei sequer quando é que adormeci. Acordo encostada ao Santiago e com a cabeça deitada sobre o ombro dele. Gosto da sensação e deixo-me ficar.
A viagem é tão longa, que volto a adormecer. Afinal, é a melhor forma de passar o tempo.
A comida também não é nada demais, mas tudo se come quando a fome aperta. E numa viagem qualquer coisa marcha.
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Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...