Capítulo 47

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No dia seguinte, recebo a visita da minha mãe e da minha irmã logo de manhã, o mais cedo que conseguiram.

– Então, Alice, como te sentes? – pergunta a minha mãe.

– Com dores, mas nada que não aguente. Neste momento preocupam-me mais as minhas filhas.

– Filhas? Como assim? – pergunta a Rebeca.

– Não vos contaram?

– O quê, Alice? – questiona a minha mãe.

– Que, afinal, eu estava grávida de gémeas, mas uma delas manteve-se tapada nas ecografias, por isso não tinham detetado.

Elas ficam a olhar para mim, perplexas.

– Vou chamar alguém, para saber se vocês podem ir vê-las.

Toco à campainha e aparece um enfermeiro uns minutos depois.

– Está tudo bem? – questiona, ao chegar.

– A minha mãe e a minha irmã podem ir ver as minhas bebés?

– São as gémeas prematuras que nasceram esta noite, correto?

– Sim – respondo.

– Não, lamento. Só os pais podem entrar na neonatologia.

– E se eu for lá e tirar foto, pode ser?

– Só se for pela janela e com cuidado.

– Tudo bem, aceito. Sendo assim, já volto.

O enfermeiro ajuda-me a sentar na cadeira de rodas e leva-me até à sala onde se encontram quatro incubadoras: duas com as minhas bebés, uma com um menino e outra com uma menina. Tirei foto às minhas bebés e pedi se podia ir lá dentro.

– Agora não, Alice, elas são muito pequeninas e facilmente podem ficar doentes, por isso temos de limitar ao máximo o contacto com o exterior e quantas mais pessoas entrarem na sala, maiores são os riscos para todos estes bebés.

Fico em silêncio por momentos.

– Quantos bebés saem desta sala já sem vida?

– Demasiados, infelizmente... – sussurra o enfermeiro.

Fecho os olhos e viro a cara para baixo.

– Os pais de prematuros têm de ser fortes, mas estes pequenos são verdadeiros guerreiros, são pequenos heróis que lutam para agarrar uma vida que lhes é quase roubada. Acredite sempre, com todas as suas forças – diz o enfermeiro, de uma forma que me conforta o coração.

Enquanto voltamos para o quarto, aproveito para enviar mensagem aos meus amigos a explicar o que aconteceu, mas peço-lhes para não virem, prefiro estar com eles quando sair daqui. Ao chegar ao quarto, depois de me deitar novamente, mostro as fotos e ficamos a conversar um pouco.

– Mãe, há novidades do Santiago?

– Não, continua na mesma. Liguei hoje de manhã à Vanda e ela disse que vinham visitar-te à tarde.

– Não sei o que fazer ou o que pensar... Sinto que a minha vida está completamente virada do avesso.

– A vida às vezes tem destas coisas. Achamos que só acontece aos outros, mas nós também somos os outros de alguém. Filha, por agora, resta-te confiar e ter fé que vai correr tudo bem.

– E se não correr tudo bem? E se perder o grande amor da minha vida e as minhas filhas?

Ficamos em silêncio.

*

Passaram duas semanas desde que fui para a maternidade e o médico deu-me alta hoje. As gémeas continuam na neonatologia e disseram-me que posso vir todos os dias. Ainda há uma longa espera até que as possa levar para casa, mas eu já estou em condições de seguir, até porque outras grávidas irão precisar do meu lugar. Hoje é também o dia em que vou voltar a visitar o Santiago, que permanece na mesma. É a primeira coisa que faço.

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora