Capítulo 30

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Ao chegar ao hotel, a primeira coisa que faço é trocar de roupa. Visto umas leggings e uma t-shirt e sento-me em cima da cama.

– Desculpa, mas acho que hoje já não vou conseguir sair, prefiro ficar por aqui – digo, enquanto o Santiago tira a comida dos sacos e prepara o nosso almoço, que o amigo dele mandou entregar.

– Não te preocupes, há sempre um programa alternativo que envolve Netflix e uma manta. Trouxe o meu computador, portanto, não há stress.

– Já tens muita experiência com estas situações...

– Já viajei algumas vezes e eu mesmo já me senti menos bem para conseguir seguir os meus planos. Acabei por ficar a ver televisão uma tarde ou um dia, o tempo que precisei para mim. Então comecei a trazer a minha "reserva" no computador. Olha, eles já não tinham muita comida, mas ainda arranjaram uns petiscos.

– Eu gosto de qualquer coisa, é sem problema – respondo.

Ele coloca as embalagens com a comida num tabuleiro e sentamo-nos os dois encostados à cabeceira da cama.

– Queres ver um filme? – pergunta o Santiago, ao ligar o computador.

– Sim, pode ser – respondo, pegando numa coxinha.

– Ei! Apanhas-me distraído e atacas logo a comida. Estou a ver que, se não me despacho, fico sem nada.

– Sim, corres esse risco.

Ele pega no resto da minha coxinha e come de uma vez.

– Olha! Há ali mais!

– Esta estava melhor, de certeza. Foi logo a que pegaste – diz ele, com um sorriso malicioso.

– Mas eu estava a comer...

– Ainda queres? Posso-te devolver já mastigada.

Mando uma gargalhada.

– Não, obrigada.

Ele põe um filme qualquer e comemos calados. Quando acabamos, deitamo-nos ligeiramente na cama, próximos um do outro. Ele puxa-me suavemente e deito a minha cabeça no seu peito.

O Santiago tira o relógio do pulso, pousa-o na mesa-de-cabeceira e põe o braço por cima de mim. Reparo novamente nas marcas nos braços, as mesmas que já me chamaram a atenção antes.

– Santiago?

– Sim?

– Quando é que me vais falar destas cicatrizes? – questiono, tocando no braço.

Instintivamente ele puxa a manga da camisa e tapa.

– Não sei... Queres mesmo saber a minha história?

Levanto a cabeça e olho para ele.

– Sim, quero – respondo, olhos nos olhos.

Ele não desvia o olhar por uns breves segundos. Depois, levanta a manga da camisa e passa os dedos na pele.

– Então, apesar de toda a gente dizer que sou menino da cidade, eu passei grande parte da minha infância em casa dos meus avós maternos, numa pequena aldeia. Passava lá o tempo quando os meus pais não estavam em casa, ajudava a tratar dos animais, regar as plantações... Sempre fui muito próximo deles e sinto um carinho muito especial. O meu avô era o meu exemplo e via nele tudo aquilo que queria um dia também para mim. Mesmo quando cresci, o meu avô era sempre o meu porto de abrigo, com quem falava horas a fio e que me dava os melhores conselhos. Tive uma adolescência um pouco complicada, não me sentia integrado e era o meu avô que me ajudava a enfrentar as coisas. Vê lá que até de miúdas falava com ele.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now