Capítulo 46

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Depois de o Harry me deixar em casa, almoço e deito-me em cima da cama a ver fotos do Santiago. É a única forma de me sentir mais em paz. Não consigo fazer mais nada que não seja pensar no futuro. Queria ser otimista, mas o quadro clínico descrito deita o meu otimismo por terra.

– Alice, podes-me ajudar a fazer um trabalho? – pergunta a Beca, ao chegar ao quarto.

– Sim, diz lá sobre o que é.

– É de História, não é lá muito interessante. Sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas não faço ideia por onde começar.

– Começa por fazer um enquadramento da época, daquilo que "desencadeou" a Guerra e vais seguindo por aí – digo.

– Não tens nenhum trabalho teu sobre este tema? Sempre me ajudava a orientar.

– Não faço ideia, mas isso não é correto, estares a copiar por um trabalho meu, que eu sei bem que era assim que iria acabar. Não ias conseguir fazer algo muito diferente.

– Era só para ver... Mas obrigada, vou pesquisar como disseste.

Ela sai e volto a ficar sozinha.

Não consigo estar em casa parada, sinto-me a sufocar e decido ir até à casa que o Santiago comprou para nós. Procuro as chaves no meio das coisas dele e acabo por encontrá-las nos pertences que trouxe do hospital. Saio sem dizer nada.

Ao chegar, vou até ao jardim na parte de trás e sento-me no sofá, com algum custo, mas da melhor forma que consigo. Passam horas, mas é uma tranquilidade tão boa, que acabo por não me aperceber da passagem do tempo, como se o mundo à minha volta não estivesse todo virado do avesso.

Quando o sol se põe, percebo que está na hora de voltar. Pego no telemóvel e tenho chamadas não atendidas de toda a gente. São mais de 50 chamadas não atendidas, mas a primeira pessoa a quem retribuo é à Vera, na esperança de que tenha novidades.

– Já sabes de mais alguma coisa? – pergunto, assim que atende.

– Não, Alice, está tudo na mesma. Mas estávamos todos preocupados contigo, a tua mãe até veio às urgências, não atendias o telemóvel. Nunca mais faças uma coisa destas, sair sem dizer nada e não atender o telemóvel. A tua mãe estava em pânico.

– Eu sei que devia ter dito alguma coisa, mas precisava de ficar sozinha, longe de casa. Eu vou agora, liga à minha mãe, se puderes.

Desligo a chamada e olho em volta, quase que nos vejo a entrar por aquela porta com a promessa de uma vida inteira juntos. Sinto um desconforto no fundo da barriga e sigo devagar até ao carro. O desconforto torna-se dor ao longo da viagem e, ao chegar a casa, ligo à minha mãe para me ajudar a sair do carro, parece uma tarefa quase impossível.

– Alice, por acaso comeste alguma coisa durante a tarde? – pergunta a minha mãe, enquanto me ajuda.

– Não... Perdi-me no tempo e não senti fome.

– Estás a ver o resultado de não teres cuidado? Os médicos avisaram-te, começa a ter mais atenção às coisas.

– Sim, mãe. Agora só preciso de chegar ao sofá e deitar, que está a doer cada vez mais.

Depois de estar deitada, aparece a Rebeca com um iogurte e pão.

– Vê se não é melhor ires à maternidade, essa dor não me parece muito normal – diz a minha mãe.

Sinto uma dor mais forte e encolho-me, mas rapidamente passa.

– Deve ser só da ansiedade.

Mais uma pontada forte que passa em poucos segundos.

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora