Capítulo 50

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Hoje é dia 2 de fevereiro e finalmente as nossas bebés vão para casa. O Santiago ontem teve consulta no médico e confirmaram que nunca mais voltará a andar, a fratura danificou a medula e nada há a fazer. Ainda lhe questionei se queria tentar ver tratamentos inovadores noutros países, mas respondeu-me que agora era assim e não se importava, não queria continuar a lutar por voltar a andar. Aceitou tão bem a sua condição, que só me consigo sentir orgulhosa. Ainda assim, notei alguma tristeza e só mesmo levar as nossas filhas hoje para casa para dar alegria às nossas vidas.

Em nossa casa já estão à nossa espera os nossos pais e os amigos mais próximos (isto é, os meus amigos e o Marcos, amigo dos dois e único amigo que o Santiago quis presente). O Santiago falou com a mãe biológica, contou tudo o que aconteceu nos últimos tempos e ela prometeu que nos iria fazer uma visita em breve. Eu levo as duas cadeirinhas com os dois seres pequeninos para o carro. Elas ainda são tão pequeninas, que quase não se veem no meio das mantas.

– Quem diria que, afinal íamos ter duas bebés – comenta o Santiago, a caminho de casa.

Rio-me.

– A Leonor escondeu-se sempre, nem sabia que isso poderia acontecer.

– Assim vão sempre ter companhia, vão sempre poder fazer companhia uma à outra.

Na chegada a casa, os avós vão logo para junto das netinhas e aproveito para conversar um pouco com os meus amigos, que já não vejo há imenso tempo e mal temos falado.

– Então quando é que vocês vão dar um primo às gémeas? – questiono à Vera e ao Marcos.

– Ainda podem esperar muito tempo – diz a Vera.

– Talvez daqui a uns anos, agora temos as vossas meninas para aproveitar – diz o Marcos.

– Elas vão querer brincar com mais crianças... – diz o Santiago.

– Têm-te a ti.

O Marcos responde de uma forma tão espontânea, que libertamos uma gargalhada e até nos esquecemos que agora temos de ter cuidado com o barulho.

– A Salomé também pode dar uns primos – diz a Vera, a tentar desviar o assunto.

– Tenham lá calma, que nós ainda nem vivemos juntos.

A conversa flui por umas horas, até que vão todos embora, em último a minha mãe e a Rebeca.

– Se precisarem de alguma coisa, liguem. A qualquer hora – diz, despedindo-se.

– Sim, mãe, não te preocupes.

Vamos ao quarto das bebés ver se estão bem, dormem tranquilamente, e seguimos para o nosso quarto. O Santiago vai tomar banho e eu fico deitada em cima da cama. Quando termina, deita-se ao meu lado e coloca um braço por cima dos meus ombros.

Dou-lhe um beijo demorado.

– Alice, preciso de falar contigo sobre uma coisa – diz.

– Que se passa? – questiono, olhando para ele.

– Eu queria muito estar contigo, tu sabes, mas não consigo...

– Shhh... Eu sei. Não te preocupes. Uma relação não é só isso e estou bastante feliz como estamos.

– O médico disse que devo voltar a conseguir, mas vai demorar.

– Nós podemos esperar. Temos a vida toda. Não tenho pressa. Não te preocupes – digo, dando-lhe mais um beijo.

– Amo-te tanto, Alice.

– E eu a ti, Santiago.

Ficamos apenas abraçados durante imenso tempo, no silêncio da noite. Somos interrompidos por um choro. Levanto-me automaticamente.

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora