Capítulo 48

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Aqueles minutos pareceram horas, entretanto avisei a Vanda e os pais do Henrique surgiram em pouco tempo, para também ficarem naquela espera interminável. Quando o médico finalmente sai, vem de sorriso na cara.

– Estivemos a analisar o Santiago e está a responder bem aos estímulos, ainda não falou, mas é normal. Não é comum ser tão rápida esta passagem, mas com a ciência e a medicina, já tudo é possível. Poderão ir vê-lo à vez, mas peço que sejam rápidos, ele precisa de descansar e também teremos de ir fazer mais exames, para perceber sequelas que eventualmente existam.

Deixo a Vanda e o Henrique irem primeiro, enquanto penso no que vou dizer ou fazer quando entrar naquele quarto. Mas quando chega o momento, simplesmente esqueço o mundo à minha volta e tudo o que pensei antes. Aproximo-me dele e vejo um sorriso surgir. Segura-me na mão e a emoção toma conta de mim.

– Temos tanto para conversar, Santiago... – murmuro.

– O meu avô disse-me que te tinha aqui à minha espera com duas filhas lindas – diz, com a voz trémula.

O meu coração para. A sensação de voltar a ouvir a voz dele é indescritível.

– O teu avô?

– Sim. Ele esteve sempre comigo, conversámos tanto. Sobre tudo. Disse-lhe tudo o que a vida não me permitiu dizer. E ele não me deixou ficar com ele, disse que ainda era muito cedo.

Ele direciona o olhar para a minha barriga e percebo pela expressão de que, afinal, vai ser hoje que lhe vou contar tudo. Nem sei se deveria, pode deixá-lo ansioso e não ser bom, mas agora não há nada a fazer, a minha barriga "desapareceu".

– E tem toda a razão. Tinhas toda a tua família à tua espera. Incluindo eu e as nossas filhas. Eu estava grávida de gémeas, nasceram prematuras um dia depois de vires parar ao hospital.

– Eu não me lembro do que aconteceu para vir aqui a parar, mas tenho tempo de perceber. Tens alguma foto delas?

Tiro o telemóvel do bolso e mostro-lhe as fotos que tenho. Vejo lágrimas a correrem-lhe pela cara e limpo-as.

– Vais ter todo o tempo do mundo para as conheceres, agora tens de recuperar – digo.

Entra alguém que me diz que está na hora de sair. Despeço-me dele com um beijo e a promessa de voltar no dia seguinte.

Nunca pensei que ele pudesse falar tanto no primeiro dia em que acordou. Hoje volto para casa com o coração mais quente.

Ao jantar conto à minha mãe e à Rebeca as novidades do dia.

– E ele lembra-se de ti? Nos filmes esquecem-se sempre das mulheres e das namoradas depois de estarem em coma – comenta a Rebeca.

– Lembra. Pode acontecer não se lembrarem, mas nem sempre isso acontece e ainda bem que não aconteceu com o Santiago. Já imaginaram se ele não se lembrasse de mim? E que eu estava grávida? Ia ser um drama.

– E já sabem se está tudo bem com ele? – questiona a minha mãe.

– Ainda vão fazer exames para perceber se vai ficar com sequelas. Mas acho que a pior parte já passou. Pelo menos é o que espero.

– Amanhã voltas lá? – pergunta a minha mãe.

– Sim, vou todos os dias até ele sair de lá. Nem fazia sentido ser de outra forma.

Esta é aquela altura em que as pessoas normalmente começam a pensar no sentido da vida, naquilo que fizeram e não deveriam ter feito, naquilo que quiseram fazer e nunca concretizaram, mas eu só consigo pensar em manter-me de pé. Não sou o tipo de pessoa de refletir nas coisas só porque algo trágico ou inesperado aconteceu. É difícil encontrar-me no meio de tudo isto que está a acontecer.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now