Capítulo 37

13 2 3
                                    

Passou um mês desde que falei a última vez com o Santiago, desde a nossa discussão. Voltei ao trabalho depois de umas férias bastante boas e é inacreditável como conseguimos trabalhar sem nos falarmos. Acho que nunca usei tantos post-it na minha vida, nem quando estudava.

O Santiago passa por mim e deixa dois envelopes em cima da minha mesa, sem dizer nada, como tem acontecido. Abro o primeiro e é um teste de paternidade a dizer "negativo". Abro o segundo e é mais um teste de paternidade a dizer, também, "negativo". Confiro as datas e não coincidem com os testes que foram feitos anteriormente. Pego nos papéis e entro sem bater à porta.

– O que é isto, Santiago? – questiono.

– Não sabes ler? Está aí escrito.

– Não sejas parvo, estou a falar a sério. Não me falas há um mês, deixas isto assim e nem explicas o que é que se passa?

Ele suspira.

– Liguei para as clínicas onde tinha feito os testes e ambas tinham as amostras ainda guardadas. Pedi para repetirem e estão aí os resultados. Nenhum deles é um pai.

– Como é que isso é possível? Tenho a certeza de que a tua mãe não se envolveu com mais homem nenhum – digo, convicta.

– Eu também. Por isso é que tive de procurar mais a fundo. Uma amiga tem-me dado uma ajuda.

Uma amiga, estou a ver.

– E posso saber o que é que descobriste?

– Se quiseres.

Fecho a porta atrás de mim e sento-me em cima da mesa dele. Ele encosta-se na cadeira e olha para mim.

– Santiago, estou farta disto. Estou farta de passarmos um pelo outro e não falarmos, estou farta de te ver fazer-me olhares de repreensão e, às vezes, até de ódio. Estou farta. Nestes dias eu bati bem lá no fundo do poço, sorte a minha que tenho amigos e família que me foram ajudando a erguer. Sinto a tua falta e acredita que foi mesmo duro manter-me afastada, mas era o que o mundo à nossa volta queria.

– Eu não queria e, mesmo assim, não mudaste de ideias.

– Fogo, Santiago! Será que não me ouves?

Respiro fundo para me acalmar e tentar não discutir na empresa.

– Nem vale a pena tentar falar contigo – digo, levantando-me.

– Espera, Alice – diz, pegando na minha mão.

Volto a sentar-me.

– Desculpa. Tens razão, não sei como é que tens estado. Mas também não sabes o quanto me custou. Senti-me a recuar no tempo, à altura em que perdi o meu avô. Parecia que estava a reviver tudo outra vez.

– Mas eu continuo aqui, Santiago. E o meu sentimento por ti não mudou nada, ainda que eu tenha tentado.

– E porque é que tentaste?

– Porque era o que sentia que estava mais correto. Só o facto de imaginar sermos irmãos e eu estar apaixonada por ti me dava vontade de vomitar.

– Mas agora temos a certeza de que não somos. Eles repetiram o teste e desta vez não foi apressado, demorou o tempo que teve de demorar. Ainda assim, acho melhor mantermo-nos como estamos. Ainda estou magoado contigo...

– Desculpa. Eu não me quis afastar assim de ti, tu é que não me disseste mais nada e eu não te quis incomodar. Achei que, se quisesses, falarias.

– Precisei do silêncio para não ceder à minha loucura. Preferi ocupar o meu tempo a investigar sobre mim.

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora