Capítulo 26

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Ninguém tem coragem de continuar a falar. Olho para a minha mãe e vejo os olhos dela repletos de lágrimas. A Vanda aproxima-se dela e coloca um braço por cima dos ombros, como forma de a acalmar um pouco mais.

O Santiago quebra o silêncio.

– Se isto é só para nos afastar um do outro, digo-vos já que não tem piada nenhuma!

– Não, Santiago, é a verdade. Eu explico – diz a Vanda, olhando para a minha mãe e para o Henrique.

Começo a sentir o meu corpo a tremer.

– Houve uma noite que eu e o Henrique decidimos ir a um convívio perto de casa. Na altura já éramos casados e queríamos aproveitar o tempo para estar juntos e nos divertir e estavam lá também vários amigos nossos. Precisei de ir à casa de banho e foi aí que fui seguida. Um homem entrou logo atrás de mim, fechou a porta e agarrou-me. Tentei pedir ajuda, mas não consegui... Ele violou-me sem que me pudesse defender, sem que ninguém visse ou ouvisse. Gravei a cara dele na minha memória, nunca fui capaz de esquecer aquela noite... Dois meses depois descobri que estava grávida e a data coincidia mais ou menos com o dia da violação. Aquele homem, Alice, era o teu pai.

– Isso não quer dizer nada, podias já estar grávida há uns dias e não sabias – interrompe o Santiago.

– Há outra coisa, Santiago: em pequeno disseram ao Henrique que nunca poderia ter filhos, devido a um problema que teve. Nós já tínhamos pensado e estávamos prestes a iniciar um processo de adoção, quando soubemos da gravidez. Aí decidimos que ias ser o nosso filho.

– Então eu sou basicamente o fruto de uma violação...

– Não, filho, nós nunca olhámos para ti dessa forma. Tu és uma bênção para nós. Desde o dia em que nasceste que olho para ti e só vejo amor.

Segue-se um breve silêncio.

– Eu não acredito nisso... Não pode ser! Só com um teste de paternidade é que acredito em alguma coisa. A medicina também erra muitas vezes, nem sempre os médicos têm razão, por isso, o meu pai pode ser mesmo o meu pai.

– É muito pouco provável, filho... – diz o Henrique, com o olhar sempre direcionado para o chão.

Acho que ninguém estava à espera de que este dia alguma vez chegasse. Sempre esconderam até aqui e só nos contaram porque descobriram que estávamos juntos.

– Mãe, nessa altura tu e o pai ainda não estavam casados. Como é que te casaste com um homem que fez uma coisas destas? – pergunto.

– Eu não sabia que ele o tinha feito... Naquela altura estaríamos a namorar há pouco tempo, casámos dois anos depois e nunca soube que isto tinha acontecido, até lá – responde ela.

– Nós só soubemos quando ele levou a Carmo lá à empresa depois da Rebeca ter nascido, por causa de uns papéis da licença de maternidade. Isso aconteceu dois dias antes de ele fugir... – diz a Vanda.

Sinto-me a sufocar e saio da sala a correr. Não aguento mais aquele ambiente de cortar a respiração. Preciso de respirar, de apanhar ar puro.

Consegui agarrar nas minhas coisas, entro no carro e acelero sem rumo. As minhas mãos mal têm força para segurar o volante. O telemóvel começa a tocar e desligo a chamada, sem ver quem é. Toca novamente e desligo-o.

Continuo a conduzir, até chegar a uma praia deserta. Estaciono o carro, saio e vou em direção à areia. Descalço-me e sinto a areia nos meus pés, uma sensação tranquilizante.

Sento-me a contemplar o mar. O som das ondas a bater é a melhor música para relaxar. Permite-me refletir na vida e tornar as minhas ideias mais claras.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now