Capítulo 3

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O resto do dia correu bem, fiz o meu trabalho e não encontrei mais nenhum cliente que me chateasse.

O meu turno acabou e posso dizer que estou exausta. Foi o primeiro dia, mas acho que nunca trabalhei tanto como hoje. Quando era pequena, lembro-me de ver a minha mãe cansada e já quase sem forças, à noite, depois de a Rebeca estar a dormir, e hoje entendo o porquê. Há sempre qualquer coisa para limpar, nem que seja as casas de banho...

Em casa correu tudo bem e dormi como nunca tinha dormido. O cansaço era tanto que me deitei, adormeci em menos de um minuto e só o despertador me acordou de manhã.

Mais um dia de trabalho. Levantei-me, tomei banho e vesti uma roupa leve, visto que o dia se previa quente.

– Bom dia, família! – disse a Rebeca, ao aparecer demasiado animada na cozinha.

– Aconteceu algum milagre? – pergunto.

– Não, só estou animada hoje.

– Se bem me lembro, o teu feitio a estas horas é o pior que conheço até agora.

– Pois, maninha, hoje estou feliz. Vocês saem a que horas? – perguntou a Rebeca, o que me deixou desconfiada.

– Às 17 horas. Porquê? – perguntou a minha mãe.

– Só para saber se fico sozinha durante a tarde toda. Assim aproveito e ponho o estudo em dia.

– Tu? A estudar? Nesta altura do ano? – pergunto, admirada.

– Sim, Alice, estamos em maio, estão aí os últimos testes, tenho de manter as notas.

A minha irmã nunca foi de estudar muito, como eu, mas as notas dela são excelentes. Eu não estudava mesmo, tinha notas razoáveis que me permitiam ir passando de ano. Ela normalmente só estuda na véspera, o que me está a deixar ainda mais preocupada. Ela deve estar a preparar alguma.

– Acho muito bem que estudes! – diz a minha mãe.

– Mãe, vamos? Está na hora – digo.

– Sim, filha, vamos. Juízo, menina Rebeca.

– Sim, mãe, eu tenho sempre muito juízo.

Saímos e fomos para o trabalho, para mais um dia. Chegámos, trocámos de roupa e recebemos a informação de que podíamos ir limpar os escritórios, pois estavam todos vazios, devido a uma reunião que iria durar a manhã toda. Cada uma de nós ficou com um e agora temos de limpar tudo, até ficarem a brilhar.

Quando entro, reparo numa secretária cheia de papéis espalhados por todos os lados, a cadeira fora do sítio e uma estante com livros desarrumados. Como é que alguém consegue estar aqui um dia inteiro?, penso.

Decido começar pela estante. Limpo os livros, um a um, as prateleiras e coloco-os todos direitos. Sou capaz de ter demorado umas três horas. De seguida, passo para a secretária, coloco as folhas todas num monte, limpo o pó e todo o lixo acumulado (uma mesa pior que o caixote do lixo das casas de banho...) e reparo que há papéis no chão. Agacho-me e apanho todos os que estão debaixo da secretária. Estou tão concentrada no meu trabalho, que não reparo que alguém abriu a porta.

– Precisas de ajuda? – pergunta uma pessoa atrás de mim.

Eu assusto-me, dou um salto e bato com a cabeça no tampo da secretária. Au.

– Não, obrigada – respondo, saindo daquele sítio e levantando-me.

Quando olho para essa mesma pessoa que estava quase colada a mim, junto à secretária, reparo que era o mesmo cliente de ontem. Oh não...

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now