– Mas o que é que aconteceu? – pergunto, quando ganho forças para falar?
– Não sei, filha... – a minha mãe começa a chorar.
– Vão para o hospital! Alice, vai com a tua mãe, não te preocupes, eu desenrasco-me aqui – diz o Santiago.
– Mas não podes ficar aqui sozinho... – respondo.
– Não te preocupes, eu estou bem. Se precisar de alguma coisa, ligo à minha mãe. A tua irmã precisa de vocês.
Olho para ele, corro em direção à minha mãe e vamos as duas o mais rápido possível até ao meu carro. Vou em direção ao hospital e chegamos lá em poucos minutos. Corremos pelos corredores até encontrar alguém que nos ajude. Aparece uma enfermeira que nos ajuda a encontrar a médica que recebeu a Rebeca.
– Como é que está a minha irmã? – pergunto, assim que a médica se aproxima.
– A Rebeca encontra-se num estado delicado. Perdeu muito sangue e terá de ficar sob observação até amanhã, pelo menos.
– Mas ela vai ficar bem? – pergunto.
– Ainda teremos de fazer mais uns exames...
– E o bebé? – interrompo.
A médica olha para a minha mãe e para mim.
– Nós soubemos mesmo há pouco, a Rebeca nem sabia porque não viu bem o teste, não deve ter dado tempo, mas isso agora não interessa – digo.
– A Rebeca sofreu um aborto espontâneo, provavelmente provocado pelo esforço físico.
Eu e a minha mãe entreolhamo-nos.
– Posso-lhe pedir para não contar nada à minha irmã? Preferíamos ser nós a falar com ela – digo, permanecendo a minha mãe calada.
– Claro! Ela deve acordar em breve, podem ficar no quarto e aguardar, se quiserem.
– Obrigada, doutora – diz a minha mãe, muito baixinho.
Vamos para o quarto que a médica nos indica e ficamos junto à Beca. Passados uns minutos, ela acorda.
– Filha! – diz a minha mãe, abraçando-se a ela.
– Mãe, o que é que me aconteceu mesmo?
Aquela pergunta veio demasiado cedo. Acho que nenhuma de nós tinha pensado mesmo naquilo que teríamos de dizer. Olho para a minha mãe e percebo que ela não tem forças para explicar tudo. Aproximo-me mais delas.
– Beca, é uma situação muito delicada. Vou-te contar tudo e peço-te que tenhas muita calma.
Tento explicar da melhor forma possível tudo o que aconteceu, desde a descoberta do teste, até à notícia da médica.
– Eu matei o meu filho? – pergunta ela, com os olhos cheios de lágrimas.
– Não, Beca, a culpa não foi tua. São coisas que acontecem.
– Mas se eu tivesse esperado mais tempo para ver o teste, não tinha feito a aula e o meu filho ainda estaria vivo... – diz, colocando as mãos na barriga, a chorar.
– Tem calma, meu amor – diz a minha mãe.
– Podia ter acontecido na mesma, agora ou mais tarde. Não sabemos. De qualquer maneira, ainda és muito nova. Um dia serás uma mãe fantástica, tenho a certeza.
Ela continua a chorar agarrada à barriga e nós tentamos acalmá-la. A médica chega e também fala como ela, nomeadamente dos riscos que correria com uma gravidez numa fase tão precoce.
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Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...