Capítulo 23

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No fim do trabalho, vou direta para casa. No caminho começo a pensar no que a minha mãe me disse, sobre a conversa séria. Não sei como encará-la. Não sei o que lhe dizer. Não sei sequer como reagir. As minhas mãos começam a suar e a tremer.

Chego e estaciono o carro. A minha mãe está sentada na varanda. Respiro fundo, ganho coragem e saio.

– Ainda bem que chegaste. Vai ter comigo lá atrás, para falarmos. A tua irmã está a dormir e assim falamos mais à vontade, para não a acordar – diz a minha mãe.

Pouso as minhas coisas e vou ter com ela. Sento-me no degrau da varanda e a minha mãe senta-se ao meu lado.

– Alice, lembras-te da nossa conversa quando foste trabalhar para a empresa? – começa por perguntar.

– Sim.

– Podes-me explicar o que se passa entre ti e o Santiago?

– Não se passa nada, mãe. Ele quis trazer-vos o almoço para poderes descansar – respondo, a olhar para o chão.

– Eu não me estou a referir só a hoje. Estou a falar de tudo. Da tua promoção, de teres ficado secretária dele, de...

– Desculpa? Da minha promoção? O que é que isso tem a ver? – interrompo.

– Vais-me dizer que é normal uma empregada tornar-se secretária de um dia para o outro? E sem nenhum curso, nem nada?

– Mãe, estás a insinuar alguma coisa? – pergunto, incrédula.

– Eu já não sei nada...

Levanto-me e fico a olhar para ela. Sinto-me profundamente ofendida.

– Não, mãe, não aconteceu nada entre nós que me fizesse passar a secretária. Foi um mero acaso ficar onde fiquei, era a secretária dele que ia embora. E foi o Marcos quem me recomendou, nem sequer foi o Santiago... Se havia pessoa de quem não esperava ouvir isto, era de ti... Desculpa, mãe, mas não vou ficar aqui para ouvir mais.

Vou direta à porta e, ao entrar, lembro-me de uma coisa. Volto atrás.

– Amanhã tens consulta no hospital às 10 horas. A Vanda disse para ficares em casa descansada, não precisas de te preocupar com o trabalho – digo e volto para dentro de casa.

Corro até à casa de banho e fecho a porta. O meu coração está acelerado, a minha respiração ofegante e as lágrimas começam a correr descontroladamente, tirando-me o fôlego.

De todas as pessoas que podiam desconfiar de mim, a minha mãe era a última que eu esperava que o fizesse. Não me lembro de alguma vez me ter falado daquela maneira. Não sou capaz de perceber o porquê daquelas acusações...

O meu telemóvel toca e é o Santiago. Ignoro. Toca novamente e acabo por atender, tentando disfarçar a minha voz rouca, do choro.

– Sim?

– Está tudo bem, Alice?

– Sim, está.

– Pareces um pouco estranha – diz.

– Deve ser do cansaço, só isso.

– Se tu o dizes. Queres vir cá a casa depois de jantar?

– Não é boa altura, desculpa – respondo.

– Claro, eu percebo. Precisas de ficar perto da tua família. Fica para outro dia.

– Sim...

– Então, até amanhã. Boa noite.

– Boa noite.

Desligo a chamada, pouso o telemóvel e vou tomar um banho. Visto o pijama e enfio-me na cama até ao dia seguinte.

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now