Capítulo 8

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A semana passa, o fim de semana é tranquilo e a Beca continua triste, o que me preocupa. Eu não consigo vê-la sofrer. Desde pequenina que eu e a minha mãe tentámos que ela não desse pela falta do pai. Ela nunca o chegou a conhecer... Viu algumas fotos dele nos álbuns, mas não é a mesma coisa. Quando ela entrou para a escola foi mais difícil porque questionava várias vezes o porquê de não ter um pai, como os outros amigos. E nós sempre tentámos desviar um pouco o assunto, para que ela não sofresse muito. Dizíamos que ele trabalhava muito longe e por isso não tinha tempo de vir a casa. Claro que com o passar dos anos ela foi percebendo que algo não estava bem, mas deixou de perguntar. Muitas vezes partia-me o coração ouvi-la chorar por causa dele. E agora volto a sentir-me mal por a ver assim e não poder fazer nada. E, o pior, é que ela ainda não consegue falar comigo, para eu a tentar ajudar. Espero que seja só uma questão de tempo.

Bem, mas hoje é dia de voltar para o trabalho. Combinei com os amigos do costume ir jantar fora hoje. Há algum tempo que já não estamos juntos, desde a saída ao shopping que não voltei a falar com a Vera e a Salomé. Há muita conversa para pôr em dia. E os rapazes também vão, claro, ninguém pode faltar hoje, até porque nem sempre conseguimos marcar um jantar assim.

O meu telemóvel toca. É a Vera.

– Bom dia – digo, ao atender.

– Olá, linda. Tudo bem?

– Tudo e contigo?

– Também. Olha, era para te pedir se posso ir contigo para o jantar. É que o meu carro está na oficina e ir a pé não é a melhor opção. E, para além do mais, os meus pais vão sair mais cedo, eu não vou para lá às 5 horas da tarde marcar lugar.

– Sim, eu posso-te levar, tens é de esperar que vá a casa mudar de roupa e dar tempo de chegar a tua casa.

– Para não estares a vir para aqui de propósito, vou ter contigo ao trabalho, os meus pais levam-me. Assim não fico a apanhar uma grande seca e ainda te ajudo a escolher o look.

– Por mim está tudo bem, eu saio às 18h, terás de esperar um bocado.

– Sem problemas! Então até logo. Beijinhos – despede-se ela.

– Até logo, beijinhos.

E agora tenho de ir para o trabalho, que já está na hora. Chego, troco de roupa e estou a ir para a sala onde temos os produtos de limpeza quando o Marcos aparece.

– Bom dia, minha jovem.

– Bom dia, meu velho – respondo.

– Fiquei ofendido.

Rimos os dois.

­– O Santiago disse que queria falar contigo. Pediu-me para te dizer, se te visse – diz ele.

– O quem quer o quê? Pronto, estou lixada, já sei.

– Só sabes se fores. E convém ires saber o que é que ele quer.

– Deseja-me sorte para o ir enfrentar.

– Tem calma, vai correr bem – diz ele, dando-me um beijo na testa.

Acho engraçado porque nós já nos damos tão bem e conhecemo-nos há tão pouco tempo. Não sei, foi algo que aconteceu muito naturalmente.

Dirijo-me ao escritório do chefinho e bato à porta.

– Entre – ouço, vindo lá de dentro.

Entro, mas com muito receio.

­– O Marcos disse-te que queria falar contigo?

Amar em Pecado (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora