A semana passa, o fim de semana é tranquilo e a Beca continua triste, o que me preocupa. Eu não consigo vê-la sofrer. Desde pequenina que eu e a minha mãe tentámos que ela não desse pela falta do pai. Ela nunca o chegou a conhecer... Viu algumas fotos dele nos álbuns, mas não é a mesma coisa. Quando ela entrou para a escola foi mais difícil porque questionava várias vezes o porquê de não ter um pai, como os outros amigos. E nós sempre tentámos desviar um pouco o assunto, para que ela não sofresse muito. Dizíamos que ele trabalhava muito longe e por isso não tinha tempo de vir a casa. Claro que com o passar dos anos ela foi percebendo que algo não estava bem, mas deixou de perguntar. Muitas vezes partia-me o coração ouvi-la chorar por causa dele. E agora volto a sentir-me mal por a ver assim e não poder fazer nada. E, o pior, é que ela ainda não consegue falar comigo, para eu a tentar ajudar. Espero que seja só uma questão de tempo.
Bem, mas hoje é dia de voltar para o trabalho. Combinei com os amigos do costume ir jantar fora hoje. Há algum tempo que já não estamos juntos, desde a saída ao shopping que não voltei a falar com a Vera e a Salomé. Há muita conversa para pôr em dia. E os rapazes também vão, claro, ninguém pode faltar hoje, até porque nem sempre conseguimos marcar um jantar assim.
O meu telemóvel toca. É a Vera.
– Bom dia – digo, ao atender.
– Olá, linda. Tudo bem?
– Tudo e contigo?
– Também. Olha, era para te pedir se posso ir contigo para o jantar. É que o meu carro está na oficina e ir a pé não é a melhor opção. E, para além do mais, os meus pais vão sair mais cedo, eu não vou para lá às 5 horas da tarde marcar lugar.
– Sim, eu posso-te levar, tens é de esperar que vá a casa mudar de roupa e dar tempo de chegar a tua casa.
– Para não estares a vir para aqui de propósito, vou ter contigo ao trabalho, os meus pais levam-me. Assim não fico a apanhar uma grande seca e ainda te ajudo a escolher o look.
– Por mim está tudo bem, eu saio às 18h, terás de esperar um bocado.
– Sem problemas! Então até logo. Beijinhos – despede-se ela.
– Até logo, beijinhos.
E agora tenho de ir para o trabalho, que já está na hora. Chego, troco de roupa e estou a ir para a sala onde temos os produtos de limpeza quando o Marcos aparece.
– Bom dia, minha jovem.
– Bom dia, meu velho – respondo.
– Fiquei ofendido.
Rimos os dois.
– O Santiago disse que queria falar contigo. Pediu-me para te dizer, se te visse – diz ele.
– O quem quer o quê? Pronto, estou lixada, já sei.
– Só sabes se fores. E convém ires saber o que é que ele quer.
– Deseja-me sorte para o ir enfrentar.
– Tem calma, vai correr bem – diz ele, dando-me um beijo na testa.
Acho engraçado porque nós já nos damos tão bem e conhecemo-nos há tão pouco tempo. Não sei, foi algo que aconteceu muito naturalmente.
Dirijo-me ao escritório do chefinho e bato à porta.
– Entre – ouço, vindo lá de dentro.
Entro, mas com muito receio.
– O Marcos disse-te que queria falar contigo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...