Capítulo 27

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Passou quase uma semana desde que foi lançada a "bomba". Já é sexta-feira e as coisas continuam na mesma. A minha mãe continua no hospital, eu tenho tratado das coisas em casa e não voltei a falar com o Santiago, além do estritamente necessário sobre o trabalho. É difícil encará-lo. E este é só mais um dia de tortura a começar.

Chego ao trabalho e sigo a minha rotina habitual da última semana: entro, tiro um café e vou direta para a minha secretária, onde passo o dia inteiro, tentando não falar com ninguém. De certo modo, sinto-me envergonhada pelo que aconteceu entre mim e o Santiago. Apesar de ninguém saber que somos irmãos, sinto-me irritada comigo mesma.

– Alice, temos de falar – diz o Santiago, ao chegar.

– Não posso, estou aqui a tratar de uns documentos de uns clientes que têm umas coisas – digo, a tentar arranjar uma desculpa para não falarmos.

Sou péssima a mentir.

– É um assunto urgente. Sobre a empresa.

– Está bem – respondo.

Vamos para o escritório dele.

– Temos de ir ao Brasil – diz o Santiago, olhando para a rua pela janela.

– Desculpa?! Temos?

– Sim. Há um contrato para assinar com uma empresa brasileira, uma parceria. Os meus pais disseram-me que, a partir de agora, vou só eu tratar dos negócios. Em breve ficarei com a direção da empresa e vou-me "habituando".

– E porque é que eu tenho de ir? – pergunto.

Ele vira-se para mim.

– Porque eu não posso ir sozinho. E, numa situação assim, és tu que vais comigo. Acho que isso estava no teu contrato, que poderias ter de fazer viagens de negócios.

– E tenho mesmo de ir, não podes levar outra pessoa qualquer?

– Alice, é assim que as coisas funcionam. Isto é uma viagem de negócios, não é nenhuma lua-de-mel ou viagem romântica. Vamos como profissionais.

– Eu não me estava a referir a isso...

Por acaso também estava, mas não te interessa.

– Eu sei que a tua mãe está no hospital e tens de tomar conta da tua irmã, mas já falei com os meus pais e também falei com a tua mãe e a tua irmã – diz ele.

– Quando é que vamos? – pergunto.

– Amanhã de manhã. Hoje sais à hora de almoço e podes ir visitar a tua mãe e fazer a mala. Sei que é difícil deixar a tua família para trás, mas ficas à distância de uma chamada. A Rebeca fica com os meus pais e eles tratam de tudo. Além do mais, a tua mãe já está muito melhor e os meus pais também te vão sempre mantendo informada do que a médica lhes disser. Não serão muitos dias, na segunda vamos conhecer a sede deles e terça ou quarta o contrato deve ser assinado.

– Pronto, então vou organizar as coisas, para deixar tudo feito de manhã – digo.

– Desmarca também as reuniões todas que tenho para a semana. Como não sei quando voltamos, é mais fácil não ficar nada marcado.

Esta vai ser a viagem mais estranha de sempre. Se, por um lado, vou realizar o meu sonho de ir ao Brasil, por outro, vou estar com a última pessoa com quem me apetece estar neste momento. Que, por sinal, é também a pessoa com quem mais quero estar. Eu já não me percebo a mim própria...

Começo a pensar naquilo que devo pôr na mala, sem saber ao certo se devo levar muita ou pouca roupa. Bem, se aqui á verão, lá será inverno, certo? Não? Será que está calor ou frio? Levo camisolas de manga comprida ou de manga curta? Raios! Eu nem sei para que cidade vou, não faço ideia do que vou fazer e nem sei como é que é suposto falar com o Santiago. Haverá coisas a dizer ou coisas a não dizer?

Amar em Pecado (Concluído)Where stories live. Discover now