Chego a casa umas horas antes do horário de saída e encontro a minha mãe em casa, na cozinha. Esqueci-me que era dia de folga dela...
- Então, filha, já por casa? - pergunta ela, ao ver-me chegar.
- Pois, parece que sim... - respondo, ao dar-lhe um beijo na cara.
- Mas tu hoje não saías só à noite?
- Falas bem, "saía" - digo, fazendo o gesto das aspas com as mãos.
- Não me digas que discutiste com mais algum cliente e foste despedida, outra vez.
Porque é que haveria de ter discutido? Pensando bem... Não seria nenhuma novidade...
- Não, desta vez foi com o meu patrão... - confesso, ao sentar-me numa cadeira da cozinha.
- Mas será que tu não aprendes, Alice? Pensei que este já fosse para ficar - diz ela, ao sentar-se na cadeira à minha frente.
- Mãe, ele tentou pôr a mão por baixo da minha blusa.
- Então foste tu que te despediste? - pergunta a minha mãe, um pouco confusa...
- Não, dei-lhe um estalo e fui despedida. Mas era o que teria feito, caso ele não se tivesse adiantado.
- Mas estás bem?
- Sim, mãe, ele não conseguiu nada. Agora não sei é para onde vou...
- Com esse feitio, nem sei como já conseguiste trabalhar em tantos lados - brinca ela, ao acariciar-me a mão.
Eu reviro os olhos, levanto-me e vou até ao quarto, para mudar de roupa.
Para variar, ao chegar ao quarto, vejo a roupa da Rebeca espalhada pela cama dela e, como não chega, a minha também está cheia. Como a casa só tem dois quartos, nós dormimos no mesmo. Não é muito grande, mas o quanto basta. À direita estão as nossas duas camas, separadas por uma mesa de cabeceira e com mais uma de cada lado, encostadas à parede. Em frente está a janela, com uma secretária por baixo, e, na parede oposta às camas, está o roupeiro, em toda a extensão. Apesar de, às vezes, querer um pouco mais de privacidade, penso que foi esta partilha, desde pequenas, que nos tornou ainda mais próximas.
Mudo a minha roupa e trato de arrumar este quarto, até porque não consigo deitar-me para relaxar e pensar num novo emprego. O nosso armário é enorme, mas mais de metade é só roupa da minha irmã.
- Se a roupa dela se convertesse em vontade de arrumar, tinha descanso o resto da minha vida! - resmungo, sozinha no quarto.
As pessoas dizem que eu tenho mau feitio, mas eu chamo-lhe antes "feitio especial". Está bem, talvez também seja um pouco de mau feitio... Mas só um pouco!
Quando acabo, deito-me e acabo por adormecer, com o cansaço. Não dou pelas horas e acordo com um grande berro aos meus ouvidos.
- Acorda dorminhoca! - grita a Rebeca, ao saltar para cima de mim.
- Se não sais daí, amanhã apareces na escola com um olho negro... - ameaço.
- Adoro esse teu bom humor quando te acordo - diz, ao saltar para o chão.
Ela sabe que eu detesto que me acordem, principalmente com barulhos altos. Como gosta de me chatear está sempre a fazê-lo. Irmãs mais novas...
- Anda, o jantar está pronto - informa a Rebeca.
Jantar? Mas que horas são? Olho para o relógio e percebo que dormi demasiado tempo. São 20 horas. Levanto-me, passo pela casa de banho e vou para a cozinha.
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Amar em Pecado (Concluído)
RomanceAlice Freitas, de 23 anos, está novamente à procura de emprego, depois de ser despedida pela sexta vez, em apenas 5 anos. Devido ao desaparecimento do seu pai, Alice ajuda a mãe nas contas e tenta proporcionar o melhor à sua irmã mais nova, Rebeca. ...