01| O gajo de cabelo azul

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"Tu. Ligaste. Ao. Michael?", Indaguei lentamente, estremecendo os dentes num rugido zangado e abafado pela respiração quente que provinha da minha boca, "Tu ligaste-lhe!?"

A minha mãe olhou para mim com um ar aterrorizado, parecendo confusa e ao mesmo tempo preocupada com o meu súbito ataque de raiva. Pressionei as palmas das minhas mãos no chão e fiz força para me levantar da minha ridícula posição, erguendo-me desajeitadamente, tendo de me agarrar ao tecido da blusa da senhora que havia cometido um tremendo erro em ligar ao rapaz que eu mais desprezava neste mundo.

Assim que terminei a complicada tarefa de me erguer, limpei os joelhos, que haviam ficado empoeirados. Pousei as mãos na cintura e comprimi os lábios, franzindo a testa numa careta zangada. A minha mãe continuava a olhar para mim com um ar confuso, parecendo alheia a esta situação.

"Cloe, oh por favor...", a mulher revirou os olhos, parecendo impaciente, "É o Michael! Vocês eram os melhores amigos!", a mulher argumentou, elevando a sua voz num tom desesperado.

"Heeey!", Abanei a cabeça como uma diva, afastando o meu extenso cabelo para trás das costas, "Eu só andava com o Michael porque não tinha mais ninguém! Eu sempre o odiei!", Contra-argumentei, subindo igualmente a minha voz.

Quando Elsa se preparava para cuspir uma resposta qualquer à minha resmunguice, o som de um motor estalou da rua, fazendo-me suspirar com desânimo. A mulher que me trouxe ao mundo logo mudou as suas feições, abrindo um largo sorriso e correndo como uma louca para a porta, "Ele chegou!", ela cantarolou, esfregando as mãos.

"Oh Deus salva-me...", olhei para o teto, esperando uma iluminação divina ou algo que me tirasse daquele filme rasca. Bufei para o ar e arrastei-me com desagrado até ao hall de entrada, observando a minha progenitora com uma expressão psicopata no rosto. "Mãe, por favor...", Supliquei, esperançosa de a fazer mudar de ideias, coisa que nunca iria acontecer.

A mulher ignorou os meus pedidos, esperando ansiosamente que a campainha tocasse. Assim que o som estridente se fez ouvir, ela não tardou a abrir a porta, sorrindo loucamente ao rapaz absolutamente atraente que se encontrava plantado á sua frente... espera?

"Michael?", Abri a minha boca num perfeito 'o', demonstrando o meu espanto. Cerrei as sobrancelhas e empurrei a minha mãe para trás, não me importando se a magoava ou algo do género. Inclinei-me sobre o rapaz e franzi o nariz, examinando-o detalhadamente. "Tu não és o Michael!", Gritei, apontando o meu dedo indicador bem no meio da sua cara pálida. O rapaz esboçou um sorriso largo, parecendo divertido com toda aquela situação. "Mãeeee! Onde raios está o Michael!?", Virei-me para trás, colocando as mãos sobre a cintura, olhando para a mulher de forma autoritária.

"Querida...", a mulher sorriu docemente, fazendo sinal ao rapaz com cabelo azul para entrar, "Este é o Michael..."

"Olá Cloe!", Ele cumprimentou, deixando-me a pairar com o som da sua voz rouca e melodiosa. Abri a minha boca até ser impossível abri-la mais e abanei freneticamente a cabeça, negando-me a mim própria que aquele anjo em forma de pessoa era o mesmo Michael com quem eu tinha convivido nos meus anos de inocência.

Corri desenfreadamente até ao outro canto da sala, encostando-me à parede de forma aterrorizada, "Tu não podes ser o Michael!", engoli em seco, arregalando os olhos, "O Michael era gordo e tinha cara de alforreca. Oh e o Michael tinha uma franja do tamanho da Torre Eiffel! Oh, oh e o Michael vestia-se como um travesti!", Balbuciei, sendo analisada com preocupação pelas duas pessoas presentes na sala.

"Ela está bem?", Ouvi o rapaz perguntar à minha mãe, sussurrando baixinho, "Quero dizer... ela sofreu algum trauma ou assim?"

"Eu peço imensa desculpa, Michael", a mulher revirou os olhos mais uma vez, lançando-me um olhar odioso, "Ela está só em choque...", a mulher desculpou-se, parecendo envergonhada e desiludida com a minha pessoa.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now