18| Estranha, querida conversa

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Naquele momento só me apetecia voltar para a praia e ficar lá a morrer. Talvez uma onde viesse e me levasse ou algum violador me raptasse, porém, eu já não queria saber o que me acontecia, só queria escapar às bocas foleiras das nossas queridas mães. Desapertei o cinto e abri a porta, caminhando até ao exterior da garagem. Podia simplesmente entrar pela porta das traseiras, contudo, até isso parecia difícil. Decidi apenas caminhar pelo jardim de Karen, inalando o agradável aroma das suas flores.

Enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco de ganga e sentei-me nas escadas, soltando profundos suspiros de aborrecimento. Não tinha a chave para abrir a porta e recusava levantar-me para ir novamente até à garagem. No entanto, até se estava ali bem. O sol não estava tão forte, o tempo não estava tão quente e existia uma brisa que refrescava a minha pele. Poderia ficar ali a tarde toda, contudo, se bem me lembro, existiam insetos capazes de sugar todo o meu sangue se eu permanecesse ali durante muito tempo.

"Estás bem, Cloe?" Rodei a cabeça e encarei Michael, que se inclinava para me espreitar atrás dos arbustos. Reparei que os seus lábios estavam mais vermelhos que o habitual e dei por mim a pensar no quão bonitos eram. "Estiveste calada durante toda a viagem. Isso não é normal, vindo de ti."

Entrelacei os meus dedos e estiquei os braços, observando-os. Quando os voltei a pousar no meu colo, baixei a cabeça, fitando as formigas que passeavam por ali. "Estou cansada, acho eu.", respondi.

"Tu não pareces cansada.", Mike caminhou até mim e sentou-se a meu lado, mantendo alguns centímetros de distância entre os nossos corpos. Quando ele esticou as pernas, não pude evitar fixar os meus olhos nelas. "Tu pareces...", ele deteve-se, ficando com um ar pensativo. "Pareces em baixo."

"Em baixo?", sorri.

"Sim, em baixo.", ele repetiu. Desta vez virei a cabeça para o observar, fixando os nossos olhos, e, devo dizer que eles eram bastante fascinantes. Umas vezes eram azuis, outras verdes e, por vezes, cheguei mesmo a vê-los cinzentos mas, da maneira como o sol lhes incidia naquele momento, eles pareciam uma mistura de todas essas cores. Comparados com os meus olhos azuis pálidos, podia dizer que Michael tinha os olhos mais bonitos de sempre.

"Hm, eu sinto-me bem.", encolhi os ombros, voltando a encarar as suas pernas. Michael riu-se, baixando depois a cabeça. "O que foi?"

"Estás assim por causa da Abigail?"

"Não.", fui rápida a responder. "Michael, eu estou bem."

Ele abriu a boca para falar, porém, foi interrompido pela porta, que se abriu. "Eu disse-te que tinha ouvido barulho aqui fora!" Ambos olhámos para trás, encontrando Elsa e Karen, que pareciam mais preocupadas em discutir o que tinham ouvido do que em perceber o que fazíamos nós sentados à frente da entrada a conversar.

"Olá mães.", dissemos em coro. As duas olharam para baixo e arregalaram os olhos na minha direção. Senti-me como uma espécie rara de extraterrestre naquele momento, mas depois lembrei-me que o meu cabelo estava azul e que nenhuma das mulheres sabia desse facto.

"O que é que tu fizeste ao cabelo!?", Elsa puxou-me para dentro de casa, tentando examinar o meu couro cabeludo. Ela apalpou, puxou e enrolou o meu cabelo com as suas mãos, fazendo com que vários grunhidos escapassem dos meus lábios. "Oh meu deus, eu adoro essa cor!"

"Pois, obrigada. Agora larga.", afastei-me dela, escondendo-me atrás de Michael. Karen olhava para mim com uma expressão de choque e subitamente lembrei-me do que Michael me dissera sobre a sua mãe não ter aprovado quando ele pintou o cabelo. Porém, apesar de viver sobre o seu teto, era apenas Elsa com quem eu tinha de me preocupar neste momento.

"Apesar de se notarem as raízes e de não estar muito homogéneo, até te fica bem.", a minha progenitora prosseguiu com os elogios. Forcei um sorriso como agradecimento, amaldiçoando Michael por me ter feito isto. "Sempre pensei que não gostasses desse estilo mas fico feliz por teres mudado de ideias. Saíste à mãe!", Elsa exclamou.

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