34| Fuga louca de loucos em fuga

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Respirei de alívio assim que Michael travou o carro, estacionando-o à frente do portão da casa do seu melhor amigo. A viagem demorara mais do que eu imaginara e, a avaliar pela impaciência que fervilhava no meu sangue, qualquer provocação ou comentário menos agradável teria consequências graves para o idiota que se atrevesse a abrir a boca. E com idiota eu quero dizer Michael e Luke, o casal maravilha. Em silêncio, Michael e eu saímos do veículo, caminhando depois até à porta de madeira. O rapaz pressionou o dedo na campainha e encostou metade do seu corpo à parede, irrequieto.

"É bom que ele esteja cá.", ouvi-o murmurar, como se a presença de Luke fosse um bem essencial à nossa vida. E talvez até fosse, porque, a) ele dar-nos-ia abrigo, b) iria aturar-nos, c) eventualmente oferecer comida, e por fim, mas não menos importante, d) Michael não consegue viver sem ele.

Não foram necessários muitos minutos de espera para que a porta à nossa frente fosse aberta e eu desatasse às gargalhadas. Luke, charmoso como sempre e imaculado na sua onda de sensualidade, apareceu-nos à frente com um avental cor-de-rosa atado à volta da cintura e umas luvas de borracha da mesma cor coladas às mãos. Das duas uma: ou o loiro possui um poder telepático único que lhe permite aceder a informações mórbidas como os fétiches de Michael, ou então um dos seus hobbies é ser uma fada do lar bem comportada. Cá entre nós, eu penso que a hipótese do fétiches é muito mais provável.

"O MEU DIA ACABOU DE MELHORAR!", debrucei-me em gargalhadas, sem conseguir controlar os sons estranhos que me saiam do nariz. "Posso tirar-te uma fotografia?", ergui o meu telemóvel no ar, mordendo o lábio com o objetivo de cessar os risos.

"Se calhar viemos em má altura...", Michael murmurou, fitando o seu melhor amigo com um ar muito perturbado. Luke só revirou os olhos, começando por retirar as luvas. "Acho que não quero saber o que estavas a fazer."

"Eu estava a lavar a loiça.", o rapaz de olhos azuis bufou, com um ar zangado. "Mas qual é o vosso problema?"

"Meu, desculpa... eu não sabia que tu...", Michael abanou freneticamente as mãos, atrapalhado com a situação. "Primeiro foi a história do tutu e agora andas com um avental cor-de-rosa e... eu pensava que nós não tínhamos segredos um com outro.", engasgou-se. O seu rosto adotou um tom vermelho. "Eu não tenho nada contra mas... nunca pensei que... jogas na outra equipa?"

"O quê?", Luke franziu o sobrolho. "Mas que merda? Eu só estava a lavar a loiça porque estou de castigo. Lembras-te... assassinei um pinguim, passei a noite fora de casa, bebi...", Luke esclareceu, de olhos bem arregalados. "Tu estás doido?"

"Oh.", Michael virou a cabeça na minha direção e fitou-me com um semblante confuso, como se estivesse à espera que eu confirmasse aquilo que o seu melhor amigo acabara de dizer. Contudo, reagindo ao meu silêncio estratégico, Michael desatou às gargalhadas, como se tudo isto tivesse sido fruto de uma brincadeira inofensiva. "Claro, claro que sim!", levantou os braços no ar, "Que estupidez, como é que eu alguma vez podia achar que tu...", calou-se, observando o loiro com um ar muito estranho. "Venha daí um abraço!"

E os dois rapazes abraçaram-se; Luke continuando no seu disfarce de dona de casa, e Michael, o rapaz constrangedor que no fim de contas ficou desiludido com a heterossexualidade do seu melhor amigo. E eu a segurar na velinha, claro.

"Então mas o que é que vocês vieram cá fazer, afinal?" Luke perguntou, encaminhando-nos até ao interior da habitação. Ele desatou o laço que mantinha o avental seguro na sua cintura e pousou-o em cima da bancada da cozinha, assim como as luvas.

"Somos fugitivos em ação!", respondi rapidamente, não dando oportunidade ao Michael de se manifestar. "O meu pai voltou lá da vidinha miserável dele e eu estou a meio de uma zanga com a minha mãe, portanto, a casa do Michael já não é um sítio pacífico para se viver."

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now