04| Temas Constrangedores

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Depois de dormir uma pequena sesta e tomar um longo banho, acabei por sair do quarto, pouco certa daquilo que poderia eventualmente encontrar no andar de baixo. Pousei a mão no corrimão das escadas e suspirei baixinho, controlando a vontade de desatar aos gritos em busca de pessoas.

Desde aquele pequeno-nada-pequeno incidente com Michael, que nunca mais ouvi falar na sua pessoa. Ele não tornou a aparecer no meu quarto e, do andar de baixo, nem um único ruido se fez ouvir. Portanto, eu não fazia ideia do que estaria a acontecer. Então, quando eu me deparei com uma sala deserta, supus que se encontrassem todos na cozinha. Ou lá no raio que os partisse.

"Mas ela vai adaptar-se, Elsa!", Consegui ouvir através da porta. Era uma voz feminina familiar mas, naquele momento, não consegui associá-la a nenhum corpo.

"Sinceramente?", Reconheci imediatamente a voz aguda da minha mãe, "Ela ainda agora chegou e já causou problemas no supermercado, vê lá bem!". Percebi que falavam de mim e amaldiçoei imediatamente aquelas criaturas.

Na tentativa de ser discreta, coloquei-me em bicos dos pés, tentando rodar a maçaneta. Mordi o lábio e concentrei-me na difícil tarefa de não fazer barulho — não sou propriamente a pessoa mais silenciosa. Depois de alguns segundos, cheguei à conclusão que era humanamente impossível rodar aquele objeto velho sem provocar qualquer ruido incriminatório. Por isso, num ato extremamente inteligente, debrucei-me sobre a porta, fechei o olho direito, e espreitei através da fechadura.

A princípio vi algo desfocado mas, quando pisquei incessantemente o olho, consegui ver claramente duas mulheres sentadas à mesa. Infelizmente, só consegui reconhecer a minha mãe. A outra mulher encontrava-se de costas para a porta, logo só lhe vi os cabelos loiros.

"O que estás a fazer?"Dei um pulo assim que uma voz rouca se fez ouvir atrás de mim. Arfei com o susto e virei-me lentamente para trás, soltando um breve suspiro durante o processo.

"É a segunda vez hoje que fazes essa maldita pergunta!", Rosnei entre dentes, encarando com alguma irritação o rapaz de cabelo azul que se encontrava à minha frente. Depois de uma pausa em silêncio dei por mim a observar o seu rosto, reparando que este já havia sido limpo. "Então...?", Deixei a frase em aberto, dando alguns passos até ao centro da sala.

"Para que conste, nunca mais partilho comida contigo!", Michael exclamou, do nada. Ele acelerou o passo e atirou-se sobre o sofá, ocupando todo aquele espaço. Assim que cheguei junto dele, mirei-o com atenção, contendo o sorriso que queria invadir as minhas feições.

"É um favor que me fazes.", Retorqui, sorrindo-lhe com ironia. Mordi o lábio e tentei arranjar um espaço entre as suas pernas onde me pudesse sentar e, assim que me vi suficientemente confortável, deixei que a minha cabeça tombasse sobre uma almofada.

"Mas vá, o que estavas a fazer?", Ele voltou a perguntar, retirando do bolso um telemóvel. Os seus olhos fixaram-se no ecrã daquele aparelho, deixando-me observá-lo com mais atenção, continuando intrigada com a sua mudança.

"Estava a tentar ver pela fechadura.", Franzi o nariz e Michael soltou um risinho parvo, levando-me a cerrar as sobrancelhas. "Ew. Que riso mais estúpido, Michael!", Exclamei.

"O quê?", Michael retirou os olhos do aparelho, fixando-os nos meus. Ele parecia ligeiramente confuso e, por momentos, interroguei-me se ele teria ouvido aquilo que eu acabara de dizer.

"Tens um riso estúpido.", Revirei os olhos, sendo novamente ignorada pelo rapaz, que entretanto voltara a focar-se no ecrã do telemóvel. Ele mexia desenfreadamente os seus dedos, parecendo concentrado. "Mas o que raio estás a fazer, seu anormal!?", Indaguei, farta de estar a falar para o boneco. Sem perder tempo, debrucei-me sobre o seu peito, alcançando facilmente o aparelho, retirando-o das suas mãos quentes. Michael arregalou os olhos e ergueu o seu tronco, murmurando obscenidades.

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now