21| Mas tu não és o Luke

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Sentei-me no sofá enquanto mantinha o computador portátil de Michael apoiado no meu colo. Estava curiosa com o que os meus amigos de Londres – os únicos que eu tinha – andavam a fazer, além de que estava ansiosa por lhes mostrar o meu novo visual. Antes do almoço, quando Michael ainda dormia, peguei no meu telemóvel e fiz uma sessão fotográfica, e agora, preparava-me para mudar a minha imagem de perfil em todas as redes sociais que possuía, mostrando assim o meu recente cabelo roxo. Não tinha medo do que as pessoas poderiam dizer, até porque agora eu sentia-me bem comigo própria, apesar de este não ser o meu estilo predileto. Além disso, os meus amigos em Londres sempre foram muito abertos à mudança e a visuais alternativos como este. Ainda tentava perceber como me dava com eles, no entanto, estava grata por isso.

Michael estava sentado na poltrona a meu lado, fazendo zapping intensivo com o comando da televisão. Ele não parecia minimamente interessado em ver programas da tarde ou documentários aborrecidos acerca de acontecimentos históricos. Pelo canto do olho conseguia ver a sua expressão aborrecida e a forma como ele se esforçava para inclinar o corpo de modo a espreitar para o ecrã do computador, tentando ver o que eu fazia.

"Sim?", perguntei, com a voz arrastada pela concentração. Conversava com uma amiga no chat e estava naquele exato momento a contar-lhe tudo o que me tinha acontecido desde que chegara a Austrália, há exatamente uma semana. Parecia ter passado uma eternidade, para ser honesta.

"Desculpa.", Michael bufou, voltando a olhar para a televisão. "É só que isto é tão aborrecido. Falta uma semana para começarem as aulas e ainda não fizemos praticamente nada de jeito desde que chegaste."

"Eu é que me devia estar a queixar.", comentei, mantendo os olhos fixos no ecrã luminoso. "Há exceção destas duas semanas, não tive férias nenhumas. Sabias que em Londres as aulas já começaram há pelo menos quatro semanas? Tecnicamente quando saí de lá já tinha começado um ano letivo."

"Sim, sim. Eu sei.", Michael passou a mão pelos seus recentes cabelos pretos e suspirou, atirando o comando da televisão para cima do sofá onde eu me encontrava sentada. Foi por um triz que ele não me acertou. "Mas isso não interessa. As minhas férias de verão foram uma merda porque tive de trabalhar. Prometi a mim mesmo que iria aproveitar estas férias de Natal mas, até agora, não fiz quase nada de interessante.", ele disse, frustrado. "E depois quando soube que tu vinhas planeei uma data de coisas, mas parece que resultaram melhor na minha cabeça do que na realidade.", bufou.

"Pois, desculpa lá se te desiludi.", abanei a cabeça. "Pelo menos tiveste férias de verão... eu nem isso. No hemisfério norte ainda era inverno.", revirei os olhos.

"E agora o nosso verão está a acabar.", ele murmurou, ignorando-me. "Isto é uma merda." Olhei para Michael quando se levantou e vi-o desaparecer da sala, mas tentei não dar importância. Ele não é o único que está frustrado.

Continuei então a teclar no computador, tentando resumir da melhor forma todos os acontecimentos que tinham acontecido na minha vida desde que aterrara neste país, começando pelo dia em que fui expulsa de um supermercado graças à grande ideia de Michael, até ao dia de ontem, em que pintei pela primeira vez o cabelo de uma cor berrante sem ter sido obrigada a fazê-lo. Acabei também por contar a uma das minhas melhores amigas a história do beijo, até porque se eu guardasse isto para mim acabaria por ir parar a um manicómio. Recebi conselhos um pouco estranhos vindos da rapariga a quem confessei estas coisas, no entanto, resolvi guardá-los na minha memória, não fosse num dia de desespero eu precisar de os usar.

Porém, muitos minutos depois, desliguei o computador quando a campainha tocou. Não havia sinal de Michael desde que resolvera desaparecer da minha vista e, provavelmente, enfiar-se no sótão a ouvir música de satanás. Olhei à minha volta, esperando que ele se dignasse a aparecer para abrir a porta, contudo, isso parecia não vir a acontecer tão cedo; por isso vi-me sem solução quando a campainha voltou a tocar, passando assim a tornar-se num remix atabalhoado de sons agudos irritantes. Levantei-me com um grunhido, pousando o computador em cima da mesa de centro. Resmunguei durante o caminho até à porta e rodei a maçaneta com uma expressão chateada no rosto. No entanto, não posso negar que fiquei com cara de parva quando vi a beleza do rapaz que se encontrava à minha frente, com um sorriso pretensioso nos lábios.

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