13| Responde à mamã

788 105 15
                                    

Depois de as nossas mães largarem a bomba, senti os danos colaterais abaterem-se sobre mim. Não tinha ficado muito contente por partilhar quarto com Michael, e isso devia, com certeza, notar-se na minha expressão contrariada enquanto carregava a mala chamuscada pelas escadas acima, arrastando-a miseravelmente. Praguejei para mim própria enquanto executava tais movimentos, amaldiçoando-me por ter tanta roupa dentro daquela mala e não a ter arrumado devidamente num armário assim que chegara à Austrália, deixando-as arder com o resto da minha vida. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu, por isso aqui estava eu, a fazer músculos.

"Podias ajudar.", Rosnei a Michael, que assistia sentado na superfície plana onde as escadas terminavam. Ele levantou-se com uma expressão carrancuda no rosto e virou-me costas.

"É melhor não ou ainda te empurro pelas escadas abaixo." Ouvi-o murmurar, enquanto passava a mão pelo cabelo, puxando-o para trás. Revirei os olhos e puxei a mala para cima do chão alcatifado, suspirando de alívio por ter finalmente chegado ao meu destino.

"Pronto, já está." Sorri com orgulho e retomei fôlego, procurando um sítio agradável para arrumar as minhas coisas. Pousei as mãos na cintura e observei o pequeno lounge ao qual Michael insiste chamar de Caverna Masculina, insatisfeita com a falta de arrumação e, sobretudo, com o cheiro intenso que evidenciava a presença de um animal ali. "Vou abrir uma janela. Este sítio precisa de respirar."

Desloquei-me até à larga janela redonda e empurrei o vidro para trás, deixando entrar a quente brisa que levantou os meus cabelos. Depois, voltei a caminhar para perto da mala de viagem preta, decidindo que precisava de um espaço apenas meu.

"Michael? Preciso da tua ajuda!" Sentia-me a exasperar mas, ainda assim, tentei manter a calma. Reparei que a porta do seu quarto falso estava fechada e, numa fração de segundos, uma gravação de um homem aos gritos invadiu o espaço, deixando-me boquiaberta com o tipo de música que o alforreca ouvia.

Abri a porta de madeira bruscamente, deparando-me com um Michael deitado na cama. Os seus olhos rapidamente encontraram os meus e um suspiro impaciente escapou da minha boca. Dirigi-me até à aparelhagem e carreguei num botão aleatório na esperança de acabar com o barulho infernal que de lá saía, mas, por ironia do destino – ou talvez azar –, acabei por mudar a faixa, reproduzindo uma música ainda pior que a anterior. Quis enforcar-me por não perceber nada daquelas tecnologias modernas e voltei a carregar noutro botão, desta vez acertando.

"HEY, QUEM TE DEU AUTORIZAÇÃO PARA ENTRAR!?" Michael berrou, levantando-se agilmente da cama. O meu corpo estremeceu com o tom da sua voz e engoli em seco, assustada com o que ele poderia eventualmente fazer-me. Estamos sozinhos. Num quarto. Vou ser violada. "E DESLIGAR A MÚSICA? QUEM DISSE QUE PODIAS DESLIGAR A MÚSICA!?"

"Baixa lá a voz. Já basta este barulho que tu ouves." Sacudi a cabeça, tentando afastar-me de Michael, que se aproximava a passos largos de mim. "Parecem animais no matadouro. Ia ficando surda com a gritaria!"

"Sai daqui!" Michael ordenou, apontando um dedo na direção da porta. "Este é o meu quarto e eu não vou partilhá-lo contigo."

"Oh, eu vou portar-me bem. Prometo." Mostrei-lhe um sorriso, ironizando a minha atitude com uma voz demasiado aguda. Começava a perceber que estar aqui, a invadir-lhe o espaço, era uma coisa vantajosa. Por instantes, quis agradecer às nossas mães por terem tido a brilhante ideia de me mandarem cá para cima e me terem dado, de bandeja, uma forma fácil e económica de irritar o rapaz de cabelos descolorados.

"Não, não vais. Eu conheço-te, Cloe.", O rapaz arregalou os olhos, gesticulando à medida que proferia cada palavra. "Tu vais aproveitar para me infernizar o juízo. Tu sabes que eu odeio que me invadam a privacidade. Isto joga a teu favor."

Social Casualty ಌ m.cWhere stories live. Discover now